Maior negociação da história do futebol feminino no
Brasil, medalhista olímpica, Rainha da América e figurinha carimbada na Seleção
Brasileira. Com apenas 20 anos, a atacante Priscila coleciona diversas
conquistas. Em entrevista exclusiva para a TRIBUNA DO NORTE, a potiguar falou
sobre o começo da carreira, comentou sobre a ascensão meteórica, relembrou a conquista
nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e analisou o futebol feminino no Brasil e no
Rio Grande do Norte, na expectativa de que Natal seja sede da Copa do Mundo
2027.
Nascida em São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal,
Priscila sempre soube o que lhe trazia alegria. Apesar do apoio dos pais e dos
irmãos, ser menina em um esporte de meninos é ter que se provar dentro e fora
das quatro linhas. E foi jogando com garotos nas ruas do bairro onde morava que
ela soube que nada tiraria a felicidade de jogar bola. “Desde pequena sempre
tive muita alegria em praticar esportes. Sempre gostei de fazer muitos
esportes, mas realmente, eu sentia essa paixão mesmo era pelo futebol. Eu me
sentia feliz, me sentia leve jogando com meus irmãos, as pessoas do bairro ali,
me sentia muito feliz”, relatou.
A paixão passou de pai para filha e não se estendia
apenas em jogar, mas também em frequentar arquibancadas. “Essa relação com meu
pai, eu ia todo final de semana com ele, para jogos, acompanhava ele. O que
veio dele acabou passando para mim essa paixão de estar dentro do campo. Acabou
passando para mim, acho que é isso que me motivou mais a seguir no campo”,
descreveu.
Durante a infância e pré-adolescência, Priscila
começou a jogar Futsal e, logo após, teve oportunidades no Fut7. Nas quadras,
chamou atenção ao se destacar em competições amadoras, o que a levou para as
equipes dos colégios e a competições fora do estado, como em Santa Catarina.
Paralelo a isso, também começou a se desenvolver no gramado sintético por meio
do projeto social “Dez da Bola”, no bairro das Rocas, que é dirigido por Neto
Ramos. Posteriormente, surgiu a chance de disputar o Campeonato Potiguar 2019
pelo Monte Líbano.
Apesar do início na quadra e no society, foi no
campo onde Priscila se encontrou. “Eu comecei a gostar do campo, vi que ali eu
tinha uma habilidade, mas fui desenvolvendo ainda no futsal. Passou um ano,
dois anos, eu decidi largar o futsal. Falei: ‘Não está dando para mim, não
estou tendo a oportunidade de jogar, não estou vendo que não está indo para
frente’. Larguei o futsal e fui para o campo. Fiz o primeiro teste na
Ferroviária, não fui aprovada. Logo após, já fui para o Rio Grande do Sul e já
lá, assim, desde lá fiquei (no Internacional)”, contou a atacante.
Em pouco tempo, a jogadora começou a ter destaque
pelo Colorado. Após quatro jogos na equipe principal, em 2021, a atacante, que
na época tinha 16 anos, já somava seis gols. Mas o sucesso mesmo veio em 2023,
quando assumiu o posto de protagonista com a camisa colorada. Em uma temporada
memorável, a jogadora colecionou conquistas e foi artilheira da Copa
Libertadores da América, com oito gols em seis jogos. O destaque lhe rendeu o
título de “Rainha da América”, do jornal uruguaio El País, que premia a melhor
jogadora em atuação na América do Sul.
Já no ano seguinte, o Inter acertou a venda de
Priscila por R$ 2,8 milhões para o América do México, tornando-se a maior
transferência da história do futebol brasileiro feminino. “O América fez uma
oferta, eu achei muito interessante e conheci o clube, vi que aqui o futebol
está crescendo. Tem muita gente que acompanha futebol mexicano, principalmente
aqui, a gente vê no Brasil que pessoas acompanham mais futebol masculino,
poucas vão no feminino, mas aqui (no México) é realmente assim, bem parelho
mesmo. As pessoas acompanham bastante futebol feminino e isso me encantou
muito. Fiquei muito apaixonada por isso, porque acredito que cada pessoa quer
ser reconhecida no seu trabalho, então você vê pessoas ali indo te assistir,
gritando seu nome, isso é muito empolgante”, confessa a potiguar.
Referência
Agora, defendendo as cores do América do México,
Priscila não quer somente colecionar conquistas e fazer história nos gramados
do mundo. Assim como Marta, Formiga e Cristiane, Silva deseja se tornar
inspiração para as próximas gerações, principalmente as jovens atletas do Rio
Grande do Norte.
