quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Opinião do Estadão: Frente ampla do oportunismo

 


Frente ampla do oportunismo

Presidente do PT espera reeditar a ‘frente ampla pela democracia’ que elegeu Lula em 22, agora a pretexto de defender a soberania nacional. Mas essa patranha petista não cola mais

Na véspera do lançamento da federação União Brasil-PP, o presidente do PT, Edinho Silva, reuniu num jantar alguns dos principais caciques partidários do País, juntando quadros que, em tese, compõem a chamada “frente ampla” que o lulopetismo tenta reeditar. Oficialmente o jantar foi organizado para comemorar a sua posse como novo presidente do PT; na prática, foi uma forma de o comissariado petista começar a montar o que vem defendendo – uma frente ampla como a que se viu em 2022, destinada agora a se unir em favor da democracia e da soberania brasileira ante a ação de Donald Trump e do bolsonarismo contra o Brasil. Acredita quem quer, porque o convescote só deixou ainda mais claro o que já parecia evidente havia algum tempo: hoje é quase impossível ao lulopetismo repetir a façanha da última disputa presidencial.

Exemplos não faltam. Depois de abraçar Edinho no jantar, no dia seguinte o presidente do PP, Ciro Nogueira, usou o palanque de oficialização da federação para repetir as críticas severas que tem feito a Lula, ao governo e ao PT. Na mesma data, o Republicanos se dividiu: enquanto se uniam a Lula em almoço o presidente da sigla, Marcos Pereira, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, o governador Tarcísio de Freitas discursava no ato de instalação da federação. No União Brasil, a divisão não é menos aparente. Seu presidente, Antonio Rueda, é um duro adversário do lulopetismo e de seu ideário, e enfático defensor de uma candidatura oposicionista. O PSD de Gilberto Kassab, igualmente, já deixou claro que ou seguirá com candidatura própria ou apoiará outra frente ampla, a da direita. Enquanto isso, morubixabas petistas enviam flores a outros símbolos da frente ampla de 2022, as ministras Simone Tebet e Marina Silva, potenciais candidatas ao Senado ou à Câmara dos Deputados.

Ou seja, o prato principal das promessas de Edinho Silva, feitas em nome do demiurgo petista, corre o risco de azedar ainda na degustação. Não é improvável que se resuma a isto: jantares de confraternização, apoios localizados, ou no máximo a construção de palanques nos Estados, sem espaço para que os partidos de centro se integrem à coligação governista. É um caminho natural para uma coalizão que jamais existiu. Como se sabe, Lula ganhou a eleição de 2022 embalado pela pregação de união nacional em defesa da democracia contra o bolsonarismo. Mas a tal frente ampla só durou até a posse, pois logo foi dragada pela natureza lulopetista de concentração de poder e de visão econômica perdulária e estatista. E foi assim que Lula colecionou índices medíocres de popularidade até reanimar sua base graças à truculência de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que lhe deram a chance de reeditar o discurso decisivo de três anos atrás.

A patranha não cola mais. Diálogos e afagos à parte, centristas e moderados em geral sabem que o lulopetismo não cumpriu a promessa de um governo de frente ampla democrática. Entregou ministérios fracos e esvaziados para os sócios de direita e de centro-direita. Foi incapaz de formular e implementar ideias que fossem além da habitual cartilha petista. Não demonstrou vontade e habilidade para, de fato, formar uma coalizão no Congresso. Não distribuiu poder e recursos de forma proporcional entre as diversas forças políticas da coalizão. Tornou mais difícil o que já seria complicado, dada a mudança na correlação de forças na sociedade e no Legislativo, que aumentou o controle sobre o Orçamento.

A frente ampla, para dar certo, pressupunha a liderança de uma versão brasileira de Nelson Mandela, líder que, mesmo após 27 anos de prisão, dialogou com seus algozes em nome da união e da pacificação da África do Sul. Uma coalizão, para funcionar de fato, requer eficiência na sua gestão política, e não a concentração de poder num partido inversamente proporcional à sua capacidade de agregar apoios. Nada disso se viu nem se verá. Seria esperar demais de um partido e de uma liderança que nunca esconderam suas pretensões hegemônicas e seus programas retrógrados. Essa é a quadratura do círculo de Edinho Silva, que precisará de muito mais do que jantares para reeditar a proeza de 2022. Ou deixará claro o que até aqui parece óbvio: a tese da frente ampla é mero artifício usado como arma eleitoral. Oportunismo puro.

Opinião do Estadão

 

 

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