domingo, 21 de setembro de 2025

Rio Grande do Norte amplia investimentos e produção mineral com chegada de novos players

 


Ícaro Carvalho
Repórter

Novos investimentos, geração de empregos e milhões de reais em impostos para o Estado e municípios potiguares. Setor com história e protagonismo nacional em tempos passados, a mineração no Rio Grande do Norte tem voltado aos cenários de impulsão com a chegada de novos players e investimentos maciços em minerais até então não explorados no Estado. Em 10 anos, o setor saltou de R$ 54 milhões em produção beneficiada por ano para R$ 257 milhões em 2024, segundo dados da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec-RN) e da Agência Nacional de Mineração (ANM). Quando se observa a produção mineral total, isto é, tanto a produção bruta quanto a beneficiada, o valor em 2024 atingiu R$ 560 milhões. Aliado a isso, novas tecnologias e novos minerais em pesquisas prometem ampliar ainda mais os números do RN.

Entre pesquisas e minerações já consolidadas no Estado se destacam o início da produção de ouro em Currais Novos, ampliação e organização de mineradoras tradicionais existentes em cidades como Parelhas e Equador e pesquisas para minerais críticos e estratégicos em cidades como Santa Cruz, Sítio Novo, Lagoa de Velhos, Serra Caiada, entre outras. Outro projeto que está prestes a sair do papel é o Ferro Potiguar, da empresa Fomento do Brasil, que pretende investir R$ 2,5 bilhões por 16 anos após a obtenção das licenças, atualmente em fase de avaliação pelo Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema).

Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da Extração de Metais Básicos e de Minerais Não Metálicos do Rio Grande do Norte (Sindiminerais-RN), Mário Tavares, o Estado tem grande potencial de exploração de uma série de minérios e tem recebido aumento de investimentos na fase de pesquisa. O crescimento na mineração do Estado se refletiu na filiação de novas empresas junto ao Sindiminerais, segundo explica Mário Tavares. De 12 empresas, o sindicato saltou para 23 associados.

“Atribuímos esse crescimento aos novos entrantes na produção de minério no Estado. Muita gente começou a produzir, por isso esse aumento”, explica. “É um momento positivo, com novos players e investimentos, por exemplo, no lítio, empresas pesquisando tungstênio”, afirma Mário Tavares, que aponta que o setor deve crescer ainda mais no Estado com as novas explorações, gerando emprego e renda para o RN.

O presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Roberto Serquiz, aponta que a mineração no Estado vive um cenário promissor com o aumento da produção beneficiada. “Os investimentos na mineração e os novos potenciais, tanto identificados quanto em estudo, são relevantes, como a questão do ouro, o ferro e na área de estudo o lítio, na região de Equador, além de outros minerais que historicamente já são explorados. Essa relação na área de agregação de valor é um salto para o RN do ponto de vista de desenvolvimento”, disse Serquiz.

RN registra aumento na fase de pesquisa

O coordenador de Desenvolvimento Mineral do RN da Sedec, Paulo Morais, cita que houve aumento considerável na fase de pesquisa no Estado nos últimos anos, tendo atingido o maior índice em 2023, com R$ 42 milhões em investimentos em pesquisas. É o maior valor desde 2010 e quase o triplo realizado em 2022, que registrou R$ 17 milhões. Os dados são da ANM.

O representante da Sedec diz que o Governo do Estado passou a adotar postura diferente em relação ao setor mineral. Segundo ele, foram desenvolvidas ações e projetos específicos para retomar o protagonismo do setor no Estado, como por exemplo o Fórum Estadual de Minerais, com cinco edições já realizadas. Morais cita ainda que o Estado conseguiu atualizar o mapa de recursos minerais do RN.

