A barreira ortopédica instalada pelo Governo do Rio
Grande do Norte em Macaíba, no Hospital Regional Alfredo Mesquita, para
desafogar o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, completa 49 dias
desde a abertura dos serviços. Após a instalação do serviço, o Governo do RN
comemorou, nas redes sociais, a manutenção dos corredores da unidade sem macas
com pacientes internados. No entanto, o esvaziamento do corredor não pode ser
mantido e novamente os corredores da unidade foram utilizados para manter
pacientes. No final da tarde desta quinta-feira (27), pelo menos 10 pacientes
aguardavam em um dos corredores da unidade, conforme obtido com EXCLUSIVIDADE
pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE. A reportagem identificou a presença de
pacientes nos corredores dois dias seguidos: na última quarta (26) e nesta
quinta (27).
Uma das acompanhantes de uma paciente, que optou por
não se identificar, revelou que estava aguardando no corredor desde
quarta-feira (26). A cunhada de 65 anos teria sofrido uma fratura no braço e
estava com o membro enfaixado e mobilizado, enquanto aguardava em uma maca no
corredor por uma prometida cirurgia. A acompanhante aguardava sentada, ainda
sem previsão definida. Segundo ela, a equipe que as atendeu alegou que não
existia espaço nas salas. Questionada sobre a situação do Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel e as razões da retomada de pacientes aos corredores, a
Secretaria de Comunicação do Governo do Estado não retornou até o fechamento
desta matéria.
Aberta no dia 7 de fevereiro, a barreira começou a
realização dos procedimentos cirúrgicos no dia 25 de fevereiro. Durante esse período,
a unidade realizou 102 cirurgias e 834 atendimentos até o início desta
quarta-feira (26), conforme dados repassados pela Secretaria Estadual de Saúde
(Sesap) à reportagem da TRIBUNA DO NORTE na última quarta-feira (26). Em
publicação nas redes sociais no dia 21 de março, a governadora Fátima Bezerra
comemorava os corredores do Walfredo Gurgel vazios há um mês, atribuídos à
implementação do novo serviço. “Walfredo desafogado e pacientes satisfeitos”,
escreveu. Nos últimos meses do ano passado, o Walfredo chegou a ter mais de 40
pacientes nos corredores. Ainda que as macas tenham voltado, o número de
internações em local precário ainda parece ser menor do que no período anterior
à barreira.
A volta dos pacientes aos corredores do Walfredo foi
relatada por outra acompanhante, que também não quis se identificar. Ela afirma
que chegou pela manhã desta quinta-feira (27). A paciente, já idosa, sofreu um
acidente doméstico e fraturou o ombro e o pé. Após o atendimento e constatada a
necessidade de uma cirurgia, foram direcionadas ao corredor, enquanto ela
aguardava em uma maca. A acompanhante ficou esperando em pé. Ao fim da tarde,
já sem suportar a situação em que foram colocadas, decidiram deixar o Walfredo
Gurgel e a paciente assinou um termo se responsabilizando. Ela afirma que
deverá fazer a cirurgia na rede particular.
A iniciativa da barreira ortopédica é voltada para
atendimentos de baixa e média complexidade na Região Metropolitana de Natal. De
acordo com a Sesap, o serviço tem capacidade de realizar até oito cirurgias por
dia, além de atendimentos de sutura, imobilização, reduções e outros de baixa
complexidade. A implementação da nova estrutura é fruto de uma articulação do
Governo do RN junto ao Ministério da Saúde, que assegurou um investimento de R$
10,8 milhões para financiar os atendimentos no Hospital Regional de Macaíba.
Na avaliação de Geral do Ferreira, presidente do
Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed-RN), a barreira ortopédica não tem como ser
uma solução definitiva para os corredores do Walfredo. “É absolutamente
previsível que isso seja temporário. A barreira é para baixa e média
complexidade, quem lota os corredores é alta complexidade que precisa de
cirurgia. O que pode ocorrer é desobstruir um pouco a circulação de pessoas”,
afirma.
Ainda segundo Geraldo, outro fator que pode estar
contribuindo para o retorno de pacientes dos corredores seria o uso de uma das
salas da urgência para a realização de cirurgias eletivas. “Isso retarda os
procedimentos cirúrgicos de urgência, que é mais grave ainda”, pontua. O
presidente do Sinmed-RN indica que o cenário só terá uma mudança real após
abertura de leitos em quantidades significativas, seja através do Novo Hospital
Municipal de Natal ou do Hospital Metropolitano, que o Governo lançou edital
para construção em dezembro de 2024.
Discutida em um processo judicial que visava
resolver o problema de lotação dos corredores do Walfredo Gurgel, a proposta da
barreira ortopédica entrou em discussão pela primeira vez em novembro de 2024,
com a sugestão do Governo Estadual ratear os custos dos serviços com os
municípios, na estimativa de R$ 540 mil para as prefeituras citadas. Porém, de
início, os prefeitos negaram a ideia alegando inviabilidade financeira. Com a
garantia do Ministério da Saúde em custear o serviço, o projeto foi aprovado
unanimemente pelos municípios.
Anestesistas ameaçam parar o atendimento
Os constantes atrasos do governo podem levar outra
cooperativa a suspender a prestação dos seus serviços. Desta vez, a Cooperativa
dos Médicos Anestesiologistas . Em comunicado oficial publicado nesta
quarta-feira (26), a Cooperativa alertou para a situação crítica ocasionada
pelo atraso no pagamento de procedimentos eletivos contratados pelo Estado.
De acordo com a COOPANEST, o Governo se comprometeu
a quitar os valores pendentes até esta sexta-feira (28). Caso o pagamento não
seja realizado dentro do prazo divulgado, os serviços prestados pela
Cooperativa deixarão de ser oferecidos a partir do dia 1º de abril.
A paralisação dos atendimentos pode afetar
diretamente hospitais estratégicos da rede pública, entre eles: Deoclécio
Marques (Parnamirim), Walfredo Gurgel (Natal), Santa Catarina (Natal), Maria
Alice Fernandes (Natal), Lindolfo Gomes (Santo Antônio), Hospital Regional de
João Câmara, Hospital da Polícia Militar (Natal).
Ja á paralisação dos plantonistas da Cooperativa
Médica foi suspensa após a Sesap formalizar um novo acordo junto a Cooperativa
para efetuar os repasses salariais que estão atrasados há, pelo menos, três
meses.
Em comunicado, a Coopmed/RN informou que a ordem
bancária será encaminhada pela Sesap ainda nesta quinta-feira (27), assegurando
que o pagamento dos profissionais será efetuado na próxima segunda-feira (31).
A Cooperativa reforçou que o acordo feito anteriormente com a pasta, referente
ao repasse do dia 10 e 20 de cada mês, continua mantido.
“Informamos aos médicos plantonistas da Sesap que
estavam em paralisação que acabamos de formalizar um acordo com a Sesap. A
ordem bancária será encaminhada ao banco ainda hoje, garantindo que o pagamento
será efetuado na próxima segunda-feira, dia 31 de março de 2025. Com isso,
damos por encerrada a paralisação”, disse a Coopmed/RN.