Ponto de partida na trajetória de grandes nomes do
esporte potiguar, o Centro de Atenção Integrada à Criança (Caic) de Lagoa Nova,
em Natal, vive um contraste doloroso. O espaço, inaugurado em 1994 como um
centro modelo de práticas esportivas, sociais e educacionais, hoje está
bastante danificado, com quadras interditadas, mato alto, infiltrações e piso
esburacado. De acordo com a Subsecretaria Estadual de Esporte e Lazer
(SEEC-SEL), um projeto de reforma está previsto para ser iniciado ainda em
2025, com orçamento de R$20.011.768,67. Enquanto a execução não sai do papel,
os atletas lidam com as adversidades.
Hoje, o Caic conta com pista de atletismo, dois
ginásios poliesportivos, piscina olímpica e uma arena de areia. O complexo
também possui alojamentos, refeitório e salas multiuso. Apesar disso, alguns
espaços estão sem funcionalidade, como os dois ginásios poliesportivos, que
estão interditados para uso. No menor deles, a parte interna se tornou um
depósito com cadeiras, sofás e mesas jogadas. Já a pista de atletismo, além dos
buracos, também conta com a sinalização apagada e uma área de acúmulo de água.
Além dos atletas, o espaço é usado por treinadores e professores autônomos
durante o horário aberto ao público em geral, que por sua vez enfrentam outros
problemas.
Aos 23 anos, o atleta Luis Eduardo é um dos que
conhecem bem as condições do local. “É complicado porque, querendo ou não, a
gente necessita de um local para treinar e, por muitas vezes, nós somos
prejudicados, porque não tem uma qualidade boa”, conta. Luis pratica atletismo
há quase uma década, com destaque nas provas de 100 e 200 metros, já
conquistando cerca de 17 medalhas em campeonatos estaduais adultos. Mesmo com a
estrutura precária, não abandona os treinos no Caic. “A gente vai dando sangue
aqui enquanto der. Sou muito grato por tudo que o esporte me proporcionou”,
resume.
A situação também é vivenciada por mais pessoas. Com
29 anos, Sabrina treina no Caic há 15. Ela já foi campeã brasileira dos 400
metros com barreiras, além de ter medalhas nos Jogos Universitários e cerca de
90 pódios acumulados ao longo da carreira. Apesar disso, nem o currículo
robusto é suficiente para compensar os desafios do dia a dia. A escolha pelo
espaço acontece pela proximidade da residência, mas ela ressalta que o cenário
está longe de ser o ideal para as condições que favoreceriam a prática do
esporte.
“A pista precisa fazer reparo tanto na parte da
corrida quanto na do aquecimento e de saltos. Pensando que se eu fosse uma
atleta de salto em distância e eu fosse treinar naquele setor, não teria como
eu treinar. Então, querendo ou não, isso impacta assim no nosso desempenho.
Para mim teria sim que ter melhorias aqui, teria que ter uma reforma, mas é o
que eu tenho, então é o que eu uso”, lamenta ansiosa pela revitalização do
espaço.
Alan Thalles, profissional de educação física que
atua no espaço há cerca de quatro anos com turmas noturnas, aponta questões de
estrutura e segurança. “As meninas, na hora de usar o banheiro, a maioria das
vezes ele está fechado. Elas ficam sem ir e isso prejudica o treino. Já o
estacionamento está todo escuro. Não tem como alguém treinar com tranquilidade
assim”, afirma.
De acordo com Cezar Nunes, subsecretário estadual de
Esporte e Lazer, o projeto de revitalização do Caic foi finalizado oficialmente
neste mês e será executado em etapas iniciando ainda em 2025. O projeto,
segundo ele, está orçado em mais de R$ 20 milhões. Apresentado ao Ministério do
Esporte no último dia 8 de julho, a expectativa é executar reformas em toda a
estrutura: pista de atletismo, piscinas, ginásios, campo, alojamentos e museu
do atleta, além da parte administrativa.
“Por que que não investimos no Caic antes? Porque, de
fato, o Governo estava se estruturando. Tinha aquela questão de salários
atrasados, essa parte de investimento que sabemos a prioridade de saúde,
segurança pública, educação, e aí, graças a Deus, chegou a hora do esporte
também. A reforma vai começar pela pista de atletismo e pela piscina olímpica,
que são prioridades. Depois vem os ginásios, a pousada, a parte administrativa
e, por fim, o museu do atleta”, detalha.
Mesmo sem data certa para o início das obras,
algumas medidas emergenciais estão em curso. A vigilância armada passou a
funcionar à noite após uma série de furtos de fiação, e duas limpezas completas
do mato estão previstas até o fim do ano. O projeto inclui ainda ajustes para
acessibilidade, que será um dos grandes desafios da obra. A estrutura antiga,
dos anos 1990, não foi pensada para atender pessoas com deficiência.
Para além da reforma e pensando a longo prazo, Cezar
ressalta ainda que será necessário identificar um modelo de gestão do
equipamento. “Quando o equipamento tiver pronto, então a gente vai ter que ter
um modelo de gestão, um administrativo forte, para cuidar de toda essa parte
estrutural, o setor de manutenção, para não ter nenhum problema”, explica. O
Governo analisa ainda, fomentos que ajudem no custeio do Caic após a revitalização.
A expectativa da SEEC-SEL é que a obra dure mais de
um ano. A necessidade da obra se destaca pela função social do esporte, como
ferramenta de inclusão, desenvolvimento social e promoção da saúde. Entre os
grandes nomes que já passaram pelo Caic, a pista ainda é local de treino de
Thalita Simplício, atleta com medalha de prata nos 400m nos Jogos Paralímpicos
de Paris 2024.
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