Em sua nova resolução, apresentada como bússola para
um quarto mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT chancela que nada esqueceu
e nada aprendeu. O plano é fiel ao mesmo receituário que produziu estagnação,
desperdício e a pior recessão da história moderna brasileira: uma quimera
desenvolvimentista que promete prosperidade no futuro dobrando a aposta nos
fracassos do passado – com o dinheiro alheio.
O documento reedita o mito do Estado “estrategista”,
capaz de planejar cadeias produtivas e alavancar setores vencedores como se
comandasse uma economia de laboratório. Tudo se passa como se, após cinco
mandatos petistas, o País só não tivesse enriquecido por causa de um mercado
hostil e de um Estado não suficientemente musculoso. A promessa é conhecida:
desta vez, o governo vai coordenar, induzir e proteger até fazer o Brasil
finalmente decolar. A realidade também é conhecida: sempre que Brasília mete
sua pata nas forças produtivas, o que decola é o gasto público – e o que
aterrissa é o crescimento.
A fantasia do “planejamento estratégico” só serviu
para anabolizar governos pródigos em selecionar perdedores econômicos –
torrando com eles até o último centavo do contribuinte – para alavancar
vencedores políticos. Tudo o que a resolução petista descreve como ousadia deu
em “campeões nacionais” quebrados, bilhões enterrados em obras inacabadas e
estatais hipertrofiadas, aparelhadas e saqueadas. A pretexto de produzir
“vencedores”, o PT multiplica dependentes.
Na mitologia petista, o crescimento dos anos 2000
não foi resultado de um vento externo que o governo tratou de desperdiçar, mas
uma epopeia: o “milagre lulista” sabotado por forças conspiratórias. O fato é
que, quando a maré das commodities baixou, emergiu a realidade: consumo com
esteroides, subsídios obscenos, desonerações ineficientes, represamento de
preços, contabilidade criativa, e, enfim, colapso fiscal e recessão. O Brasil
cresceu apesar do PT e afundou por causa do PT.
Sob a retórica da “soberania produtiva”, o partido
continua, no fundo, a tratar abertura comercial como armadilha imperialista e
competição como ameaça existencial. Continua a se apoiar no tripé capenga –
tarifas, conteúdo local, subsídios –, ignorando que economias que enriqueceram
– como a Europa pós-guerra, Coreia do Sul, Taiwan – fizeram o oposto: abriram
mercados, atraíram tecnologia, ampliaram produtividade. O PT não disfarça sua
admiração pelo atual modelo chinês intervencionista – e em desaceleração –,
ignorando a China que deu certo: a das reformas pró-mercado e da abertura
iniciadas por Deng Xiaoping. A lição real – de que crescimento sustentável
exige competição e previsibilidade macroeconômica – é a que o partido se nega a
aprender há 40 anos.
No plano fiscal, o documento é um mergulho no
autoengano, tratando disciplina como fetiche neoliberal e juros como intriga de
mercado. Rebatiza gasto como “investimento”, como se semântica substituísse
aritmética. Mas não é o mercado que eleva os juros, é o déficit que os infla,
inibindo investimentos e sufocando a produtividade.
O partido promete repetir tudo com mais afinco, como
se a loucura não fosse insistir nas mesmas escolhas esperando resultados
diferentes. Mas a loucura petista tem método: sua resolução é menos um programa
de crescimento que um projeto de poder. E literalmente reacionário: reage à
modernidade econômica com soluções falidas do século 20. Recicla o
desenvolvimentismo das ditaduras de Vargas e dos militares, mas subtrai dele
até o que havia de modernizante. Na prática, resta só o assistencialismo
populista – com um caixa cada vez mais comprimido por um Estado gordo e voraz.
O modelo petista redistribui para dentro: beneficia carreiras públicas e
lobbies oligárquicos, enquanto sufoca pequenos negócios. É uma política social
para clientes, disfarçada de projeto para o “povo” – que sobra com as migalhas
assistencialistas devoradas pelo custo de vida.
Um novo mandato com esse roteiro não é um risco
hipotético. É a contratação de uma nova crise, desta vez sem boom das
commodities e sem folga fiscal. A única coisa à qual o Estado manejado pelo PT
induz é ao subdesenvolvimento – e cobra caro por isso.
Opinião do Estadão