"Zoeira matematicamente rigorosa" é como o
professor e engenheiro Claudio Pellegrini, do Departamento de Ciências Térmicas
da Universidade Federal de São João del-Rei, define uma pesquisa de sua autoria
que ganhou atenção internacional nesta semana. Especialista na área de mecânica
dos fluidos, ele se dedicou a responder a seguinte pergunta: qual é o melhor
formato para um copo de cerveja?
Para Pellegrini, isso significa identificar quais
proporções garantem que o líquido mantenha-se frio por mais tempo. O estudo,
escrito em um tom bem-humorado, mostrou que o formato não é muito distante dos
mais usados pelo mundo, com uma base pequena que se alarga conforme aproxima-se
do topo, tal como uma corneta. "Algo como uma tulipa com a boca
larga", explica Claudio.
Pesquisador de Universidade Federal de São João
del-Rei tentou encontrar formato ideal de copo de cerveja — Foto: Reprodução
Veja abaixo como seriam diferentes copos ideais,
segundo os cálculos do professor:
Professor calculou copo ideal de cerveja para
incentivar alunos no estudo da Física e Matemática — Foto: Reprodução
"O processo aqui é bastante simples: é feito um
pedido de cerveja, o garçom a entrega, ela é servida e consumida", escreve
Pellegrini ao introduzir o segmento no qual explica o modelo matemático usado
no trabalho. Segundo o artigo, a partir do momento no qual a bebida é colocada
no recipiente, ela começa a trocar calor com o entorno. Com o tempo, o líquido
irá entrar em equilíbrio com o ambiente e, portanto, aquecer.
O tempo que isso demorará para acontecer varia.
"No caso mais favorável, o ambiente a 10°C e a cerveja a 4°C, a
experiência pessoal mostra que podem passar até 30 minutos antes que a cerveja
aqueça. No cenário mais crítico, como na praia em um dia de vento e a 38°C,
apenas 3 minutos podem ser suficientes (novamente com base na experiência
pessoal, exaustivamente repetida) para tornar cerveja intragável", brinca.
No artigo, o professor da UFSJ indica não aprovar o
principal copo de cerveja no mercado brasileiro: o americano. Nas suas
palavras, o recipiente "contém um volume bastante baixo (190ml) e é
excepcionalmente feio". O copo americano "mantém a cerveja gelada
através do mais primitivo dos processos: devido a sua baixa capacidade, a
cerveja é consumida tão rapidamente que não dá tempo de esquentar", resume
Pellegrini.
O artigo de Pellegrini foi divulgado originalmente
em 2019 na Revista Brasileira de Ensino de Física, mas ganhou uma nova versão
em outubro deste ano, com atualizações no repositório de estudos científicos
ArXiV. Nas últimas semanas, reportagens sobre o trabalho foram publicadas nas
revistas Scientific American e Discover Magazine, dos Estados Unidos, e na
Spektrum, da Alemanha.
No texto, o professor explica que seu objetivo com a
brincadeira é aumentar o interesse dos alunos pelas ciências exatas, principalmente
Física e Matemática. Uma questão secundária, "mas crucial", é
"educar as futuras gerações de entusiastas da cerveja para salvaguardar a
qualidade das nossas cervejas".
“Penso ter cumprido o principal objetivo declarado
do artigo. Ou seja, despertar o interesse dos estudantes pela física e
matemática, mostrando como ferramentas simples podem resolver problemas
interessantes”, diz Claudio.
O Globo
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