O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
iniciou neste sábado (5) as invasões de terra do Abril Vermelho em Minas Gerais
e Pernambuco. A mobilização tem como objetivo pressionar o governo Lula a
acelerar a reforma agrária, avaliada como tímida pelo grupo.
Em Goiânia (PE), cerca de 800 famílias invadiram a
Usina Santa Teresa. Em Frei Inocêncio (MG), a ação de 400 famílias ocorreu em
fazenda às margens da BR-116, segundo o movimento.
Em nota, o braço mineiro do MST deu sinais de alerta
em relação à atuação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que no
início da semana publicou um vídeo em que aparece com um boné com a escrita
"abril verde", em referência à mobilização do MST. A fala é parte da
estratégia para se posicionar como opositor do presidente e pré-candidato à
Presidência.
"Qualquer ação violenta contra as famílias
pobres que lutam pela terra é de responsabilidade do governador Romeu Zema, que
incita o ódio e a violência no campo com falas inflamadas e irresponsáveis,
criminalizando nossas famílias", afirmou a direção do MST-MG.
Zema também anunciou um novo modelo de policiamento
rural que leva em conta o calendário agrícola e tem agentes especializados para
a segurança do campo. Em outras ocasiões, Zema disse que o governo de Minas tem
tolerância zero com invasores de terra.
Em nota, a PM-MG afirmou que "a segurança da
área ocupada pelo MST está a cargo exclusivo do governo federal, por se trata
de 'faixa de domínio' do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit)".
Em Pernambuco, a direção do movimento afirma que a
ação na usina evita que o terreno seja vendido pela massa falida da empresa. O
local já tem dez acampamentos e a intenção é destinar para a reforma agrária
toda a área da antiga empresa.
Em abril, o MST intensifica não só invasões, mas
bloqueios de rodovias, protestos, mutirões de cadastramento de famílias e outras
ações —o que deve se repetir em 2025.
O mês foi escolhido porque, em 17 de abril de 1996,
ocorreu o massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, quando a Polícia Militar
assassinou 19 militantes do movimento e deixou outros 69 feridos durante um
protesto —até hoje, apenas 2 policiais, de 155 envolvidos, acabaram condenados.
Para 2025, o lema escolhido foi "ocupar para o
Brasil alimentar". Há previsão de ações nos 26 estados e no Distrito
Federal, com foco em terras propícias à produção de alimentos.
As manifestações acontecem em meio ao
descontentamento do movimento com o terceiro mandato de Lula e com o andamento
da reforma agrária.
Segundo o MST, quando o petista assumiu a
Presidência, cerca de 65 mil famílias do movimento cadastradas pelo Incra aguardavam
em acampamentos para serem assentadas.
"O andamento está muito aquém da demanda
acumulada nos últimos dez anos, desde o impeachment da [ex-presidente] Dilma
Rousseff, passando pelo governo Temer e pelo período de Bolsonaro", disse
José Damasceno, da direção nacional do MST.
No terceiro ano do mandato, esse passivo cresceu,
segundo ele, para cerca de 100 mil. Se considerados outros grupos que atuam na
causa, a projeção subiria para 140 mil.
Folha de São Paulo
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