“Acredito que
ainda demora um pouco, todo esse processo, para você entrar na categoria de
base. Mas, comparado a antes, hoje está muito evoluído. Muita gente não tem
noção ainda de como pode entrar em contato com o clube, o clube pedir pra você
fazer uma avaliação, que está tudo mais desenvolvido”, conta.
Recentemente, a atleta sofreu uma lesão parcial no
ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, que lhe deixará fora dos
gramados por aproximadamente dois meses. Em 23 jogos disputados, ela acumula 13
gols marcados com a camisa de Las Águilas. Além dos números, a atacante também
se notabiliza pela forte identificação que criou com o clube em tão pouco
tempo. “Acredito que isso também é da minha característica. Quando eu estou em
um clube eu me entrego por inteiro. Eu visto a camisa como se fosse a última
vez. Eu tenho muito amor cada vez que eu coloco a camisa, porque poucas pessoas
conseguem trabalhar com o gostam”, diz. “Espero inspirar várias outras meninas,
principalmente do Rio Grande do Norte, é uma coisa que ainda não está tão
evoluída, o futebol feminino”, completa.
Futebol Feminino
Ao falar sobre o desenvolvimento do futebol
feminino, Priscila aponta o estado de São Paulo como a grande referência
brasileira. O motivo? É o lugar onde várias equipes revelam constantemente
novas jogadoras com competições desde o Sub-15 ao adulto, que favorece o
desenvolvimento das futuras atletas. Diferente da realidade do RN, que conta
apenas com a realização de uma competição profissional durante a temporada. No
estado potiguar ainda não há uma categoria de base para o futebol feminino.
Esse contexto torna comum que meninas disputem o Estadual com mulheres adultas,
como foi o caso de Priscila, que estreou profissionalmente aos 14 anos pelo
Monte Líbano em 2019.
“Tem pessoas que conseguem se adaptar rápido, mas
tem meninas que não conseguem. Pessoas de 15 anos jogando com mulheres adultas
que acabam misturando tudo e acabam atrapalhando o processo. Não tem essa
evolução dentro do futebol no RN. O que está faltando são esses olhares que eu
vejo que não tem muito. Quando eu também estava jogando e atuando, tinha poucas
competições. Eu não me recordo muito, eu jogava muito Futsal e Fut7. Eu joguei
uma ou duas vezes esse campo, que foi pelo Campeonato Potiguar. Eu me recordo
de poucas competições femininas”, detalha a jogadora.
Seleção Brasileira
Com a ascensão nos gramados, Priscila se tornou
presença certa nas convocações desde a chegada de Arthur Elias ao comando da
Seleção Feminina em 2023. O novo técnico foi quem chamou a potiguar para
integrar a equipe principal da Amarelinha pela primeira vez. “Arthur e a
comissão dele sempre foram referência. Ganhavam tudo no Corinthians, sempre
tinham embate com outras equipes e sempre acabavam ganhando”, confessa.
Mesmo com pouco tempo no cargo, a atacante avalia
que o Arthur conseguiu dar uma nova cara a Seleção, evidenciando-se por oportunizar
mais jogadoras que estão sendo formadas que podem agregar a equipe, e
consequentemente, tornam o Brasil mais forte e competitivo dentro do futebol
feminino. “Antes, em si, visavam muito a Marta, a Formiga e a Cristiane. São
muito importantes sim para o nosso futebol, a Marta é uma rainha e a Formiga
nem se fala. Então, sempre foram deixando essas três e criando essas três. Só
que eu acredito que hoje no futebol, cada vez mais está se desenvolvendo, eu
acredito que três jogadoras não fazem a diferença, não conseguem ganhar”,
ressalta.
Para Priscila, a conquista da medalha de prata nos
Jogos Olímpicos de Paris, foi essencial para trazer os torcedores de volta para
a Seleção Feminina. “Ninguém estava esperando. Devido aos resultados maus da
Seleção, a gente conseguiu surpreender muito. Acredito que esse foi um passo
muito importante para a gente trazer o torcedor de volta para a Seleção
Brasileira Feminina”, disse.
A principal missão da Seleção Feminina em 2025 será
a disputa da Copa América, que acontecerá entre os meses de julho e agosto no
Equador. O Brasil busca manter a hegemonia no continente e conquistar a
competição pela nona vez, sendo a quinta em sequência. O torneio também vale
vaga para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 e o Pan Americano de 2027 no
Peru.
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