Ex-ministro de Jair Bolsonaro, o
senador Rogério Marinho (PL-RN) licenciou-se em junho do mandato, no
qual ocupava o posto de líder da oposição ao governo Lula, para uma ambiciosa
missão: a de secretário-geral de seu partido. A tarefa delegada a ele pelo cacique
Valdemar Costa Neto é ser o articulador das eleições municipais pelo país e
pavimentar o caminho da legenda para 2026, quando pretende ampliar seu tamanho
no Congresso, onde já tem a maior bancada na Câmara e a segunda maior no
Senado.
Para ele, o grande objetivo da sigla, no entanto, é
consolidar-se como o principal porta-voz da direita brasileira, ancorado na
defesa de valores morais conservadores e da pauta liberal na economia, conforme
disse em entrevista a VEJA. Sobre temas mais imediatos, na mesma conversa
defendeu o movimento pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, pediu
menos protagonismo ao Supremo e disse que Bolsonaro é a liderança inconteste da
direita, a despeito da ascensão de nomes como o coach Pablo Marçal, que tumultua
a eleição à prefeitura de São Paulo, e os governadores que pretendem se colocar
na próxima disputa presidencial.
O PL fechou aliança em São Paulo com o prefeito
Ricardo Nunes (MDB), mas uma parte expressiva do eleitorado bolsonarista tem
apoiado Pablo Marçal (PRTB). Como o partido avalia esse
movimento? Acredito que o voto não tem dono. Ele é uma expressão livre do
cidadão. O que o PL busca é que, ao votar na legenda, o eleitor o faça não só
em função das candidaturas, mas em razão do que é defendido pelo partido. Em
São Paulo, a orientação foi para apoiar Nunes, mas a população vai escolher
quem achar mais adequado. Agora, temos clareza de que no segundo turno,
qualquer que seja o resultado, estaremos contra a esquerda, em São Paulo e em
todo o país.
Há nomes do próprio PL endossando a candidatura de
Marçal. Isso representa queda de prestígio do ex-presidente? É um processo
sobre o qual não temos tanto controle. O partido orienta. As pessoas que fazem
parte da agremiação acompanham ou, eventualmente, tomam posição diferente.
A maior liderança popular hoje, de direita, da população conservadora, é
Jair Messias Bolsonaro. Foi ele quem conseguiu fazer com que a direita
tivesse o mínimo de unidade e firmeza de propósitos, porque essa corrente
sempre existiu, mas dispersa, fragmentada. Hoje há praticamente uma unanimidade
na identificação dessa liderança maior. Não conheço Pablo Marçal, então vamos
aguardar. A história vai dizer se ele vai ter uma carreira política longeva e
se afirmar dentro da direita.
Alguns governadores, como Tarcísio de Freitas,
Ronaldo Caiado e Ratinho Junior, são cogitados como candidatos para representar
a direita na disputa à Presidência em 2026. Essa profusão de postulantes é uma
ameaça à unidade da oposição? Novamente, digo que ninguém é dono do voto
de ninguém. Quem encarna e representa de forma majoritária a direita no Brasil
é Bolsonaro, mas é evidente que existem segmentos dentro dessa corrente que são
lideranças importantes. É bom que tenhamos um leque de valores da política
nesse campo que podem se colocar como candidatos a senadores e até a presidente
da República. Vejo como um copo meio cheio, e não meio vazio. Não se vê a mesma
profusão e a mesma qualidade na esquerda, porque em torno de Lula não
cresce nem mato.
Por que o PL enfrenta dificuldades em grandes
capitais, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mesmo com o apoio do partido e
de Bolsonaro? Com eleições em quase 5 600 municípios, em alguns lugares
você vai se sair bem, em outros nem tanto. Temos candidatos em catorze capitais
e em algumas delas estamos na frente, como Rio Branco, Maceió, Aracaju, Palmas.
Em outros, estamos em segundo lugar. E, de fato, em outros estamos em posição
menos impactante. O PL saiu de 900 candidatos a prefeito em 2020 para quase
1 500 na atual eleição. Fizemos pouco mais de 300 eleitos e agora queremos mais
do que dobrar esse número. O importante, no entanto, é que o partido tenha mais
nitidez programática e ideológica.
O que significa esse processo? Queremos que a
legenda mostre o que é, ou seja, que o leitor comum possa nos distinguir. Em
2018, tínhamos 37 partidos representados na Câmara e hoje, após mudanças na
legislação, são apenas catorze aptos a receber fundo eleitoral e tempo de
televisão. Até 2030, a expectativa é que seis ou sete vão representar todos os
espectros ideológicos da sociedade. Por isso, temos a preocupação de dar esse
viés programático, para que as pessoas entendam que estão votando em um partido
que defende um conjunto de valores que é o da maioria da sociedade. Valores
como a defesa da família, do empreendedorismo, do direito de propriedade, da
diminuição da carga tributária, da liberdade econômica. Representamos um
contingente razoável de cidadãos. Bolsonaro teve quase 50% dos votos na última
eleição presidencial.
