Felipe Salustino
Repórter
A demanda por soluções de Inteligência Artificial
(IA) exige profissionais qualificados para lidar com as profundas
transformações que essas novas tecnologias têm provocado nos mais diversos
setores mundo afora. De olho nessa crescente necessidade, o Instituto Metrópole
Digital (IMD/UFRN) implantou no ano passado o programa Metrópole IA 360, com
formação em variados níveis de ensino voltada à área, com a projeção de
capacitar, ao menos, 70 mil pessoas até 2028. Um dos resultados do programa é a
criação do primeiro curso de graduação em IA do Nordeste e do primeiro curso
técnico da área em uma instituição pública no Brasil.
O curso de Bacharelado em Inteligência Artificial
(BIA) formou sua primeira turma no primeiro semestre deste ano, com 40 vagas,
com uma formação associada ao Bacharelado em Tecnologia da Informação (BTI). A
professora Ismenia Blavatsky, diretora de Ensino do IMD e coordenadora do BIA,
explica que a formação em IA, no caso da graduação, é feita em ciclos. Após o
primeiro, que contempla a formação em BTI, com conteúdos como matemática,
lógica e computação, o aluno poderá optar, no ciclo seguinte, pelos conteúdos
direcionados à Inteligência Artificial em áreas como jogos, ciência de dados,
empreendedorismo e inovação, redes, internet das coisas, dentre outros.
O ingresso no BTI ocorre por meio do Sistema de
Seleção Unificada (Sisu). Após isso, a seleção é feita por meio de critérios
estabelecidos em edital – um deles prevê que, quanto mais o aluno cursou
disciplinas relacionadas à Inteligência Artificial no BTI, maiores as chances
de ingresso no BIA. “O aluno vai encontrar, ainda, conteúdos como IA
generativa, modelos de aprendizado de máquina e estruturação de ferramentas.
Dependendo de como foi a formação do estudante no BTI, em mais um ano e meio,
ele consegue concluir a graduação em Inteligência Artificial”, afirma Ismenia.
Segundo a professora, 36 das 40 vagas ofertadas no
início do ano estão preenchidas. As outras quatro estão em aberto porque os
estudantes receberam boas propostas de trabalho e decidiram suspender os
vínculos com o curso para se dedicar a novas oportunidades. Tales Alves, de 27
anos, está entre os mais de 30 alunos que estão cursando a graduação em
Inteligência Artificial na UFRN. Ele conta que as boas oportunidades no mercado
de trabalho para quem domina as ferramentas de IA chamaram a atenção e serviram
de atrativo na hora de optar por uma área após a formação em TI.
“Desde 2023 que eu estudo um pouco sobre IA, por
causa do boom do ChatGPT. O futuro está nas mãos dos engenheiros de dados e
isso está cada vez mais claro para as empresas”, fala. Tales conta que a
experiência tem valido muito a pena. “O curso é excelente. As coisas que eu
acompanho em sala de aula consigo aplicar muito bem no meu estágio profissional
e na bolsa da qual participo”, afirma o estudante.
A coordenadora do BIA diz que o mercado para os
profissionais formados em Inteligência Artificial é amplo – vai desde a
otimização de processos, passando pela construção de modelos para otimização de
ferramentas, até a aplicação em áreas de processos repetitivos, tomada de
decisões baseadas em dados, vendas ou educação. “Todas as áreas podem ser
beneficiadas, porque comportam a necessidade de profissionais com formação em
IA”, aponta Ismenia.
Edital terá 40 mil vagas para
professores
O professor José Ivonildo Rego, diretor-geral do
IMD, afirma que o Metrópole IA 360 foi criado para gerar uma sinergia entre
educação, inovação e a sociedade com vistas à área de Inteligência Artificial.
“A melhor forma de criar essa energia, tendo em vista as muitas oportunidades,
é a formação em larga escala. E o programa foi pensado justamente tendo como
ponto de partida essa ideia. Por isso, estamos oferecendo capacitação em
diferentes níveis, com diferentes linhas de atuação”, frisa.
Além do bacharelado, o programa Metrópole IA 360
oferta o curso técnico em Inteligência Artificial, que tem duração de dois
anos. O ingresso é feito por meio de seleção via edital. São ofertados quatro
módulos a cada semestre, com certificações entregues aos estudantes ao final de
cada seis meses. Mas o aluno só recebe a certificação de formação técnica ao
fim do quarto módulo, que é uma espécie de estágio. O curso tem carga horária
de mil horas e oferta 1,2 mil vagas anuais.
