Quem manda não precisa dizer que manda, e se há
alguém que compreendeu o significado do poder é o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP).
Faz anos que nada de realmente importante acontece
em Brasília sem que ele seja consultado – um feito e tanto, considerando que o
parlamentar vem de um Estado que não se destaca nem pelo vigor de sua economia
nem pelo tamanho de sua população. Sua especialidade é tirar o governo das
cordas nas horas em que ele mais precisa e cobrar caro por essa ajuda.
Há alguns dias, o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva estava prestes a passar pela humilhação de assistir à derrubada de
praticamente todos os 63 vetos que impôs à Lei Geral do Licenciamento Ambiental
às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas
(COP-30), em Belém.
Quem impediu – ou melhor, adiou – o vexame foi
Alcolumbre. Para isso, o senador não precisou procurar os pares para
convencê-los da importância de manter os vetos neste momento, mesmo porque é
favorável à flexibilização da legislação ambiental. Bastou cancelar a sessão
conjunta do Congresso que ele mesmo havia marcado.
A recompensa veio na semana seguinte, quando o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), depois de anos, finalmente concedeu a licença de operação à Petrobras
para perfurar um poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas. Trata-se do
pontapé inicial para a exploração de petróleo na Margem Equatorial, uma das
prioridades do senador.
Embora prefira a discrição aos holofotes, os últimos
dias têm colocado a atuação de Alcolumbre em evidência. Ignorando solenemente a
pressão para que indique uma mulher à vaga que se abrirá no Supremo Tribunal
Federal (STF) com a saída de Luís Roberto Barroso, Lula pretendia formalizar,
antes de viajar à Ásia, a indicação do ministro da Advocacia-Geral da União
(AGU), Jorge Messias. O presidente, que faz ouvidos moucos aos apelos de sua
base eleitoral, escuta com atenção e deferência as palavras de Alcolumbre. O
senador, que não esconde a preferência pelo nome de seu colega e antecessor,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avisou que não trabalharia contra Messias, mas que
lavaria as mãos caso seu nome chegasse ao Senado.
O presidente deve muito a Alcolumbre. O fracasso da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) é obra do senador. Foi ele quem providencialmente segurou a
instalação da CPMI por três meses, dando tempo para que o Executivo ressarcisse
os aposentados pelos descontos ilegais em seus benefícios antes que a comissão
iniciasse seus trabalhos, esvaziando seu objeto.
Foi Alcolumbre, também, quem enterrou a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem após protestos que reuniram milhares
de pessoas nas ruas. É Alcolumbre quem impede o avanço de projetos para
anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, reduzir penas de condenados pelo 8 de
Janeiro e afastar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Isso nem de longe significa que o senador seja
simpatizante do PT. Alcolumbre mantinha excelentes relações com Bolsonaro
quando este era presidente. Sem o senador, o governo do ex-presidente não teria
conseguido aprovar os projetos de seu interesse às vésperas da eleição.
Foi esse pacto entre Bolsonaro e Alcolumbre que
permitiu às emendas parlamentares chegarem a R$ 50 bilhões, um patamar que nem
o governo Lula nem o STF conseguiram reduzir – que o digam os municípios
amapaenses, alguns dos maiores beneficiários dessas transferências.
É assim que Alcolumbre mostra como e por que é ele
quem realmente manda no Brasil. Enquanto isso, a esquerda depende de Lula para
sobreviver e a direita se digladia para escolher o sucessor de Bolsonaro nas
urnas.
Opinião do Estadão

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