O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)
aprovou, com condicionantes, a primeira Estação de Pré-Embarque (EPE) de gado
no Rio Grande do Norte. A unidade, que permitirá a exportação de animais vivos
para abate, será um espaço localizado no Distrito de Irrigação do Baixo Açu
(DIBA), em Alto do Rodrigues, destinado à realização da quarentena dos animais
antes do envio para outros países. Nesse local, os rebanhos serão submetidos a
procedimentos de controle sanitário que comprovam a ausência de doenças nos
animais que serão comercializados. A instalação é considerada estratégica para
a cadeia produtiva da carne bovina potiguar.
Atualmente, grande parte da carne consumida no RN é
abastecida por frigoríficos de estados como Maranhão, Pará e Tocantins. A
expectativa do Governo do Estado é que a EPE estimule a criação de gado
localmente e abra novas possibilidades de comercialização. De acordo com o
secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Alan Silveira, a empresa NSL
Confinamento e Estação de Pré-Embarque será responsável pela construção da EPE
e assumiu o compromisso de adotar práticas inovadoras e sustentáveis na
unidade.
Ainda conforme Silveira, a instalação contará com
sistemas modernos de monitoramento e rastreabilidade, para garantir a
integridade e bem-estar dos animais durante todo o processo de embarque, que
será fiscalizado pelas autoridades competentes. “Com essa iniciativa, o Estado
reforça sua competitividade no comércio exterior agropecuário, consolidando o
Porto de Natal como ponto estratégico para novas oportunidades no mercado
internacional”, avalia Silveira.
Sobre os prazos para o início e valores das obras a
serem executadas pela empresa terceirizada, no entanto, a SEDEC informou que
até o momento o Governo Federal ainda não estabeleceu estimativas oficiais para
o começo dos trabalhos. A definição de datas para o início das intervenções
depende de decisões e cronogramas a serem divulgados pela esfera federal,
responsável pelo repasse de recursos e pela coordenação geral do projeto.
Para Guilherme Saldanha, secretário de Agricultura,
Pecuária e Pesca do RN (Sape), a medida abre um espaço estratégico para a
pecuária potiguar. “É uma primeira semente que está sendo lançada e vamos
torcer para que isso cresça e gere volume. E, quem sabe, do mesmo jeito que a
gente é um grande exportador de fruta, se transforme em um grande exportador de
gado vivo”, defendeu.
O secretário também destacou que o RN pode se
beneficiar da localização geográfica. “O Brasil é o maior exportador de gado
vivo para o mundo árabe. Essa exportação é feita no Pará, em São Paulo e no Rio
Grande do Sul. Então a gente está muito mais próximo desses países, para chegar
de rota marítima do que o Porto do Rio Grande do Sul, que demora sete dias a
mais. Como o navio vai buscar e depois volta para deixar o gado vivo, são 14
dias a menos de viagem, de combustível e de alimentação para os animais. Então
a vantagem competitiva do RN é muito maior”, disse.
Para o presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do RN (Faern), José Vieira, a aprovação da EPE representa uma
oportunidade de retomada das exportações de gado potiguar. “Esse embarque será
realizado pelo Porto de Natal, após a quarentena dos animais no DIBA. É um
ganho muito importante, uma retomada”, disse o presidente José Vieira.
Na avaliação da Faern, a abertura da estação também
pode resultar em um aumento significativo na atração de investimentos para o
setor. “O RN já realizou exportações de gado zebuíno para a África, por via
aérea, em anos anteriores, e agora se abre a oportunidade de transporte
marítimo”, acrescenta Vieira.
Ainda de acordo com a Faern, a tradição genética do
Estado é um dos principais fatores que contribuem para a sua competitividade no
mercado internacional, o que fortalece ainda mais a posição do RN como
fornecedor de animais de alto padrão.
