Em meio ao
clima de incerteza nas campanhas sobre a eficiência de ataques diretos a
adversários, o primeiro debate presidencial das eleições
2018 na televisão deverá ser permeado de críticas ao governo do
presidente Michel Temer. O
confronto, agendado para as 22 horas desta quinta-feira, 9, pela TV
Bandeirantes, também tem boas chances trazer uma performance de Jair Bolsonaro (PSL)
e declarações ácidas de Ciro Gomes(PDT),
se depender das previsões traçadas pelas próprias campanhas.
Líder
nas pesquisas,
o deputado do PSL, cuja campanha trabalha com a expectativa de que ele seja
alvo dos ataques no debate, disse que usará o espaço para mostrar “o que
pretende fazer para o Brasil”. E o fará independentemente do que lhe for
perguntado. “O cara pode perguntar de abóbora e eu responder só abacaxi”, disse
Bolsonaro nesta semana, quando questionado sobre seu plano para o debate. A
estratégia não é nova. Já foi usada no passado, por exemplo, pelo ex-governador
do Rio Anthony Garotinho(PRP),
em entrevistas coletivas.
Ciro, por
sua vez, não economizará nas respostas, de acordo o presidente do PDT, Carlos Lupi. “A
gente não leva desaforo para casa”, disse o dirigente. Lupi ponderou que Ciro
pretende usar debates e outros eventos eleitorais para compensar o tempo
escasso no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV. Ainda assim, aproveitou
para alfinetar o tucano Geraldo Alckmin ao
falar sobre a partilha de tempo no horário eleitoral. “Acredito que Alckmin vai
fazer igual Ulysses Guimarães em 1989 – vai ter tempo de TV demais, mas é um
sonífero bom”, disse.
Apesar de
parte das campanhas trabalharem com a expectativa de que Alckmin poderia
protagonizar um embate com Bolsonaro, a campanha do tucano nega que a ideia
seja partir para o confronto. Como
relatou nesta quarta-feira a colunista do jornal O Estado de S. Paulo,
Vera Magalhães, o clima nos partidos é de insegurança sobre a melhor estratégia
para atacar o primeiro colocado nas pesquisas quando se retira do cenário o
ex-presidente Lula. “Não vamos ficar em cima de candidato. O Brasil tem
que discutir como aprovar as reformas, não embate pessoal”, diz o coordenador
do programa de governo tucano, Luiz Felipe D’Ávila.
Debate paralelo
O debate
da Band, o primeiro entre presidenciáveis nas eleições
2018, não terá a presença do candidato do PT,
uma vez que o partido decidiu registrar a chapa encabeçada pelo
ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Operação
Lava Jato – com o
ex-prefeito e virtual plano B do partido Fernando
Haddadna vice. Embalado pelo discurso de que Lula deveria estar
presente no evento, o PT
decidiu realizar uma transmissão paralela pela internet com Haddad. No
vídeo, o ex-prefeito vai comentar o que os candidatos disseram na Band.
O PT deve
investir no discurso crítico contra o governo Temer para atingir adversários. A
ideia é associar Alckmin ao emedebista, sob o argumento de que os partidos
do Centrão que fecharam com o tucano estão na base do atual
governo e endossam medidas impopulares, como a reforma da Previdência e o teto
dos gastos públicos.
Para tentar neutralizar essa estratégia, a campanha tucana
vai sustentar que uma aliança ampla é a condição para a aprovação de reformas.
“Reforma se aprova com o voto da maioria do Congresso. Sem aliança não dá para
fazer o que propomos”, disse D’Ávila.
O discurso
crítico a Temer deve ter ressonância também nas falas de Ciro ou ainda na
exposição da ex-senadora Marina Silva.
No caso da candidata da Rede,
a ideia é usar o assunto para atacar a polarização histórica entre PT e PSDB.
De acordo com interlocutores, ela dirá que ambos os partidos – e as legendas de
‘centro’ que os acompanham –, são parte do problema pelo qual passa a
democracia brasileira. Marina também tentará capitalizar com a desistência
de Manuela D’Ávila (PCdoB),
que aceitou ficar no banco de reservas para depois assumir posteriormente a
vice na chapa presidencial petista. Nesse caso, Marina tentará fazer
“saltar aos olhos” o fato de ser a única mulher entre debatedores.
A chance dos candidatos desconhecidos
Com o
desafio de despistar das críticas a Temer durante o debate, o ex-ministro da
Fazenda Henrique
Meirelles tentará usar o espaço para se apresentar ao eleitor. O
emedebista, que segue sem conseguir decolar nas pesquisas, voltará a investir
no discurso de que integrou também outros governos – inclusive os petistas – de
forma a se desvincular da marca de candidato do governo. Também vai reforçar o
lema “chama o Meirelles”, ao afirmar que foi chamado a ajudar em momentos
difíceis e contribuiu para que o País saísse melhor de situações desafiadoras.
Alvaro Dias, do Podemos,
também tentará usar o debate para tentar ganhar visibilidade. Senador e
ex-governador do Paraná, ele tem como desafio se tornar conhecido fora do sul
do País, onde se concentra a maior parte de suas intenções de voto. “O que mais
escuto na rua é que as pessoas ainda não sabem que sou candidato. Agora, nós
podemos chegar a todo o País”, afirmou ao Estadão/Broadcast.
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