“Para se ter ideia, o último mapa de recursos minerais do RN era de 2006 e na época tínhamos catalogado cerca de mil ocorrências minerais no Estado. Em 2019, fizemos uma parceria com o Serviço Geológico do Brasil e foi possível fazermos um estudo mais atualizado dos nossos recursos e saltamos para mais de 3 mil ocorrências no Estado. O RN começou a ser visto novamente como um estado importante no setor mineral, é tanto que cresceu o número de requerimentos de pesquisa, os investimentos em pesquisa. Para se ter a mina, primeiro tem que ter a pesquisa mineral”, explica.

Borborema começa a explorar ouro

Uma das mais recentes explorações consolidadas é a do projeto Borborema, em Currais Novos, Seridó potiguar, para extração de ouro. Já pujante no setor de mineração desde a década de 40, com a exploração e exportação de schelitta, o município recebeu investimentos maciços nos últimos dois anos com a chegada da empresa canadense Aura Minerals, com aportes previstos em US$ 188 milhões ao longo de todo o projeto. Com atividades iniciadas em 2023 para mobilização de canteiro de obras, obtenção de licenças e viabilização da mina de ouro, a Aura Minerals está em fase de Ramp-Up, que é o momento de iniciar a produção.

“Finalizamos a implantação do projeto em março deste ano e, desde então, iniciamos o Ramp-Up, que é iniciar a produção. Então começamos gradualmente a testar os equipamentos, colocando-os para operar e hoje estamos nesse período de preparação, já produzindo para um período de produção comercial”, explica Fred Silva, diretor de Operações da Aura Borborema. “Ocorre extração do ouro dentro dessa fase e depois dela, agora no fechamento do terceiro trimestre, entraremos no começo da produção comercial, que é onde a planta atingirá sua capacidade operacional, estável, e começa mensalmente a entregar os resultados que desenhamos dentro do projeto de implantação”, aponta.

Segundo a Aura Minerals, o projeto é o maior em atividade do Estado e um dos maiores do Nordeste. O projeto Borborema consiste em três concessões de lavra cobrindo uma área total de 29 km², mais o título de propriedade sobre a área principal do prospecto. A capacidade instalada tem como perspectiva tratar 2 milhões de toneladas de minério de ouro por ano. A produção será exportada para a Europa. Ao todo, o projeto gera entre 800 e 1.000 empregos fixos entre funcionários fixos e empresas parceiras. Na fase de viabilização, foram 2.500 empregos gerados.

“Dentro desse processo temos uma projeção de entregar algo em torno de 30 mil onças até o fechamento de 2025”, acrescenta. Cada onça representa 31,10 gramas de ouro. Atualmente, uma onça de ouro equivale a US$ 3,7 mil.

Um dos diferenciais do projeto, segundo Fred Silva, é o fato de que há reaproveitamento de água de reúso, isto é, o esgoto que sai de Currais Novos, cidade que costuma sofrer com a seca prolongada. A água utilizada pela mineradora vem da região central da cidade e não inclui efluentes da zona rural. O investimento da Aura Minerals foi da ordem de R$ 48 milhões. “Pela região que estamos, o Seridó Potiguar, esse projeto não conta com uma abundância de água. Nossa operação foi viabilizada pelo fato de tratarmos essa água de reúso e a transformarmos em água industrial. Através dela, conseguimos fazer nossa operação, trazendo desenvolvimento e geração de emprego e renda para a região. É o principal diferencial no Brasil e no mundo”, cita.

O tamanho do projeto é significativo. Isso porque a Aura Minerals está em estudo junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) para fazer uma mudança na BR-226, num trecho de 6km que liga Currais Novos a Santa Cruz. A empresa separou recursos especificamente para a remodelação do trecho, aguardando apenas o aval do Governo Federal. “Esse projeto tem potencial para aumentar nossa produção”, finaliza.

Tesouros do Semiárido

A série “Tesouros do Semiárido” é um conjunto de matérias que vai abordar os impactos do setor de mineração para a economia e a indústria extrativa do Rio Grande do Norte, a ser publicada nas edições da Tribuna do Norte.

 



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