O PL tem mais de 1 bilhão de reais de recursos
públicos para usar na atual eleição. Não é muito dinheiro? O fundo
eleitoral é uma consequência do número de deputados e senadores que cada
partido tem, há uma certa justiça nessa lógica. Mas há a necessidade de
aperfeiçoar esse mecanismo de financiamento dos partidos e dos candidatos.
Campanhas custam dinheiro e a sociedade termina tendo que pagar o preço da
democracia. É necessário discutirmos esse modelo sob a ótica do que é aceitável
para o cidadão.
Parlamentares de oposição pediram a abertura de
processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF). Qual é a expectativa sobre esse pedido? É um tema
que, infelizmente, virou central no Brasil graças ao desequilíbrio que existe
entre os poderes. Há uma hipertrofia do Judiciário, do STF e, notadamente, do
ministro Alexandre de Moraes. Queremos mostrar que houve uma série de abusos
cometidos pelo ministro que precisam ser julgados pelo Senado, com amplo
direito de defesa. Esperamos que o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco,
submeta o pedido às instâncias burocráticas para verificar se há materialidade,
se está em consonância com a legislação e, em seguida, instale uma comissão
processante. Para que tenhamos o papel do Senado exercido na sua integralidade
e para que possamos, enfim, coibir esses abusos em nome da própria democracia e
em respeito ao Judiciário e à isenção que deve caracterizá-lo.
Há uma ofensiva da oposição também contra
o STF em geral, não? Membros do Supremo falam a respeito de
política, de ações estruturantes e políticas públicas, e muitas vezes fora de
sua atribuição como magistrado. Isso gera na sociedade a percepção de que
alguns integrantes da Corte têm um lado na política. Isso não é bom para a
democracia, porque o Judiciário tem que passar para a sociedade a impressão de
isenção, imparcialidade, de cumprimento da legislação independente da parte
envolvida, de não levar em consideração o espectro ideológico de quem precisa
de sua mediação. Há a necessidade de definirmos o mandato para membro do
Supremo, porque a longevidade excessiva faz com que haja perda de conectividade
com a sociedade. Quanto mais tempo o ministro passa no mandato, maior o
descolamento dele com o país.
A anistia aos presos do 8 de Janeiro foi uma das
principais reivindicações do ato realizado na Avenida Paulista em 7 de
setembro. Por que isso virou prioridade da oposição? Arbitrariedades foram
cometidas ao longo desse período. Prisões em massa, falta de individualização
das culpas, dificuldade de acesso dos advogados aos autos dos processos
inquisitoriais, multas exorbitantes e inexequíveis, ataque à liberdade de
expressão, retirada de conteúdos da internet através de ordens sem a provocação
do Ministério Público ou dentro de um processo jurídico adequado. Os
julgamentos estão ocorrendo sem o foro adequado. As pessoas estão sendo
condenadas com penas extremamente exageradas, não têm a quem recorrer, não têm
duplo grau de jurisdição. O princípio do juiz natural se perdeu em vários
desses inquéritos, uma vez que ele foi designado de ofício, sem sorteio. Temos
uma série de irregularidades que estão sendo perpetradas, eu diria até criando
jurisprudências de exceção.
Não houve uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de
2023? Ninguém, e a direita em especial, nunca corroborou, nunca incentivou
depredação de prédio. Quem barbariza deve ser punido. Mas vai ser punido de
acordo com o que preceitua a legislação, porque é evidente que não se
caracteriza um bando de pessoas sem líderes, velhos, senhoras, crianças, como
um grupo que pudesse ter a capacidade de dar um golpe. Desde que entrei no
Senado, eu prego o restabelecimento da normalidade democrática. O país precisa
se reconciliar. Nós entendemos que é importante haver oposição, pessoas que
pensam diferente, que têm agendas e políticas públicas distintas. O que não
pode é demonizar um espectro político. Então, há um exagero na forma como
algumas instituições têm se comportado. E, é claro, evidente que isso gera uma
reação, e nós achamos que essa reação deve acontecer dentro da política.
O senhor era líder da oposição no Senado até pedir
licença. Como avalia o governo Lula? Em vez de estar debatendo o STF, eu
preferia estar discutindo a política econômica, a área social do governo, a questão
da geopolítica, das relações internacionais, as oportunidades que nós estamos
perdendo e a maneira descuidada e temerária com que o governo vem sendo
conduzido. Porque estamos gerando uma bomba fiscal e uma armadilha cambial que
vai explodir no nosso peito. Essa forma com que o PT vem governando o país tem
método, eles são absolutamente irresponsáveis do ponto de vista fiscal,
extremamente populistas. Desarrumam uma economia, fecham a porta e apagam a
luz.
Não houve nenhum acerto até agora? Todo o conjunto
de reformas estruturantes, de mudanças macroeconômicas, feitas ao longo dos
últimos seis anos, foram praticamente paralisadas com a entrada do PT no poder.
E vamos ter um prejuízo muito grande a médio prazo. Hoje temos um crescimento
muito mais tracionado pelas reformas estruturantes que foram feitas
principalmente no governo Jair Bolsonaro, mas com a concessão de vários
estímulos que vão impactar muito o crescimento da dívida pública e que já estão
impactando, por exemplo, na necessidade de aumentarmos os juros.
VEJA
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