Frente
ampla do oportunismo
Presidente do PT espera reeditar a ‘frente ampla
pela democracia’ que elegeu Lula em 22, agora a pretexto de defender a
soberania nacional. Mas essa patranha petista não cola mais
Na véspera do lançamento da federação União
Brasil-PP, o presidente do PT, Edinho Silva, reuniu num jantar alguns dos
principais caciques partidários do País, juntando quadros que, em tese, compõem
a chamada “frente ampla” que o lulopetismo tenta reeditar. Oficialmente o
jantar foi organizado para comemorar a sua posse como novo presidente do PT; na
prática, foi uma forma de o comissariado petista começar a montar o que vem
defendendo – uma frente ampla como a que se viu em 2022, destinada agora a se
unir em favor da democracia e da soberania brasileira ante a ação de Donald
Trump e do bolsonarismo contra o Brasil. Acredita quem quer, porque o
convescote só deixou ainda mais claro o que já parecia evidente havia algum
tempo: hoje é quase impossível ao lulopetismo repetir a façanha da última
disputa presidencial.
Exemplos não faltam. Depois de abraçar Edinho no
jantar, no dia seguinte o presidente do PP, Ciro Nogueira, usou o palanque de
oficialização da federação para repetir as críticas severas que tem feito a
Lula, ao governo e ao PT. Na mesma data, o Republicanos se dividiu: enquanto se
uniam a Lula em almoço o presidente da sigla, Marcos Pereira, o ministro de
Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o presidente da Câmara, Hugo Motta,
o governador Tarcísio de Freitas discursava no ato de instalação da federação.
No União Brasil, a divisão não é menos aparente. Seu presidente, Antonio Rueda,
é um duro adversário do lulopetismo e de seu ideário, e enfático defensor de
uma candidatura oposicionista. O PSD de Gilberto Kassab, igualmente, já deixou
claro que ou seguirá com candidatura própria ou apoiará outra frente ampla, a
da direita. Enquanto isso, morubixabas petistas enviam flores a outros símbolos
da frente ampla de 2022, as ministras Simone Tebet e Marina Silva, potenciais
candidatas ao Senado ou à Câmara dos Deputados.
Ou seja, o prato principal das promessas de Edinho
Silva, feitas em nome do demiurgo petista, corre o risco de azedar ainda na
degustação. Não é improvável que se resuma a isto: jantares de
confraternização, apoios localizados, ou no máximo a construção de palanques
nos Estados, sem espaço para que os partidos de centro se integrem à coligação
governista. É um caminho natural para uma coalizão que jamais existiu. Como se
sabe, Lula ganhou a eleição de 2022 embalado pela pregação de união nacional em
defesa da democracia contra o bolsonarismo. Mas a tal frente ampla só durou até
a posse, pois logo foi dragada pela natureza lulopetista de concentração de
poder e de visão econômica perdulária e estatista. E foi assim que Lula
colecionou índices medíocres de popularidade até reanimar sua base graças à
truculência de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que lhe deram a chance de
reeditar o discurso decisivo de três anos atrás.
A patranha não cola mais. Diálogos e afagos à parte,
centristas e moderados em geral sabem que o lulopetismo não cumpriu a promessa
de um governo de frente ampla democrática. Entregou ministérios fracos e
esvaziados para os sócios de direita e de centro-direita. Foi incapaz de
formular e implementar ideias que fossem além da habitual cartilha petista. Não
demonstrou vontade e habilidade para, de fato, formar uma coalizão no
Congresso. Não distribuiu poder e recursos de forma proporcional entre as
diversas forças políticas da coalizão. Tornou mais difícil o que já seria
complicado, dada a mudança na correlação de forças na sociedade e no
Legislativo, que aumentou o controle sobre o Orçamento.
A frente ampla, para dar certo, pressupunha a
liderança de uma versão brasileira de Nelson Mandela, líder que, mesmo após 27
anos de prisão, dialogou com seus algozes em nome da união e da pacificação da
África do Sul. Uma coalizão, para funcionar de fato, requer eficiência na sua
gestão política, e não a concentração de poder num partido inversamente
proporcional à sua capacidade de agregar apoios. Nada disso se viu nem se verá.
Seria esperar demais de um partido e de uma liderança que nunca esconderam suas
pretensões hegemônicas e seus programas retrógrados. Essa é a quadratura do
círculo de Edinho Silva, que precisará de muito mais do que jantares para reeditar
a proeza de 2022. Ou deixará claro o que até aqui parece óbvio: a tese da
frente ampla é mero artifício usado como arma eleitoral. Oportunismo puro.
Opinião
do Estadão
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