A praia de Ponta Negra voltou a ficar alagada nesta
semana. Desta vez, a causa não foi a chuva, e sim a maré alta. Com as cotas
elevadas, a água do mar avançou sobre a praia e atingiu até o Morro do Careca.
Uma cerca instalada no local chegou a ser derrubada com a força da água.
Esta foi uma das marés mais intensas do ano. Isso
ocorreu por causa da Superlua, quando a Lua fica mais perto da Terra e aparece
maior e mais brilhante no céu. Além disso, houve influência dos fortes ventos
típicos deste período do ano.
Representantes da Prefeitura do Natal enfatizam que
o fenômeno ocorrido é totalmente natural e que o aterro hidráulico (nome
técnico da engorda) impediu que os danos fossem muito maiores. A gestão
municipal lembra que já era previsto que parte do aterro seria alagada com o
avanço do mar nos tempos de maré cheia.
O secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo,
Thiago Mesquita, afirmou que o cenário observado é “completamente esperado” e
faz parte da dinâmica natural da costa. “Vai acontecer outras vezes. Quando a
maré ultrapassar o limite do talude, a barreira natural colocada na praia, a
maré vai entrar no aterro”, explicou.
Ele detalhou que a área próxima ao Morro do Careca é
naturalmente mais vulnerável. “Próximo ao Morro do Careca não tem essa
barreira. Não colocamos o talude para preservar as mesmas características de
banho. E até porque a correnteza vai em direção à Via Costeira. Então, ali é
mais suscetível a entrar mais a maré. Isso é normal”, afirmou.
O secretário reforçou que o avanço do mar não está
relacionado a drenagem ou esgoto, mas sim a processos naturais. “É como se o
mar estivesse indo e voltando. Não é nada de drenagem, esgoto. É a dinâmica costeira
natural. Isso é normal acontecer”, disse.
Thiago Mesquita lembrou ainda que esse tipo de
comportamento ocorre todos os anos, especialmente entre agosto e outubro. “A
praia passa por um processo de emagrecimento natural, que acontece entre agosto
e outubro. É um fenômeno natural, mas ela volta a engordar naturalmente depois
desse período. Faz parte da dinâmica costeira que temos em Ponta Negra.”
Engorda impediu danos como os de 2024
O titular da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo
é enfático ao destacar que, sem o aterro, os efeitos da maré teriam sido muito
mais graves. “Se não tivesse o aterro, com essa maré, com a lua que estava, a
maior maré que tivemos este ano, certamente tinha estourado na base do Morro do
Careca, na linha de costa, e poderia trazer prejuízos muito maiores do que
aqueles que justificaram o decreto emergencial que fizemos ano passado”,
afirmou.
Ele comparou o episódio atual com o que ocorreu
antes da obra. “Aquela maré destruiu hotéis, estourou no calçadão de Ponta
Negra, arrebentou dois dissipadores de energia do sistema de drenagem, com maré
bem menor que a de ontem.”
Para o secretário, a nova estrutura provou sua
importância. “Isso é para efeito de comparação, para a gente entender a
importância de termos um aterro hidráulico, um projeto de resiliência
ambiental, que resistiu à natural dinâmica costeira, que continua avassaladora.
O aterro não parou a dinâmica, pelo contrário: ele está resistindo à dinâmica
costeira, que continua ativa”, concluiu.
Sem a engorda, seria emergência novamente, diz
Seinfra
A secretária municipal de Infraestrutura, Shirley
Cavalcanti, também ressaltou que o comportamento da maré foi previsto pelos
técnicos e que o aterro cumpriu sua função. Ela enfatiza que, além da maré
alta, outro fator que influenciou o fenômeno foram os fortes ventos.
Ela explicou que a água chega a ultrapassar a berma,
o que provoca o chamado “espraiamento”. “A maré passa por cima da berma, essa
água lava a areia, que é o espraiamento. Como ela não consegue voltar, ela
infiltra ali mesmo. Não tem como controlar, já era previsto. Isso ocorre a vida
inteira.”
Segundo Shirley, antes da engorda, as marés altas
atingiam diretamente a área urbana. “Antes, não existia a engorda e a maré ia
para o Morro do Careca, o calçadão, os imóveis, hotéis. Por isso, o decreto de
emergência ano passado, os reforços, a contenção com sacos de areia, o morro
sendo erodido…”
A secretária destacou que o fenômeno atual mostra o
papel do aterro hidráulico como barreira de proteção. “Essa é a função da
engorda. Apesar da água, ela não atingiu, não danificou. Ela vai infiltrar, é
momentâneo”.
Monitoramento contínuo
Shirley afirmou que a Prefeitura mantém o
acompanhamento permanente da praia e realiza medições para avaliar o
comportamento do aterro. “Temos máquinas o tempo todo, deixando o aterro
hidráulico conforme projetado”, explicou.
Ela frisou ainda que, sem a obra, a situação seria
muito mais grave. “(Se não fosse a engorda) muito provavelmente estaríamos
decretando emergência. Tivemos uma superlua, com marés altíssimas. Ia atingir o
calçadão, ‘lavar’ a Avenida Erivan França. Ela ia avançar para o calçadão. Iria
avançar sobre hotéis, imóveis, como acontecia anteriormente. Fora o Morro do
Careca. Estaríamos correndo para sanar problemas que teriam sido ocasionados
por essa onda.”
A secretária observou que as pontas da praia sofrem
mais com o impacto natural. “As pontas são a parte mais sofrida. A parte
central do aterro fica completamente preservada”, completou.
Fenômeno ocorre em ciclos e foi previsto no projeto,
diz engenheiro
O engenheiro civil Gualter Sá Júnior, fiscal da
Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), explicou que o avanço do mar sobre a
faixa de areia de Ponta Negra durante as marés altas é um fenômeno “totalmente
esperado” e previsto no projeto de engorda. Ele associou o episódio às
condições naturais que se intensificaram nos últimos dias, como a Superlua, os
ventos fortes e também a maré de sizígia, quando há maior diferença entre os
níveis máximo e mínimo do mar.
“Isso se chama espraiamento. Ocorrido nas grandes
marés, como foi essa, motivada pela ação da Lua cheia. Nós tivemos a Superlua
no dia 7 de outubro, teremos outra no dia 5 de novembro e outra no dia 4 de
dezembro. Significa que o mar vai avançar novamente? Não necessariamente.
Nessa, coincidiu a Lua muito forte, vento muito forte e foi uma maré de
sizígia”, explicou.
Gualter lembrou que fenômenos semelhantes já haviam
causado prejuízos significativos antes da execução da obra da engorda. “Na maré
do ano passado, em agosto, o município decretou emergência. Possivelmente sim,
não posso dizer com certeza, mas, se a engorda não tivesse sido executada,
teria havido danos”, afirmou.
Ele recordou que, antes da intervenção, o pé do
Morro do Careca já apresentava sinais severos de erosão. “O pé do morro estava
parecendo uma falésia já. Teve alguns imóveis, teve uma parte de uma rampa que
quebrou, um condomínio que a estrutura de contenção chegou a fissurar. Com o
aterro hidráulico, a maré não chega mais lá. A maré sobe, mas ela não vai até o
local da estrutura”, destacou.
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