Cláudio Oliveira
Repórter
A costureira Marionete Medeiros iniciou sua vida
profissional atendendo da forma tradicional suas clientes no ateliê que criou
em São José do Seridó, a 245 km de Natal, até que viu no Programa Pró-Sertão,
que interioriza a Indústria Têxtil através das oficinas de costura, a
oportunidade de crescer. Quinze anos depois, ela cresceu o negócio e dirige
duas empresas de costura que empregam 60 pessoas. Mas Marionete pode ir além e
produzir sua marca própria e vender diretamente ao consumidor final. Para
tanto, precisa do estímulo governamental de modo a eliminar a diferença do ICMS
na compra de matéria-prima de outros estados.
A expectativa é de que, se isso ocorrer, haja um
crescimento de 15% a 20% no setor. Esse movimento das oficinas de costura
também pode ser chamado de emancipação do negócio, muito embora não haja planos
de deixarem o Pró-Sertão, pelo qual elas produzem para grandes empresas do ramo
de vestuário, como a Guararapes e a Cia Hering.
Marionete é a atual presidente da Associação
Seridoense de Confecções (ASCONF) e, por enquanto não produz marca própria,
como outros empreendedores começaram a fazer. Ainda há o obstáculo que faz com
que os produtos das oficinas de costura potiguares percam competitividade. “A
gente vem buscando apoio do Governo do Estado porque esse novo modelo, que vejo
como caminho natural, vai desde a compra do tecido dos insumos até o cliente
final. Para isso, temos uma diferença de ICMS na entrada da mercadorias, dos
insumos, de outros estados”, explica.
Na visão dos empresários do segmento, ampliar o modelo
de negócio é um novo nicho que vai fazer as empresas crescerem. “No momento,
todas as nossas expectativas estão nesse incentivo para fomentar as empresas
que estão desenvolvendo esse trabalho. Eu não tenho marca própria, mas
dependendo do que a gente conseguir, é um projeto meu começar com um produto
próprio”, diz Marionete.
Seus planos são semelhantes aos de outros donos de
oficinas têxteis. Eles se baseiam no que aconteceu com os produtores de bonés
do Seridó, que começaram produzindo para campanhas eleitorais e para empresas e
atualmente criaram suas marcas próprias e também atendem o cliente final.
O vice-presidente da ASCONF, Luiz Lupércio Junior,
do município de Bodó, diz que a diferença de alíquota na entrada da mercadoria
chega a 13%, ou seja, os insumos que eles compram para produzir os produtos
ficam 13% mais caros. “Essa diferença nos torna menos competitivos que outros
estados que têm uma alíquota de 7% a 10%. Sem essa diferença a gente pode ter
um produto com preço mais competitivo para ampliar a oferta em todo o país”,
explica.
Ele diz que a estimativa é de que, no momento em que
for possível ter o benefício, o setor apresente um crescimento anual de até
18%. “A empresa passa a contratar mais porque precisará de setor comercial, de
corte, publicidade, de embalagem… promovendo uma ampliação estruturada e
departamentizada. Vamos estar gerando mais postos de trabalho”, estima o
empresário.
As perspectivas se explicam porque o setor também
está de olho no e-commerce, vendo nesse modelo de vendas uma oportunidade de
ampliar mercado. “Passamos a compreender que o e-commerce é um processo de
evolução e amadurecimento dos negócios. Temos que prezar por essa transformação
observando os outros estados que passaram por isso, buscando o consumidor final
do modo certo, com o produto e preço certo”, diz Lupércio.
Segundo a ASCONF, atualmente há 110 oficinas de
costura em mais de 30 municípios potiguares. A maior parte instalada no Seridó.
Juntas elas geram cerca de 4 mil empregos diretos.
Benefício fiscal facilita ascensão, diz
Sebrae
Parceiro do Governo do Estado no Programa de
Interiorização da Indústria Têxtil (Pró-Sertão), o Sebrae/RN, tem acompanhado o
movimento da oficinas de costura rumo à ampliação dos negócios.
