O setor gastronômico de Ponta Negra, um dos bairros
mais importantes turisticamente de Natal e do Rio Grande do Norte, está
aquecido. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae-RN) apontam que o número de empresas ativas na área gastronômica no
bairro saltou de 266 em 2020 para 639 em 2025, o que representa um aumento de
140%. Entre 2021 e 2025, por exemplo, foram abertas 123 empresas no bairro.
Dados da Junta Comercial do RN (Jucern) apontam também que Ponta Negra está no
top-3 dos bairros com mais empresas ativas, com restaurantes e similares sendo
a segunda maior atividade explorada na área. Nas principais ruas e avenidas do
bairro, novas marcas e ideias têm surgido, apostando no charme e na força
turística da região. Empresários já estabelecidos também aproveitam o momento
para reinvestir e expandir seus negócios.
Segundo dados da Jucern, entre 2020 e 2025 (até
agosto), o saldo entre aberturas e fechamentos foi de 124 empresas no segmento
de restaurantes e similares, e de 78 entre lanchonetes, casas de chá, de sucos
e estabelecimentos semelhantes. O crescimento dos empreendimentos de
alimentação no bairro está ligado a uma série de fatores, como o investimento
do Poder Público na reforma de avenidas e espaços públicos, bem como à retomada
de investimentos pós-pandemia. As obras de alargamento na faixa de areia da
praia também são vistas como fatores que impulsionaram o desenvolvimento.
Segundo fontes do setor de alimentação, cada
empreendimento tem um investimento médio da ordem de R$ 500 mil apenas para
abrir as portas, o que contribui com a geração de emprego e renda no bairro. Há
casos, no entanto, de investimentos mais maciços, atingindo a casa dos milhões
de reais.
“Já é uma região turística, um bairro vivo. As pessoas
quando abrem seus negócios buscam bairros onde existe vida, onde existem
pessoas que andem pelas ruas. Isso está atrelado à segurança. Existe essa
sensação em Ponta Negra, porque o Poder Público tem colocado postos de polícia.
Isso traz segurança, faz com que o morador acabe andando, consumindo; o turista
também impulsiona essa sensação e isso acaba atraindo a curiosidade e a vontade
dos empresários de abrirem os negócios nessas regiões”, explica Thiago Haddad,
presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no RN (Abrasel).
Ele aponta ainda que há desafios para os empreendedores, como os altos
alugueis, a valorização e o IPTU na região.
Para George Costa, coordenador da Câmara Empresarial
de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN
(Fecomercio-RN), o ritmo acelerado dos investimentos em gastronomia está ligado
às obras de infraestrutura feitas no bairro. “A obra da Av. Praia de Ponta
Negra fez com que os empresários que estavam previstos de fazer investimentos gastronômicos
se vissem numa oportunidade grande. Houve o movimento da retomada econômica do
turismo, mas a forma acelerada como foi, se dá também pelas obras de
infraestrutura”, cita.
Segundo dados do Sebrae, os investidores do setor
gastronômico em Ponta Negra têm uma média de idade de 44 anos, com presença
feminina e masculina equilibrada, com destaque para faixa etária entre 30 e 39
anos. Há ainda a presença de empresários estrangeiros, com registro de 46
empreendedores de outros países.
“O setor de alimentação fora do lar vem se
consolidando como um dos pilares da economia natalense, com crescimento
acelerado em Ponta Negra, hoje um dos polos mais vibrantes da gastronomia
potiguar. Apesar dos desafios enfrentados em anos anteriores, como inflação dos
insumos, redução do consumo e sazonalidade do turismo, os empreendimentos
locais demonstram resiliência e capacidade de geração de empregos”, afirma
Thales Medeiros, gerente da Agência Sebrae Grande Natal.
Setor imobiliário
O impulsionamento da economia do bairro também é
visto com bons olhos pelo setor imobiliário, segundo avaliação de Renato Gomes
Netto, presidente do Sindicato da Habitação do RN (Secovi-RN). “Temos uma
percepção em cima de procura por novas operações de imóveis, principalmente
nessa área gastronômica, mas não só nela, que é vista a olhos nus”, afirma o
presidente.
