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domingo, 19 de janeiro de 2025

TANGARAENSES - Editorial Folha de São Paulo: Surra no Pix expõe deficiência grave da gestão Lula

 


Surra no Pix expõe deficiência grave da gestão Lula

Gastança, sanha arrecadatória e desconexão do governo e do PT com o mundo do trabalho elevam desconfiança da população

Um governo que abriu a tampa do gasto público antes mesmo de tomar posse, abraçou toda e qualquer medida para aumentar a arrecadação, relaxou metas fiscais em vez de cortar despesas e desprezou reiterados alertas sobre a explosão da sua dívida terá obviamente baixa credibilidade diante de largos contingentes da população quando promete fazer o contrário do que tem feito.

Tampouco se verá livre de grande desconfiança um partido cujos quadros se desconectaram há muito tempo da realidade da volumosa fatia dos trabalhadores que batalha pelo pão amiúde na informalidade, deseja empreender e tem ojeriza a intromissões da burocracia nos seus afazeres.

Não há, portanto, grande surpresa na surra que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou na opinião pública por ocasião da tentativa de ampliar os mecanismos de comunicação obrigatória à Receita Federal de movimentações feitas por Pix.

Decerto ondas de notícias falsas, dando conta por exemplo de que o governo passaria a tributar as transações na plataforma de pagamentos, circularam pelas redes sociais. Mas notícias falsas ocorrem em praticamente todos os assuntos nos dias de hoje, à direita, ao centro e à esquerda.

A explicação difícil, que deveria ser compreendida pelo governismo, é sobre por que desta vez a repercussão foi tão avassaladora a ponto de obrigar ministros e presidente atônitos a revogar a medida. É que não havia apenas demagogia oposicionista nem falsificações nessa enorme reação.

O governo afirmava, corretamente, que não haveria taxação do Pix, mas omitia estrategicamente que o objetivo no final das contas seria aumentar a fiscalização e, portanto, a arrecadação.

Foi esse o flanco explorado pela oposição. A mensagem de que o feirante, o motorista, a vendedora ambulante e a cabeleireira estariam mais expostos às garras do Leão, longe de ser falsa ou inverossímil, espalhou-se depressa e amalgamou antipatia maciça contra a intenção do governo.

Em nada ajudou a resposta inicial do oficialismo, de dizer que só criminosos estariam interessados na anulação da medida.

Mais preocupantes foram as iniciativas do governo de acionar a Polícia Federal e a Advocacia-Geral da União no caso. Daí até que se comece a criminalizar o exercício da oposição e a liberdade de crítica dos cidadãos vai uma distância pequena.

Não será pela tentativa de controlar o que o outro lado diz que a administração petista conseguirá equilibrar esse jogo. Uma corrida desesperada para distribuir benesses também só tenderá a agravar o problema de base —a gastança— sem melhorar o apreço pelo Executivo federal.

Não há atalhos que não sejam custosos econômica e politicamente. Aderir sem rodeios ao cânone da responsabilidade orçamentária e controlar despesas é o melhor que o governo Lula tem a fazer se quiser evitar dissabores na eleição do ano que vem.

Editorial Folha de São Paulo

 

 

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