Duas outras linhas são o Conecta IA e o Nano IA. O
primeiro é um curso voltado a alunos de qualquer graduação da UFRN e também de
egressos da instituição, que oferece certificação para quem cumprir uma carga
de 300 horas em capacitação em áreas ligadas à Inteligência Artificial, como
ciência de dados, internet das coisas, bioinformática, informática
internacional e outras. Para o público interno, o Conecta oferece 200 vagas
anualmente, sendo que o aluno que optar pela formação precisa apenas fazer a
adesão na própria grade de ensino.
Para o público externo, são 30 vagas por ano e,
nesse caso, é feita uma seleção. O Nano IA, por sua vez, é um curso de duração
mais curta, de cerca de 40 horas, voltado a demandas específicas de empresas.
“Estamos nos preparando para oferecê-lo ao Sebrae-RN, onde iremos treinar uma
equipe de cerca de 400 colaboradores”, explicou Ivonildo Rego. Para o dia 8 de
setembro está previsto o lançamento, dentro do Nano IA, de um edital pela UFRN
em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), para um curso on-line de curta duração de 45 horas voltado a professores
da Educação Básica, com o objetivo de ampliar o acesso ao tema em escolas
públicas e contribuir para a inclusão digital. As vagas serão destinadas a
professores de todo o País. “A ideia é que eles aprendam a usar tecnologias
como o ChatGPT. Ainda não há previsão de quando as aulas vão ocorrer, mas as
inscrições deverão ser feitas entre outubro e novembro”, pontua o diretor-geral
do IMD.
Além disso, o Metrópole IA 360 prepara uma
pós-graduação lato sensu com duração de 18 meses, onde será ofertada residência,
com bolsas de R\$ 3 mil. “A residência será feita em parceria com empresas e
setores como o Judiciário, que já oferecem bolsas para outras áreas. O início
dessa residência, portanto, depende dessas parcerias”, afirmou Ivonildo Rego.
No programa também está incluso o Núcleo de Inteligência Artificial e Ciência
de Dados, que terá laboratórios e áreas destinadas a projetos de Pesquisa,
Desenvolvimento & Inovação. As obras já foram finalizadas e o Núcleo
aguarda agora a aquisição de equipamentos. Não há previsão de início de
funcionamento.
Mercado busca profissionais qualificados
A formação de profissionais ligados à Inteligência
Artificial é uma necessidade gritante nos dias atuais. A alta demanda por
trabalhadores, puxada pelas mudanças que a IA tem provocado nas empresas,
evidencia que os impactos da formação em larga escala serão positivos.
Daniel Luz, CEO da beAnalytic, startup que
desenvolve soluções em Inteligência Artificial para outras empresas, avalia
que, diante da escassez desses profissionais no mercado, é preciso que
instituições de ensino atentem para o fato de que é preciso fazer frente a
formações para a área.
“A Inteligência Artificial é a nova revolução
industrial. Daqui para a frente, todas as empresas vão usá-la de alguma forma.
Então, a demanda por esse tipo de profissional já é muito grande”, avalia. Além
disso, Luz avalia que os bons salários servirão como um novo atrativo para a
expansão da área.
“Hoje, um profissional iniciante entra no mercado
ganhando na faixa dos R$ 5 mil. Depois disso, a depender do nível de formação,
o céu é o limite, com salários de até R\$ 50 mil”, afirma Daniel Luz, o CEO da
beAnalytic.
Ele conta que a beAnalytic, graduada no início do
ano pela incubadora do Parque Metrópole, do IMD, já desenvolveu soluções com IA
para empresas como Telefônica e Mapfre. Atualmente, a startup trabalha em um
modelo de IA para uma grande rede nacional de farmácias.
“A solução envolve sugestão de vendas de
medicamentos por meio de um site”, relata. A empresa conta atualmente com 30
funcionários, dos quais, a maioria possui formação em outras áreas. “Grande
parte do nosso time ainda é formada por profissionais de áreas que acabaram
migrando para a de ciência de dados, por isso a formação em Inteligência Artificial
é muito importante. Hoje, quando a gente procura profissionais de nível pleno,
costuma haver um processo bem complexo até encontrá-los”, pontua Daniel Luz.
Ismenia Blavatsky, diretora de Ensino do IMD e
coordenadora do BIA, cita que a formação deve ser um ponto de atenção para
diversas áreas e que investir nessa área poderá ser um diferencial no futuro.
“Um bom profissional da educação, por exemplo,
poderá otimizar processos com Inteligência Artificial e de forma mais efetiva
trazer esses conteúdos para os estudantes. Pessoas que lidam com tomadas de
decisão podem utilizar as ferramentas para trazer mais segurança a produtos e
processos na indústria, comércio e serviços. Então, investir nesse tipo de
conhecimento será um diferencial para encarar os desafios futuros que a gente
nem tem ideia de quais são exatamente”, aponta Ismenia Blavatsky.
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