domingo, 24 de agosto de 2025

Colesterol alto também afeta crianças e adolescentes: 20 a 30% podem ter alterações nos níveis da gordura

 


Tádzio França
Repórter

O colesterol alto é um problema normalmente associado a gente adulta, mas que também pode acometer crianças e adolescentes, mais do que se pensa. No Brasil, as pesquisas apontam que de 20 a 30% dos pequenos podem apresentar alterações nos níveis de colesterol. Apesar de ser um tipo de gordura importante para o funcionamento do corpo humano, pois forma hormônios e vitaminas, o colesterol se torna prejudicial à saúde quando está fora dos valores normais, podendo impedir o fluxo sanguíneo e contribuir para o desenvolvimento de doenças coronarianas.

Manter o colesterol dentro dos padrões normais é essencial, já que em níveis alterados, ele é fator de risco para várias doenças. No caso da criançada, Iluska Medeiros, endocrinologista pediátrica do Hospital Varela Santiago, afirma que o aumento da obesidade e dos hábitos alimentares inadequados são os fatores que mais contribuem para a elevação de casos de dislipidemia na infância nos últimos anos. A dislipidemia é caracterizada por níveis altos de lipídios, ou seja, gorduras no sangue.

Os fatores de risco para o colesterol alto entre crianças e adolescentes se dividem entre os comportamentais e os genéticos, segundo Iluska. Relacionados aos hábitos cotidianos estão a alimentação inadequada com dieta rica em ultraprocessados (frituras, fast food, refrigerantes, doces) e baixo consumo de frutas, verduras e fibras; sedentarismo e excesso de peso (sobrepeso e obesidade).

Já os casos genéticos estão relacionados, principalmente, à hipercolesterolemia familiar. “É uma condição hereditária em que a criança produz mais colesterol, independente da dieta. Nesses casos, o risco cardiovascular é elevado e o diagnóstico precoce é fundamental, sendo necessário em muitos casos, tratamento medicamentoso”, explica. O colesterol alto de causa familiar é mais grave porque começa na infância e pode causar infarto precoce.

Os sinais de alerta para o colesterol alto em crianças não são tão fáceis de identificar. “Na maioria das vezes, o colesterol alto é assintomático na infância. Em casos mais graves, podem surgir alterações na pele que chamamos de xantomas, um acúmulo de gordura na pele e tendões”, explica a pediatra. No mais, crianças com excesso de peso devem despertar naturalmente a atenção sobre esse assunto.

Há uma orientação de triagem universal para que a criança faça exame de colesterol pela primeira vez. Segundo Iluska, todas as crianças antes da puberdade, entre 9 e 11 anos, já podem fazer o exame. Podem fazer mais cedo, de 2 a 8 anos de idade, se forem obesas, com diagnóstico de diabetes, ou que tenham pais com histórico de doença cardíaca ou colesterol alto.

“Visto que a maioria dos pacientes são assintomáticos e só iremos descobrir a alteração após um evento cardiovascular precoce”, completa. É preciso ressaltar que todas as pessoas devem realizar exames de colesterol, inclusive crianças magras, pois mesmo estas podem apresentar níveis elevados.

Alimentação

O papel da família e da escola na prevenção ao colesterol alto entre os pequenos é essencial. A pediatra explica que a escola é um ótimo ambiente para se discutir sobre educação nutricional, a importância de ingerir alimentos mais saudáveis e evitar comidas ultraprocessadas. “Em relação ao papel familiar, a criança replica hábitos, então pais que têm uma alimentação inadequada irão influenciar as escolhas dos filhos”, diz.

Para prevenir o aumento de colesterol na infância, deve-se evitar o consumo excessivo de alimentos como biscoitos recheados, bolo, chocolate, sorvete, hambúrguer, batata frita, refrigerante, frituras e comidas ultraprocessadas em geral. Evitar também as frituras e manter o controle do peso. A preferência na dieta deve ficar a cargo de verduras, legumes e frutas, peixe e frango, leite e queijo branco.

Para além da alimentação, outra questão também possui relação com o aumento de colesterol entre crianças: o tempo de tela. “O tempo excessivo em telas está diretamente relacionado ao sedentarismo, ganho de peso e piora do perfil lipídico”, diz Iluska, referindo-se a televisores, videogames, celulares e iPads. “A recomendação é menos de duas horas de tela por dia, e pelo menos 60 minutos de atividade física de moderada a vigorosa, diariamente”, afirma.

A pediatra explica que o tratamento medicamentoso é indicado principalmente nos casos de hipercolesterolemia familiar, ou quando há uma elevação importante do colesterol, e as mudanças de estilo de vida por pelo menos seis meses não são suficientes para atenuar o quadro. “O principal medicamento utilizado é a estatina, sendo liberada em bula a partir dos 10 anos, porém em situações graves, devemos ponderar o uso em crianças menores”, alerta.

Colesterol precoce

A agricultora Patrícia Santos teve que descobrir desde muito cedo sobre os cuidados que uma mãe deve ter com uma criança de colesterol alto. A experiência com o seu Jonathan, hoje com seis anos, começou quando ele tinha apenas nove meses de idade. “Ele teve uma crise horrível, ficou em coma e quase dois meses internado no hospital. Foi quando descobrimos que ele era diabético”, conta.

Após a saída do hospital, a família passou a fazer uma série de exames de rotina, e também descobriu o colesterol alto de Jonathan. “O colesterol é assintomático. Quando vem dar sintomas numa criança que não é diabética, já significa que o triglicerídeo também está alto. Nesse caso, o mais comum é o abdômen inchado. Mas o colesterol em si não demonstra sintoma em criança”, diz.

O diabetes e o colesterol promoveram uma adequação total na rotina alimentar da família de Patrícia. “A mudança alimentar foi total. Ele começou a tomar insulina e fazer a dieta para controlar o colesterol. Tivemos que cortar as gorduras saturadas, começar a se alimentar com gorduras boas. O azeite e o abacate, que têm gorduras boas, se tornaram bem comuns no cardápio de casa”, conta.

A agricultora admite que, em relação a crianças e colesterol alto, o maior desafio é mesmo como manter a alimentação regrada. “A criança vê as pessoas comendo de tudo, e ela quer também. Mas não pode. Quando se é bem pequeno, tudo bem, ela vai aprendendo naturalmente o que pode e o que não pode comer. Mas quando cresce, vai ficando cada vez mais difícil manter esse controle. Em festinhas de aniversário, é um drama…”, conclui.

 

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