Ícaro Carvalho
Repórter
Novos investimentos, geração de empregos e milhões
de reais em impostos para o Estado e municípios potiguares. Setor com história
e protagonismo nacional em tempos passados, a mineração no Rio Grande do Norte
tem voltado aos cenários de impulsão com a chegada de novos players e
investimentos maciços em minerais até então não explorados no Estado. Em 10
anos, o setor saltou de R$ 54 milhões em produção beneficiada por ano para R$
257 milhões em 2024, segundo dados da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Econômico (Sedec-RN) e da Agência Nacional de Mineração (ANM). Quando se
observa a produção mineral total, isto é, tanto a produção bruta quanto a
beneficiada, o valor em 2024 atingiu R$ 560 milhões. Aliado a isso, novas
tecnologias e novos minerais em pesquisas prometem ampliar ainda mais os
números do RN.
Entre pesquisas e minerações já consolidadas no
Estado se destacam o início da produção de ouro em Currais Novos, ampliação e
organização de mineradoras tradicionais existentes em cidades como Parelhas e
Equador e pesquisas para minerais críticos e estratégicos em cidades como Santa
Cruz, Sítio Novo, Lagoa de Velhos, Serra Caiada, entre outras. Outro projeto
que está prestes a sair do papel é o Ferro Potiguar, da empresa Fomento do
Brasil, que pretende investir R$ 2,5 bilhões por 16 anos após a obtenção das
licenças, atualmente em fase de avaliação pelo Instituto do Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente (Idema).
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da
Extração de Metais Básicos e de Minerais Não Metálicos do Rio Grande do Norte
(Sindiminerais-RN), Mário Tavares, o Estado tem grande potencial de exploração
de uma série de minérios e tem recebido aumento de investimentos na fase de
pesquisa. O crescimento na mineração do Estado se refletiu na filiação de novas
empresas junto ao Sindiminerais, segundo explica Mário Tavares. De 12 empresas,
o sindicato saltou para 23 associados.
“Atribuímos esse crescimento aos novos entrantes na
produção de minério no Estado. Muita gente começou a produzir, por isso esse
aumento”, explica. “É um momento positivo, com novos players e investimentos,
por exemplo, no lítio, empresas pesquisando tungstênio”, afirma Mário Tavares,
que aponta que o setor deve crescer ainda mais no Estado com as novas
explorações, gerando emprego e renda para o RN.
O presidente da Federação das Indústrias do RN
(Fiern), Roberto Serquiz, aponta que a mineração no Estado vive um cenário
promissor com o aumento da produção beneficiada. “Os investimentos na mineração
e os novos potenciais, tanto identificados quanto em estudo, são relevantes,
como a questão do ouro, o ferro e na área de estudo o lítio, na região de
Equador, além de outros minerais que historicamente já são explorados. Essa
relação na área de agregação de valor é um salto para o RN do ponto de vista de
desenvolvimento”, disse Serquiz.
RN registra aumento na fase de pesquisa
O coordenador de Desenvolvimento Mineral do RN da
Sedec, Paulo Morais, cita que houve aumento considerável na fase de pesquisa no
Estado nos últimos anos, tendo atingido o maior índice em 2023, com R$ 42
milhões em investimentos em pesquisas. É o maior valor desde 2010 e quase o
triplo realizado em 2022, que registrou R$ 17 milhões. Os dados são da ANM.
O representante da Sedec diz que o Governo do Estado
passou a adotar postura diferente em relação ao setor mineral. Segundo ele,
foram desenvolvidas ações e projetos específicos para retomar o protagonismo do
setor no Estado, como por exemplo o Fórum Estadual de Minerais, com cinco
edições já realizadas. Morais cita ainda que o Estado conseguiu atualizar o
mapa de recursos minerais do RN.
“Para se ter ideia, o último mapa de recursos
minerais do RN era de 2006 e na época tínhamos catalogado cerca de mil
ocorrências minerais no Estado. Em 2019, fizemos uma parceria com o Serviço
Geológico do Brasil e foi possível fazermos um estudo mais atualizado dos
nossos recursos e saltamos para mais de 3 mil ocorrências no Estado. O RN
começou a ser visto novamente como um estado importante no setor mineral, é
tanto que cresceu o número de requerimentos de pesquisa, os investimentos em
pesquisa. Para se ter a mina, primeiro tem que ter a pesquisa mineral”,
explica.
Borborema começa a explorar ouro
Uma das mais recentes explorações consolidadas é a
do projeto Borborema, em Currais Novos, Seridó potiguar, para extração de ouro.
Já pujante no setor de mineração desde a década de 40, com a exploração e
exportação de schelitta, o município recebeu investimentos maciços nos últimos
dois anos com a chegada da empresa canadense Aura Minerals, com aportes
previstos em US$ 188 milhões ao longo de todo o projeto. Com atividades
iniciadas em 2023 para mobilização de canteiro de obras, obtenção de licenças e
viabilização da mina de ouro, a Aura Minerals está em fase de Ramp-Up, que é o
momento de iniciar a produção.
“Finalizamos a implantação do projeto em março deste
ano e, desde então, iniciamos o Ramp-Up, que é iniciar a produção. Então
começamos gradualmente a testar os equipamentos, colocando-os para operar e
hoje estamos nesse período de preparação, já produzindo para um período de
produção comercial”, explica Fred Silva, diretor de Operações da Aura
Borborema. “Ocorre extração do ouro dentro dessa fase e depois dela, agora no
fechamento do terceiro trimestre, entraremos no começo da produção comercial,
que é onde a planta atingirá sua capacidade operacional, estável, e começa
mensalmente a entregar os resultados que desenhamos dentro do projeto de
implantação”, aponta.
Segundo a Aura Minerals, o projeto é o maior em
atividade do Estado e um dos maiores do Nordeste. O projeto Borborema consiste
em três concessões de lavra cobrindo uma área total de 29 km², mais o título de
propriedade sobre a área principal do prospecto. A capacidade instalada tem
como perspectiva tratar 2 milhões de toneladas de minério de ouro por ano. A
produção será exportada para a Europa. Ao todo, o projeto gera entre 800 e
1.000 empregos fixos entre funcionários fixos e empresas parceiras. Na fase de
viabilização, foram 2.500 empregos gerados.
“Dentro desse processo temos uma projeção de
entregar algo em torno de 30 mil onças até o fechamento de 2025”, acrescenta.
Cada onça representa 31,10 gramas de ouro. Atualmente, uma onça de ouro
equivale a US$ 3,7 mil.
Um dos diferenciais do projeto, segundo Fred Silva,
é o fato de que há reaproveitamento de água de reúso, isto é, o esgoto que sai
de Currais Novos, cidade que costuma sofrer com a seca prolongada. A água
utilizada pela mineradora vem da região central da cidade e não inclui
efluentes da zona rural. O investimento da Aura Minerals foi da ordem de R$ 48
milhões. “Pela região que estamos, o Seridó Potiguar, esse projeto não conta
com uma abundância de água. Nossa operação foi viabilizada pelo fato de
tratarmos essa água de reúso e a transformarmos em água industrial. Através
dela, conseguimos fazer nossa operação, trazendo desenvolvimento e geração de
emprego e renda para a região. É o principal diferencial no Brasil e no mundo”,
cita.
O tamanho do projeto é significativo. Isso porque a
Aura Minerals está em estudo junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura e
Transportes (Dnit) para fazer uma mudança na BR-226, num trecho de 6km que liga
Currais Novos a Santa Cruz. A empresa separou recursos especificamente para a
remodelação do trecho, aguardando apenas o aval do Governo Federal. “Esse
projeto tem potencial para aumentar nossa produção”, finaliza.
Tesouros do Semiárido
A série “Tesouros do Semiárido” é um conjunto de
matérias que vai abordar os impactos do setor de mineração para a economia e a
indústria extrativa do Rio Grande do Norte, a ser publicada nas edições da
Tribuna do Norte.
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