Surra no Pix expõe deficiência grave da gestão Lula
Gastança, sanha arrecadatória e desconexão do
governo e do PT com o mundo do trabalho elevam desconfiança da população
Um governo que abriu a tampa do gasto público antes
mesmo de tomar posse, abraçou toda e qualquer medida para aumentar a
arrecadação, relaxou metas fiscais em vez de cortar despesas e desprezou
reiterados alertas sobre a explosão da sua dívida terá obviamente baixa credibilidade
diante de largos contingentes da população quando promete fazer o contrário do
que tem feito.
Tampouco se verá livre de grande desconfiança um
partido cujos quadros se desconectaram há muito tempo da realidade da volumosa
fatia dos trabalhadores que batalha pelo pão amiúde na informalidade, deseja
empreender e tem ojeriza a intromissões da burocracia nos seus afazeres.
Não há, portanto, grande surpresa na surra que o
governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou na opinião pública por ocasião
da tentativa de ampliar os mecanismos de comunicação obrigatória à Receita
Federal de movimentações feitas por Pix.
Decerto ondas de notícias falsas, dando conta por
exemplo de que o governo passaria a tributar as transações na plataforma de
pagamentos, circularam pelas redes sociais. Mas notícias falsas ocorrem em
praticamente todos os assuntos nos dias de hoje, à direita, ao centro e à
esquerda.
A explicação difícil, que deveria ser compreendida
pelo governismo, é sobre por que desta vez a repercussão foi tão avassaladora a
ponto de obrigar ministros e presidente atônitos a revogar a medida. É que não
havia apenas demagogia oposicionista nem falsificações nessa enorme reação.
O governo afirmava, corretamente, que não haveria
taxação do Pix, mas omitia estrategicamente que o objetivo no final das contas
seria aumentar a fiscalização e, portanto, a arrecadação.
Foi esse o flanco explorado pela oposição. A
mensagem de que o feirante, o motorista, a vendedora ambulante e a cabeleireira
estariam mais expostos às garras do Leão, longe de ser falsa ou inverossímil,
espalhou-se depressa e amalgamou antipatia maciça contra a intenção do governo.
Em nada ajudou a resposta inicial do oficialismo, de
dizer que só criminosos estariam interessados na anulação da medida.
Mais preocupantes foram as iniciativas do governo de
acionar a Polícia Federal e a Advocacia-Geral da União no caso. Daí até que se
comece a criminalizar o exercício da oposição e a liberdade de crítica dos
cidadãos vai uma distância pequena.
Não será pela tentativa de controlar o que o outro
lado diz que a administração petista conseguirá equilibrar esse jogo. Uma
corrida desesperada para distribuir benesses também só tenderá a agravar o
problema de base —a gastança— sem melhorar o apreço pelo Executivo federal.
Não há atalhos que não sejam custosos econômica e
politicamente. Aderir sem rodeios ao cânone da responsabilidade orçamentária e
controlar despesas é o melhor que o governo Lula tem a fazer se quiser evitar
dissabores na eleição do ano que vem.
Editorial Folha de São Paulo
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