Tádzio França
Repórter
O colesterol alto é um problema normalmente
associado a gente adulta, mas que também pode acometer crianças e adolescentes,
mais do que se pensa. No Brasil, as pesquisas apontam que de 20 a 30% dos
pequenos podem apresentar alterações nos níveis de colesterol. Apesar de ser um
tipo de gordura importante para o funcionamento do corpo humano, pois forma
hormônios e vitaminas, o colesterol se torna prejudicial à saúde quando está
fora dos valores normais, podendo impedir o fluxo sanguíneo e contribuir para o
desenvolvimento de doenças coronarianas.
Manter o colesterol dentro dos padrões normais é
essencial, já que em níveis alterados, ele é fator de risco para várias
doenças. No caso da criançada, Iluska Medeiros, endocrinologista pediátrica do
Hospital Varela Santiago, afirma que o aumento da obesidade e dos hábitos
alimentares inadequados são os fatores que mais contribuem para a elevação de
casos de dislipidemia na infância nos últimos anos. A dislipidemia é
caracterizada por níveis altos de lipídios, ou seja, gorduras no sangue.
Os fatores de risco para o colesterol alto entre
crianças e adolescentes se dividem entre os comportamentais e os genéticos,
segundo Iluska. Relacionados aos hábitos cotidianos estão a alimentação
inadequada com dieta rica em ultraprocessados (frituras, fast food,
refrigerantes, doces) e baixo consumo de frutas, verduras e fibras;
sedentarismo e excesso de peso (sobrepeso e obesidade).
Já os casos genéticos estão relacionados,
principalmente, à hipercolesterolemia familiar. “É uma condição hereditária em
que a criança produz mais colesterol, independente da dieta. Nesses casos, o
risco cardiovascular é elevado e o diagnóstico precoce é fundamental, sendo
necessário em muitos casos, tratamento medicamentoso”, explica. O colesterol
alto de causa familiar é mais grave porque começa na infância e pode causar
infarto precoce.
Os sinais de alerta para o colesterol alto em
crianças não são tão fáceis de identificar. “Na maioria das vezes, o colesterol
alto é assintomático na infância. Em casos mais graves, podem surgir alterações
na pele que chamamos de xantomas, um acúmulo de gordura na pele e tendões”,
explica a pediatra. No mais, crianças com excesso de peso devem despertar
naturalmente a atenção sobre esse assunto.
Há uma orientação de triagem universal para que a
criança faça exame de colesterol pela primeira vez. Segundo Iluska, todas as
crianças antes da puberdade, entre 9 e 11 anos, já podem fazer o exame. Podem
fazer mais cedo, de 2 a 8 anos de idade, se forem obesas, com diagnóstico de
diabetes, ou que tenham pais com histórico de doença cardíaca ou colesterol
alto.
“Visto que a maioria dos pacientes são
assintomáticos e só iremos descobrir a alteração após um evento cardiovascular
precoce”, completa. É preciso ressaltar que todas as pessoas devem realizar
exames de colesterol, inclusive crianças magras, pois mesmo estas podem
apresentar níveis elevados.
Alimentação
O papel da família e da escola na prevenção ao
colesterol alto entre os pequenos é essencial. A pediatra explica que a escola
é um ótimo ambiente para se discutir sobre educação nutricional, a importância
de ingerir alimentos mais saudáveis e evitar comidas ultraprocessadas. “Em
relação ao papel familiar, a criança replica hábitos, então pais que têm uma
alimentação inadequada irão influenciar as escolhas dos filhos”, diz.
Para prevenir o aumento de colesterol na infância,
deve-se evitar o consumo excessivo de alimentos como biscoitos recheados, bolo,
chocolate, sorvete, hambúrguer, batata frita, refrigerante, frituras e comidas
ultraprocessadas em geral. Evitar também as frituras e manter o controle do
peso. A preferência na dieta deve ficar a cargo de verduras, legumes e frutas,
peixe e frango, leite e queijo branco.
Para além da alimentação, outra questão também
possui relação com o aumento de colesterol entre crianças: o tempo de tela. “O
tempo excessivo em telas está diretamente relacionado ao sedentarismo, ganho de
peso e piora do perfil lipídico”, diz Iluska, referindo-se a televisores,
videogames, celulares e iPads. “A recomendação é menos de duas horas de tela
por dia, e pelo menos 60 minutos de atividade física de moderada a vigorosa,
diariamente”, afirma.
A pediatra explica que o tratamento medicamentoso é
indicado principalmente nos casos de hipercolesterolemia familiar, ou quando há
uma elevação importante do colesterol, e as mudanças de estilo de vida por pelo
menos seis meses não são suficientes para atenuar o quadro. “O principal
medicamento utilizado é a estatina, sendo liberada em bula a partir dos 10
anos, porém em situações graves, devemos ponderar o uso em crianças menores”,
alerta.
Colesterol precoce
A agricultora Patrícia Santos teve que descobrir
desde muito cedo sobre os cuidados que uma mãe deve ter com uma criança de
colesterol alto. A experiência com o seu Jonathan, hoje com seis anos, começou
quando ele tinha apenas nove meses de idade. “Ele teve uma crise horrível,
ficou em coma e quase dois meses internado no hospital. Foi quando descobrimos
que ele era diabético”, conta.
Após a saída do hospital, a família passou a fazer
uma série de exames de rotina, e também descobriu o colesterol alto de
Jonathan. “O colesterol é assintomático. Quando vem dar sintomas numa criança
que não é diabética, já significa que o triglicerídeo também está alto. Nesse
caso, o mais comum é o abdômen inchado. Mas o colesterol em si não demonstra
sintoma em criança”, diz.
O diabetes e o colesterol promoveram uma adequação
total na rotina alimentar da família de Patrícia. “A mudança alimentar foi
total. Ele começou a tomar insulina e fazer a dieta para controlar o
colesterol. Tivemos que cortar as gorduras saturadas, começar a se alimentar
com gorduras boas. O azeite e o abacate, que têm gorduras boas, se tornaram bem
comuns no cardápio de casa”, conta.
A agricultora admite que, em relação a crianças e
colesterol alto, o maior desafio é mesmo como manter a alimentação regrada. “A
criança vê as pessoas comendo de tudo, e ela quer também. Mas não pode. Quando
se é bem pequeno, tudo bem, ela vai aprendendo naturalmente o que pode e o que
não pode comer. Mas quando cresce, vai ficando cada vez mais difícil manter
esse controle. Em festinhas de aniversário, é um drama…”, conclui.
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