A falha registrada no acionamento dos motores da
aeronave que levaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de Belém (PA)
à Ilha do Marajó (PA) é reflexo dos sucessivos cortes no orçamento das Forças
Armadas, segundo fontes da alta cúpula militar ouvidas pela reportagem da CNN
Brasil.
O presidente Lula passou por um susto nesta
sexta-feira (3), em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), antes da
decolagem em Belém. Houve um problema técnico durante o acionamento dos motores
aeronave, modelo Amazonas C105 (de fabricação da Airbus). Não se trata de uma
aeronave presidencial.
O avião é usado com frequência para transporte de
tropas e cargas, além do deslocamento do presidente quando é necessário pousar
em pistas curtas. Militares afirmam que o episódio não é um caso pontual ou exclusivo
do governo Lula, mas resultado de uma década de penúria orçamentária.
Segundo eles, os sucessivos cortes dificultam não
apenas a modernização dos equipamentos, mas também, em alguns casos, chegam a
comprometer a manutenção dos produtos de defesa.
Verba para manutenção e modernização da
frota reduziu 41% em 10 anos
No caso da FAB, por exemplo, a verba destinada a
despesas discricionárias – direcionada para manutenção e modernização da frota
– sofreu uma redução de 41% nos últimos 10 anos, em valores reais (já
corrigidos pela inflação).
Frota de aeronaves da FAB diminuiu de
526 para 319
Dados da Força Aérea mostram ainda que a frota de
aeronaves brasileiras caiu de 526 em 2014 para 319 em 2025.
Horas de voo reduzidas em 50%
A penúria orçamentária também impactou as horas de
voo da Aeronáutica, consideradas essenciais para a formação prática dos
pilotos. Nos últimos 10 anos, o número de horas de voo da FAB foi reduzido em
cerca de 50%.
“Como não tivemos um investimento compatível com as
necessidades das atividades, seja da aquisição de suprimento ou manutenção,
tivemos que ir reduzindo o número de aeronaves que temos condições de operar”,
relatou o tenente-brigadeiro do Ar Walcyr Josué de Castilho Araújo, em
audiência pública no Senado no início de setembro.
Evasão de pilotos para o setor privado
Com a carga de voo abaixo do considerado adequado,
as Forças Armadas têm enfrentado a evasão de pilotos, que deixam o serviço
público para buscar melhores condições de trabalho no setor privado.
A redução no orçamento também afeta a infraestrutura
da FAB, incluindo pistas e hangares.
“PEC da Previsibilidade”
Com o intuito de reduzir a precarização, os
militares e o ministro da Defesa, José Múcio, têm defendido a PEC (Proposta de
Emenda Constitucional) da previsibilidade de defesa.
A chamada “PEC da Previsibilidade” estabelece a
aplicação de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) na área de defesa.
A proposta, no entanto, está parada no Senado desde
2023. Designado em abril, o relator na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)
é o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso.
A PEC em análise no Senado segue os parâmetros
recomendados pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que orienta
os países-membros a destinar esse percentual mínimo à área.
CNN Brasil
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