segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Indefinição de Walter Alves pode levar RN a eleição indireta para governador em 2026

 


O Rio Grande do Norte chega ao fim de 2025 sob um cenário político marcado por incertezas que vão além do calendário eleitoral e atingem diretamente o funcionamento das instituições estaduais. A combinação entre a anunciada renúncia da governadora Fátima Bezerra (PT), prevista para abril de 2026, e a indefinição do vice-governador Walter Alves (MDB) sobre assumir o cargo abriu espaço para uma sucessão incomum e sem precedentes recentes na política potiguar.

Até poucos meses atrás, a transição no comando do Executivo estadual era tratada como um processo natural. Com a saída de Fátima Bezerra para disputar uma vaga no Senado, caberia a Walter Alves assumir o governo e conduzir o Estado até o fim do mandato, em dezembro de 2026. Esse roteiro era visto como parte do acordo político que sustentou a atual gestão e garantiu estabilidade institucional ao longo do segundo mandato da governadora.

O cenário começou a mudar com declarações recentes do próprio vice-governador, nas quais ele admitiu a possibilidade de não assumir o Executivo e disputar uma vaga de deputado estadual. A fala alterou o eixo do debate político e trouxe à tona um quadro mais complexo, que passou a envolver não apenas cálculos eleitorais, mas também riscos institucionais para o Estado.

Caso se confirmem a renúncia da governadora e a recusa do vice em assumir o cargo, o RN pode enfrentar uma situação rara: a vacância simultânea dos cargos de governador e vice-governador. Pela legislação vigente, a sucessão recairia inicialmente sobre o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ezequiel Ferreira (PSDB). No entanto, o parlamentar já sinalizou que não tem interesse em ocupar o cargo, já que a posse o tornaria inelegível nas eleições de 2026.

Com uma eventual recusa de Ezequiel, a responsabilidade passaria ao presidente do Tribunal de Justiça do RN (TJRN), desembargador Ibanez Monteiro. Com isso, o Estado poderia ser levado a uma eleição indireta na Assembleia Legislativa para a escolha de um governador que cumpriria um mandato-tampão até o fim do período. É uma situação rara no RN, que retira do eleitor a escolha direta e transfere a decisão para a Assembleia Legislativa.

Esse risco institucional é um dos fatores que elevam a tensão política neste fim de ano. Parlamentares, lideranças partidárias e integrantes do governo avaliam que a indefinição prolongada compromete a previsibilidade administrativa e fragiliza o ambiente político. O receio é ainda maior em um Estado que enfrenta dificuldades fiscais, depende de estabilidade para conduzir políticas públicas e precisa manter negociações financeiras em andamento.

Além do aspecto jurídico, o impasse também expõe fissuras na base aliada do governo. A aliança entre PT e MDB, que sustentou a gestão Fátima Bezerra e garantiu espaços estratégicos ao partido de Walter Alves, passou a ser publicamente tensionada. Declarações de aliados e adversários políticos indicam a possibilidade de novos arranjos para 2026, o que ampliou o clima de incerteza.

Parlamentares do PT passaram a cobrar um posicionamento mais claro do vice-governador. O argumento é de que acordos políticos firmados anteriormente não podem ser substituídos por indefinições ou anúncios indiretos. Nos bastidores, a avaliação é de que a falta de clareza prejudica tanto o planejamento administrativo quanto a organização eleitoral da base governista.

Nesse contexto, a sucessão estadual deixou de ser apenas uma disputa por nomes e passou a envolver o funcionamento das instituições. A possibilidade de uma eleição indireta, ainda que prevista em lei, levanta questionamentos sobre legitimidade política, governabilidade e o impacto de um mandato-tampão em pleno ano eleitoral. Ao encerrar 2025, o RN se vê diante de uma encruzilhada: preservar a previsibilidade institucional ou ingressar em um processo sucessório marcado por soluções excepcionais.

Renúncia de Fátima aciona efeito dominó na sucessão estadual

A decisão da governadora Fátima Bezerra de renunciar ao cargo em abril de 2026, para disputar o Senado, tornou-se o ponto inicial de uma reação em cadeia que reorganizou o tabuleiro político do Estado. O movimento, esperado dentro do calendário eleitoral, ganhou contornos mais delicados diante da possibilidade de o vice-governador não assumir o Executivo.

A renúncia impacta diretamente a base governista, os planos do PT para 2026 e a própria estratégia de continuidade administrativa. Nos bastidores, chegou-se a especular que a indefinição de Walter Alves poderia levar Fátima Bezerra a rever sua decisão e concluir o mandato. A hipótese é considerada remota, mas ajuda a dimensionar o grau de incerteza instalado no cenário político estadual.

Entre o governo e as urnas, o cálculo eleitoral de Walter Alves

Ao admitir publicamente que pode não assumir o governo do Estado e disputar uma vaga na Assembleia Legislativa, Walter Alves reposicionou sua estratégia para 2026. O vice-governador passou a tratar a sucessão não apenas como um dever institucional, mas como uma decisão ligada ao fortalecimento do MDB no processo eleitoral.

A movimentação envolve a construção de uma nominata competitiva para deputado estadual e a avaliação de alianças para o governo, incluindo uma possível aproximação com o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil). Além do cálculo político, pesa na decisão o cenário fiscal do Estado, marcado por déficit elevado e limitações orçamentárias. 

Ao fim de 2025, Walter Alves se consolida como peça central de um xadrez político que pode redefinir tanto o comando do governo quanto o equilíbrio de forças para as eleições de 2026.

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