“O RN já foi campeão brasileiro de Nelore e hoje o
presidente da Associação Brasileira de Criadores de Sindi (ABCSindi) é
potiguar, o Dr. Orlando Gadelha. Essa base genética fortalece o posicionamento
do Estado como fornecedor de animais com alto padrão de qualidade para o
mercado externo”, destacou Vieira.
Conforme dados do Beef Report 2025, divulgado pela
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, 1 a cada 5 quilos
de carne bovina exportada no mundo em 2024 teve origem brasileira, consolidando
o país como um dos principais exportadores de carne bovina.
Novo cenário para os produtores
De acordo com o secretário Guilherme Saldanha
(Sape), a instalação da EPE representa um novo cenário para o setor. “Na hora
que a gente abre uma EPE no Rio Grande do Norte, abre um mercado para criadores
de gado terem mais uma porta de comercialização através da exportação. Então,
se você criar boi hoje e não está tendo a quem vender seu boi porque a carne de
fora está entrando muito barata no estado, na hora que se abre mais outro
comércio, fica melhor para o criador do boi. Essa seria a grande vantagem”,
avaliou.
José Vieira destacou que a Faern enxerga a
iniciativa como um avanço para os produtores locais. Segundo ele, a aprovação
da EPE cria mais uma alternativa de comercialização e abre novos mercados, o
que pode estimular o aumento da produção.
O presidente também ressaltou que o projeto pode
beneficiar não apenas os criadores do RN, mas atrair animais de outros estados,
para serem embarcados a partir do porto potiguar. Para ele, a medida fortalece
a pecuária local e amplia a competitividade. “A possibilidade de exportar gado
vivo cria novas oportunidades de negócios para criadores, estimulando
investimentos em genética, nutrição animal e infraestrutura das propriedades.
Isso deve ampliar a renda dos produtores locais e atrair investidores interessados
em atender à demanda internacional por animais de qualidade”, completou.
A Faern também avalia que a abertura da Estação de
Pré-Embarque no Rio Grande do Norte pode gerar empregos diretos e indiretos,
tanto nas operações da própria estação quanto em toda a cadeia logística,
abrangendo transporte, alimentação, manejo e serviços veterinários. “A
possibilidade de exportar gado vivo cria novas oportunidades de negócios para
criadores, estimulando investimentos em genética, nutrição animal e infraestrutura
das propriedades”, disse o presidente da Faern.
Fiscalização
O processo será acompanhado e fiscalizado pelo
Ministério da Agricultura e pelo Idiarn, com foco no cumprimento das normas de
sanidade animal, vacinação obrigatória e bem-estar dos animais. Todas as etapas
– desde o manejo nos currais, a alimentação balanceada e o descanso, até o
transporte até o porto – deverão seguir os protocolos internacionais, conforme
informou a Faern.
O secretário de Agricultura e Pecuária do RN explica
que as regras sanitárias rigorosas exigidas por determinados países serão
cumpridas com a criação da EPE, aumentando o radar para países investidores.
“Estaremos atendendo todas às exigências sanitárias rigorosas, garantindo que
os animais cumpram todos os protocolos de saúde animal exigidos pelos países
importadores, o que fortalece a confiança no nosso gado e amplia a
competitividade do Estado”, explicou Guilherme Saldanha.
A Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern)
disse que a companhia já ajustou a operação portuária para atender a essa nova
demanda e está preparada para apoiar as operações portuárias necessárias,
garantindo infraestrutura adequada, segurança e eficiência no embarque desses
animais.
“Entendemos que essa iniciativa pode atrair novos
investimentos, ampliar a competitividade do agronegócio potiguar e gerar
impactos positivos para produtores rurais, transportadores e toda a cadeia
logística”, disse a Codern, empresa que administra o Porto de Natal.
A reportagem tentou contato com o Ministério da Agricultura
e Pecuária (MAPA) e Ministério dos Portos e Aeroportos (MPOR) para saber mais
detalhes do projeto, valores, prazos e condicionantes e como se darão os
embarques, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário