O Rio Grande do Norte enfrenta um cenário cada vez
mais desafiador de escassez de água, com impactos crescentes sobre a produção
agropecuária e o abastecimento em áreas urbanas e rurais. Atualmente, 74
municípios potiguares tiveram a situação de emergência reconhecida pela Defesa
Civil Nacional. A Federação da Agricultura e Pecuária do RN alerta que a
pecuária de corte e de leite, e as plantações de milho e feijão já enfrentam
“perdas expressivas”. A agricultura familiar vê o aumento da insegurança
alimentar.
“A estiagem
prolongada já provoca perdas significativas na agropecuária potiguar,
especialmente nas regiões Seridó, Oeste e Central”, afirma José Vieira,
presidente da Faern. Com a estiagem mais severa dos últimos anos e chuvas até
50% abaixo do esperado em algumas regiões, o Estado já projeta impactos diretos
sobre a produção de leite, grãos e forragem.
Segundo o secretário de Agricultura do RN, Guilherme
Saldanha, a bacia leiteira potiguar cresceu quase 100% desde 2016, com o
fortalecimento das queijeiras e o retorno de frigoríficos industriais privados,
mas pode sofrer recuos significativos nos próximos meses.
“A agropecuária do Rio Grande do Norte tem como
destaques a carcinicultura e a agricultura irrigada, que não haverá impacto
decorrente da questão climática da seca. Porém, tem atividades que nos
preocupam muito: a pecuária leiteira, a ovinocultura, a caprinocultura, a de
corte e também a questão da cana-de-açúcar. A gente tem essa preocupação de
garantir uma forma dessas pessoas continuarem sua produção, de forma que o
impacto seja o menor possível na cadeia”, afirma o secretário.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Rio Grande do Norte (Fetarn), Erivam do Carmo, o momento exige
atenção urgente e apoio direto aos pequenos agricultores. “Existem regiões do
Estado que estão com total ou parcial frustração de safra. O inverno foi mais
favorável apenas em algumas localidades, mais notadamente na faixa litorânea,
porém nas regiões Trairi, Central e outras, há perda total de produção”,
lamenta.
Para Erivam, o fortalecimento da agricultura
familiar diante dos períodos de estiagem necessita de um programa de manutenção
dos rebanhos com a aquisição de raquetes de palma, feno e milho para
distribuição com os agricultores familiares, instalação de poços tubulares já
perfurados, além da perfuração e instalação de novos poços em comunidades e
assentamentos rurais.
O presidente da Fetarn ainda lista a construção e
reforma de açudes e barreiros em comunidades e assentamentos rurais, e uma
assistência técnica e extensão rural voltadas para ações de convivência com o
semiárido.
No âmbito federal, a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) informa que tem conduzido atividades para
a revisão do plano estadual de combate à desertificação. A Sudene está
investindo R$ 1,5 milhão, enquanto o Ministério do Meio Ambiente está
disponibilizando R$ 2,5 milhões. A Autarquia também conduz, em parceria com a
SAPE, um projeto para modernizar e garantir a estruturação de 18 unidades
multiplicadoras de palma forrageira tolerantes à cochonilha-do-carmim.
“A gente está bem atento. Tem ações que envolvem
recursos do Governo do Estado e também tem ações que vão envolver recursos do
Governo Federal. Semana passada estivemos em Brasília já tratando dessa questão
da seca, para que a partir de agosto a gente já tenha ações que permitam o
pecuarista, o pequeno criador, o agricultor familiar atravessar esse momento”,
explica o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do RN.
Emergência
As reservas hídricas do Estado operam com 48,88% de
sua capacidade total, segundo o Instituto de Gestão das Águas (Igarn), e 11
reservatórios já estão em situação crítica, com menos de 10% de volume
acumulado. Atualmente, entre os reservatórios em estado crítico estão a
Passagem das Traíras (0,03%), em São José do Seridó, o Itans (0,39%), em Caicó,
o Jesus Maria José (2,21%), em Tenente Ananias, o Mundo Novo (2,39%), também em
Caicó, e outros sete açudes localizados nos municípios de Ouro Branco, São João
do Sabugi, Olho D’Água do Borges, Luís Gomes, Patu e São José do Campestre.
Segundo Saldanha, um grupo de trabalho foi
implantado com uma série de ações que envolve não só o abastecimento humano,
mas também a ampliação da perfuração dos poços. “O Rio Grande do Norte tem um
passivo muito grande de poços que foram perfurados ao longo dos últimos 20, 30
anos, que infelizmente alguns deles nunca foram instalados. O Rio Grande do
Norte está com uma parceria em execução com o Governo Federal através da
Secretaria da Agricultura, num plano de execução de barragens subterrâneas.”,
relata.
O presidente da Faern, José Vieira, acrescenta que a
Operação Carro-pipa, que atende 75 mil potiguares atualmente, enfrenta
problemas, como a demora na inclusão de novos municípios e rotas irregulares. O
mesmo problema afeta o Programa Cisternas 2025. “A falta de recursos, a
burocracia para novas construções e a ausência de acompanhamento técnico
contínuo dificultam a manutenção das cisternas”, aponta.
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