De olho nas eleições, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) tem intensificado seus gestos em direção ao público evangélico.
Nas últimas semanas, recebeu lideranças religiosas no Planalto, citou o
segmento em discursos e contou com a primeira-dama, Janja, para reforçar laços
com mulheres de igrejas. A movimentação lembra o esforço feito em 2005, quando
Lula buscava a reeleição — mas agora o cenário é de maior influência política
dos evangélicos e de resistência mais acentuada nas bases religiosas.
O movimento acontece em meio à reação de
parlamentares de esquerda contra o projeto que cria a bancada cristã na Câmara.
A proposta, que teve urgência aprovada na semana passada, garantiria ao grupo
poder de voto em decisões internas da Casa, como já ocorre com as bancadas
feminina e negra. Deputados como Reimont (PT-RJ) e Henrique Vieira (PSOL-RJ)
criticaram a ideia, considerando-a uma tentativa de institucionalizar a
religião no Legislativo.
Apesar das divergências, Lula tenta reforçar pontes.
O presidente recebeu o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus Madureira,
e contou com a presença do ministro da AGU, Jorge Messias, cotado para o STF e
descrito como um “evangélico raiz”. Samuel apoiou Jair Bolsonaro em 2022, mas a
reunião simboliza um gesto de reaproximação. Situação semelhante já havia
ocorrido em 2006, quando Lula conseguiu reverter a resistência de parte das
igrejas e ganhou apoio de líderes como Manoel Ferreira e Marcelo Crivella.
Hoje, os evangélicos representam 26,9% da população
brasileira, segundo o Censo de 2022 — cerca de 57 milhões de pessoas. A
pesquisa Quaest mostra que o governo Lula ainda é rejeitado por 63% desse
público. Para o historiador Lincoln Secco, da USP, o diálogo é estratégico, mas
limitado: “Se surgir uma alternativa de extrema direita, a maioria dos
evangélicos tenderá a apoiá-la”, avalia. O próprio Lula reconheceu o desafio:
“O erro está na gente. Nós é que não sabemos falar com eles.”
Com informações do O Globo

Nenhum comentário:
Postar um comentário