Tadzio França
Repórter
O cuidado com o bem-estar da mente também passa pela
alimentação. Pesquisas recentes mostram que a nutrição tem um papel importante
na manutenção da saúde mental, sendo parte da prevenção e do tratamento de
transtornos como ansiedade e depressão. As escolhas alimentares podem atuar
numa série de processos no organismo, essenciais para o funcionamento do
cérebro e para a regulação de neurotransmissores, algo que impacta o
funcionamento cerebral e a regulação do humor. Comer bem também é satisfação
para a mente.
“Encarar a nutrição como parte da saúde mental não é
uma tendência passageira, mas um campo científico em plena expansão”, afirma
Waleksa Araújo, nutricionista do Hospital Universitário Ana Bezerra. Para ela,
tudo se conecta: a alimentação, ao fornecer nutrientes e estabilidade
metabólica, nutre o cérebro; o corpo, por meio de hábitos como sono adequado e
atividade física, potencializa essa base biológica; e o espírito, quando
sustentado por propósito, fortalece a resiliência emocional.
Segundo a nutricionista, hoje já é bem comum a
percepção de que alguns alimentos favorecem o humor e a saúde mental, enquanto
outros são associados à piora do humor. “Quando priorizamos alimentos naturais
e nutritivos, oferecemos ao cérebro nutrientes que ajudam na produção de
neurotransmissores ligados ao bem-estar, como a serotonina e a dopamina”,
explica.
Waleska afirma que as deficiências nutricionais
estão intimamente ligadas a transtornos mentais, em especial à depressão,
porque certos nutrientes são essenciais para o funcionamento do cérebro e para
a regulação de neurotransmissores. “Há nutrientes que têm papel central no
cérebro e, quando faltam, podem piorar o humor”, diz. Ela cita como exemplo os
ácidos graxos ômega-3, encontrados no salmão, sardinha, chia e linhaça, que
fazem parte da estrutura das membranas neuronais e regulam processos inflamatórios.
Já as vitaminas do complexo B, presentes em folhas
verdes, leguminosas, fígado e ovos, são fundamentais para a produção de
neurotransmissores. Sua deficiência pode piorar o humor e até reduzir a
resposta a tratamentos. A vitamina D, obtida principalmente pela exposição
solar e também em peixes gordurosos e alimentos fortificados, aparece em
estudos observacionais associada à depressão, sendo a suplementação importante
em casos de deficiência.
Minerais como magnésio, zinco e ferro, que são
encontrados em oleaginosas, leguminosas, carnes magras e verduras, são
cofatores da neurotransmissão. Quando em baixos níveis, podem provocar fadiga,
irritabilidade e sintomas depressivos. Na outra ponta do cardápio, estão os
malefícios do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. Segundo Waleska,
esse tipo de comida induz à inflamação sistêmica, já que os açúcares simples,
gorduras saturadas, trans e aditivos químicos aumentam marcadores inflamatórios
que se relacionam com sintomas depressivos.
“Além disso, esses alimentos provocam picos e quedas
rápidas de glicemia, levando a oscilações de energia, irritabilidade e maior
vulnerabilidade à ansiedade”, ressalta. Outra questão crítica é o impacto no
intestino. Segundo a nutricionista, como são alimentos pobres em fibras e ricos
em aditivos, comprometem a saúde da microbiota, prejudicando o eixo
“intestino-cérebro”, que é essencial para a regulação do humor e do bem-estar
emocional.
O açúcar, associado às guloseimas que em tese deixam
todos “felizes”, também tem sua contribuição amarga. Waleska explica que
estudos recentes confirmam que açúcares livres, como aqueles presentes em
refrigerantes, doces e frituras, elevam o risco de alterações emocionais. “O
excesso de açúcar provoca inflamação no organismo, que se relaciona diretamente
ao desenvolvimento de sintomas depressivos”.
A comunicação entre o intestino e o cérebro é mais
importante do que se pensa. No chamado “eixo intestino-cérebro”, a microbiota
intestinal desempenha papel central. Sendo uma via bidirecional bem
documentada, diz Waleska, onde as bactérias intestinais produzem metabólitos
que influenciam na inflamação, na integridade da barreira intestinal e na
atividade do sistema nervoso central. “Alterações na composição dessas
bactérias podem influenciar circuitos neurais ligados ao estresse, ao humor e
ao comportamento.
Uma dieta para melhorar o humor, segundo Waleska,
pode começar a partir de um passo a passo simples. Ela indica a troca de
bebidas açucaradas por água e infusões; adicionar uma porção extra de frutas e
vegetais por dia; inserir uma fonte semanal de peixe (salmão, sardinha) ou uma
colher de linhaça/chia diariamente; substituir snacks ultraprocessados por
oleaginosas, iogurte natural, fruta ou palitos de vegetais; e incluir um
alimento fermentado algumas vezes por semana (iogurte natural, kefir) para
suporte da microbiota.
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