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domingo, 19 de janeiro de 2025

TANGARAENSES - Recuo no Pix e alta nos alimentos provocam reflexos negativos na popularidade de Lula, que cobra plano de ministros

 


Preocupado com os reflexos negativos na própria popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de ministros a definição de estratégias para reduzir danos diante das crises provocadas pelas mudanças no Pix e a inflação dos alimentos. Os efeitos atingem justamente setores que o Palácio do Planalto vê como essenciais na tentativa de reeleição em 2026, como os trabalhadores informais e parcelas da classe média. A criação às pressas de uma campanha publicitária e a ampliação na oferta de crédito para produtores rurais, com o objetivo de estimular a oferta, são algumas das medidas já em desenvolvimento ou em estudo no governo.

Na quarta-feira, a Receita Federal anunciou a revogação de uma medida que ampliou a fiscalização sobre movimentações financeiras, como as feitas via Pix. O recuo ocorreu após uma sangria intensa nas redes sociais, com a falsa narrativa de que o governo taxaria as transações, o que não estava previsto na norma. Enquanto um vídeo do deputado Nikolas Ferreira dominava as plataformas — até sexta-feira, eram 314 milhões de visualizações só no Instagram —, a administração petista seguia acuada.

Lula convocou uma reunião de emergência e, diante dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Sidônio Palmeira (Comunicação Social) e do chefe da Receita Federal, Robinson Barreirinhas (chefe da Receita Federal) à mesa, Lula determinou a volta atrás e a edição de uma Medida Provisória (MP) para “blindar” o Pix e tentar conter a oposição.

— Não se corre atrás de fake news, que, como vimos, podem causar um grande mal à nação — afirmou Sidônio ao GLOBO.

Aliados de Lula avaliam que a edição da norma foi baseada apenas em aspectos técnicos e faltou uma análise política mais ampla que desse conta dos potencias efeitos negativo. Um outro grupo, no entanto, acredita que o governo deveria ter insistido e ido para o embate, como expôs o ministro Renan Filho (Transportes) em entrevista. Pesquisa da Quaest identificou que 67% das pessoas acreditaram que o Pix seria taxado, e as menções negativas ao governo nas redes chegaram a representar 86% do total.

Agora, frentes distintas foram abertas para mitigar o prejuízo. Uma campanha publicitária que já havia sido encomendada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) às agências sofreu uma modificação e vai explicar a revogação e, principalmente, desmentir que a gestão taxaria o Pix. As peças, no entanto, só deverão ir ao ar dias depois do pico de menções ao tema nas redes sociais. Pesquisa Datafolha de dezembro do ano passado mostra que 35% da população avalia a gestão como “ótima ou boa”, patamar semelhante dos que a veem como “ruim ou péssima” (34%).

Outra linha de atuação é capitaneada pela Advocacia-Geral da União (AGU). O órgão pediu à Polícia Federal a abertura de investigação para apurar eventuais crimes contra a ordem econômica e avalia uma ação contra Nikolas, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pela publicação de vídeos que teriam aumentado a desconfiança sobre o Pix, como mostrou a colunista Bela Megale. Em meio à onda de fake news, o número de transações com Pix teve a maior queda no início de janeiro, na comparação com o mês anterior, desde que o sistema foi implantado.

— Desinformar com o explícito objetivo de obter ganhos políticos ou econômicos revela o desdém com o bem-estar do povo brasileiro — acrescenta Messias.

Não é apenas o Pix, no entanto, que vem preocupando o Palácio do Planalto. Os preços elevados nos supermercados fizeram Lula distribuir tarefas aos ministros. Em conversas com os auxiliares, o presidente tem questionado detalhes sobre a oscilação nos preços e determinado a formulação de políticas públicas que contenham a inflação. Os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, já receberam essa missão.

A inflação fechou 2024 com alta de 4,83%, acima do teto da meta. O grupo alimentação e bebidas foi o que teve o maior impacto sobre a inflação no ano, com alta de 7,69%.

O ponto se torna sensível especialmente após um campanha eleitoral repleta de promessas de “picanha e cerveja” para a população. Pesquisas encomendadas pelo governo mostram que o principal motivo de mau humor com o presidente é o preço da comida. A despeito de explicações que envolvem itens complexos como a alta do dólar, Lula vem cobrando alternativas.

Por isso, o tema vem sendo tratado como prioridade no Ministério da Agricultura. Integrantes da pasta, no entanto, fazem a ressalva que as medidas que podem ser tomadas não têm resultado imediato. O estímulo para o aumento da produção de itens da cesta básica, por exemplo, levaria pelo menos um ano para ter reflexos. Uma das opções cogitadas internamente é a adoção de linhas com juros mais acessíveis para produtores de hortifrutigranjeiros. A pasta também vem monitorando de perto os preços da carne e do café, e uma análise mais detalhada sobre os principais itens impactados está sendo feito.

O Globo

 

 

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