“Depois da requalificação feita naquela área do polo
gastronômico às margens da Roberto Freire, mas passando à frente, na região da
pracinha, seguindo pela Rota do Sol, é perceptível a procura não só por pessoas
que querem abrir, mas por investidores que buscam adquirir imóveis para
construir e alugar para o setor alimentício. Há surgimento de rooftoops em
alguns prédios também”, acrescenta.
Polo gastronômico com diversas opções
Uma das mudanças perceptíveis no bairro foi a
requalificação da Av. Praia de Ponta Negra, com um investimento de R$ 6,3
milhões. A avenida contou com uma reforma de 15 mil metros quadrados de
calçadas requalificadas, garantindo acessibilidade universal, e 4,5 mil metros
quadrados de cruzamentos elevados, que priorizam a segurança dos pedestres e a
organização do trânsito. A via também conta com um sistema de drenagem,
iluminação em LED e 1,6 km de ciclovia.
O local é considerado polo gastronômico de Ponta
Negra, inclusive, com legislação aprovada na Câmara Municipal e sancionada pela
Prefeitura do Natal. Na época das festas de fim de ano, o local também ganha
iluminação e cenografia específica.
“Quando vim pra cá, só tínhamos nós e uma pizzaria.
Vimos que essa rua, apesar de ser larga, era subutilizada. Vimos em vários
bairros do mundo que exploram polos gastronômicos que quanto mais
estabelecimentos, mais atratividade”, afirma Paulo , proprietário do
restaurante Fogo e Chama.
“Esse polo ajudou e nos proporcionou a fazermos
festivais por aqui. Temos as festas de fim de ano, com programações; temos no
Carnaval um projeto para isso, e o São João. Então são eventos para dar
atratividade. Faltava um local para o turista e para o natalense andarem a pé,
confortavelmente, com segurança e iluminação. É um local para a família vir”,
acrescenta.
Em uma visita ao local, é possível perceber
estabelecimentos dos mais diversos perfis: restaurantes com características
distintas, bares, pizzarias, hamburguerias, padarias, casas de comida oriental,
sorveterias, entre outras opções.
Entre os novos estabelecimentos está a gelateria
Originale, da empreendedora Janaína Pereira, 43 anos. Atuando no ramo desde
2001 e antes com lojas em shoppings, a empresária cita que resolveu “voltar às
origens” em Ponta Negra após perceber as modificações e melhorias sendo feitas
no polo gastronômico. Ela abriu o negócio em maio deste ano junto com uma sócia
e divide os custos com uma doceria que funciona no mesmo espaço.
“Temos clientes fixos que vieram do shopping para
cá, mas estamos abrangendo muito turista. Pessoas de todo o Brasil. O público é
bem diversificado. Espero que o público melhore na alta estação. O investimento
que fizemos já está valendo a pena”, cita.
- Alta
no faturamento e ampliação de investimentos
Aumento de faturamento, percepção
positiva do turista e inclusão da população natalense na dinâmica do bairro. A
chegada de novos investimentos em Ponta Negra tem gerado aumento de faturamento
e inspirado novos empreendedores a recalcularem suas rotas.
O proprietário da padaria Pão &
Companhia, José de Anchieta, conta que sentiu a necessidade de investir e
remodelar sua padaria em virtude das modificações e reformas sentidas no
bairro. Ele criou um deque e repaginou a loja, num investimento de mais de R$
150 mil.
“Nesses últimos anos cresceu muito o
setor de gastronomia. O primeiro imóvel residencial a ser transformado em
comercial foi o nosso, há 20 anos. De lá para cá, está cheio. Virou um corredor
gastronômico. Vem sendo bom. Recentemente a prefeitura fez a parte de
urbanização da avenida, com iluminação, asfalto, estacionamento; melhorou
bastante. O faturamento vem aumentando ano a ano. Estamos investindo também,
acompanhando esse desenvolvimento e crescimento. Naturalmente, o resultado
vem”, cita.
Para Clara Bezerra, sócia-proprietária
do Camarões, que possui duas unidades no bairro há 36 anos, Ponta Negra tem se
consolidado cada vez mais como destino turístico da cidade de Natal com os
recentes investimentos. “Ficamos felizes, porque acreditamos na força de um
polo mais forte. Quanto mais boas operações, bons restaurantes, bares e hotéis,
tudo isso acrescenta para o natalense e para o turista. O polo se fortalecendo,
todo mundo ganha com essas forças reunidas”, declara.
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