O diretor técnico da instituição, João Hélio
Cavalcanti, diz que o pleito é justo uma vez que a operação desses
empreendedores se dá junto a poucas empresas que compram seus produtos. “Na
falta de um grande cliente, terão como sobreviver atendendo milhares de
clientes, crescer e até gerar marca forte e competitiva. O benefício fiscal
facilita a ascensão no mercado, seja na aquisição de novos equipamentos e
materiais, ou na comercialização”, enfatizou.
As oficinas iniciaram no Pró-Sertão o modelo de
produção para grandes marcas em 2013, contribuindo para a geração de emprego e
renda em municípios localizados em regiões de baixo desenvolvimento econômico.
João Hélio destaca que o principal ganho na
ampliação do negócio, enquanto fortalecimento da economia potiguar, é a geração
de emprego e renda. “Com certeza terão que atender maiores volumes de produção
e isso requer mão-de-obra ampliada para atender a demanda. Ter marca própria,
com benefício tributário e apoio dos governos, vai ajudar na arrecadação de
receita para o estado, um vez que o incremento da massa salarial movimenta a
economia”, aponta o diretor do Sebrae/RN.
O governo do Estado diz que avalia a proposta da
suspensão da alíquota de operação interestadual. Por ora, a governadora Fátima
Bezerra, assegurou que o regime especial já existente de 2% relativo às
empresas do setor de vestuário para a venda dos produtos poderá ser aplicado
também nas oficinas de costura. O pleito inicial de 1% exige avaliação técnica
e, de acordo com o Secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico do Estado,
Jaime Calado, será trabalhado pela Sefaz/RN por que exige aprovação do Conselho
Nacional de Secretários da Fazenda (Confaz).
“A governadora tem interesse em atender esse pleito,
mas é algo atrelado ao Confaz. Se o Estado der um incentivo desse, isolado,
pode ser derrubado. Por isso o Governo está consultando o Confaz e, se não
houver impedimento, é provavel que seja concedido”, declarou o secretário.
Fiern endossa pleito das facções têxteis
do RN
A Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte
(Fiern) endossou o pleito das oficinas de costura junto ao Governo do Estado,
considerando que o projeto Pró-Sertão, do qual também é apoiadora, é uma das
mais importantes iniciativas para o desenvolvimento da economia potiguar.
O presidente da Fiern, Roberto Serquiz, relembra que
cidades inteiras dependem dessa atividade, que é compatível com o semiárido,
sendo uma vocação da região e, com o amadurecimento da atividade, essas
oficinas começam a construir novos modelos. “Mesmo dentro da modalidade de
prestação de serviço, existe a possibilidade de que a própria oficina de
costura adquira o tecido e os aviamentos. Para que isso ocorra, ela precisa de
um regime especial de tributação para que seja competitiva em relação aos
outros Estados, porque a compra dos insumos tem um peso muito grande na
composição final do preço”, destaca.
Quanto a esse novo modelo de prestação de serviço,
Serquiz comenta que agrega valor e melhora a rentabilidade das empresas no
interior. “Agora algumas oficinas também trabalham a possibilidade de marcas
próprias para entrarem no mercado. Essas oficinas precisam de todo o apoio,
porque é um mercado muito competitivo, sobretudo no Nordeste. Independentemente
de ser para a entrega da prestação de serviço, o produto pronto, comprando
tecidos e aviamentos; ou para a produção de marca própria, as oficinas precisam
muito do incentivo do governo, através dos programas diversos que estão
disponíveis e de novos regimes especiais de tributação”, pontua.
Ele considera que a produção e negociação de marcas
próprias pelas oficinas de costura ainda está em fase inicial, mas de forte
apelo em função da diminuição da demanda ocasionada pelo e-commerce. Para ele,
é importante que os empreendedores busquem alternativas para se fortalecer mais
e manter seu quadro de funcionários nos momentos em que a demanda com a grande
indústria diminui, e há urgência em se garantir a competitividade e a
sustentabilidade dessas Oficinas. Neste sentido, diz que a Fiern oferece apoio
técnico, através do Senai, atuando na parte de estilo, criação de coleção e
modelagem, para que possam trabalhar a marca própria.

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