domingo, 29 de junho de 2025

TANGARAENSE - Está com a “gota serena”? Saiba como viver sem crises

 


Tádzio França
Repórer

A gota, ou artrite gotosa, é uma doença inflamatória crônica e progressiva que afeta as articulações. Ela é causada pelo aumento dos níveis de ácido úrico no sangue, que pode ocorrer devido ao aumento na produção dessa substância ou à sua eliminação inadequada. Atualmente, ela afeta de 1 a 5 % da população em geral, com grande predominância no sexo masculino. Apesar de não ter cura, é uma doença que pode ser controlada com a medicação adequada e mudanças de hábitos – principalmente, ligados à alimentação.

Para desenvolver a artrite gotosa, a pessoa deve ter um perfil genético onde há a redução da eliminação dos chamados ‘cristais de urato’ pela urina, associado com uma dieta rica em proteínas, purinas, bebidas alcoólicas, etc., que vai causar a elevação do ácido úrico no sangue. “A elevação do ácido úrico acontece ou pela produção excessiva da substância pelo organismo ou pela redução da excreção/eliminação dessa substância pelos rins”, diz a reumatologista Beatriz Oliveira.

O pensamento de que a gota seria uma doença causada apenas por “excessos alimentares” é incorreto, ressalta a médica. “Antigamente, como só as pessoas mais ricas tinham acesso a uma dieta mais rica em carnes e bebidas, criou-se esse estigma. Há também o fato de que a obesidade costuma estar associada com quadros mais graves de gota, o que leva a fortalecer essa associação com os excessos alimentares”, explica.

Sintomas da “gota serena”

A gota causa inflamação, dor e inchaço no dedão do pé, joelho e tornozelos. A inflamação das articulações afetadas provoca grande hipersensibilidade ao toque, sendo o sintoma que mais caracteriza a doença. Beatriz explica que a origem do ditado popular “dor da gota serena” está relacionada aos quadros onde o paciente afirma sentir como se estivesse pingando um líquido fervente na articulação afetada, causando uma dor tão intensa que até o peso dos lençóis causa piora na sensação local.

As crises de gota costumam afetar principalmente as extremidades e, de forma quase diagnóstica, o primeiro dedo dos pés (hálux), onde ganha o nome de “podagra”. Costuma afetar também de forma mais frequente joelhos, tornozelos, pés de forma geral, cotovelos, punhos e mãos. Raramente afetam quadris, ombros e coluna vertebral. “A repetição das crises leva a sequelas articulares que podem evoluir para deformidades”, alerta a reumatologista.

Os acúmulos de uratro também são típicos dos quadros de gota que têm longa duração e/ou tratamento inadequado. O chamado “tofo gotoso” se caracteriza por uma formação tipo cisto com um conteúdo semelhante a pasta de dente (pastosa, granulosa, esbranquiçada) que pode ocorrer em qualquer local do corpo, mas de forma mais característica ao redor das articulações. “Outra manifestação que pode sugerir gota são os cálculos renais ou litíase renal por urato”, complementa.

O diagnóstico da gota, como na maioria das doenças, explica Beatriz, acontece pela avaliação da história do paciente – crises de dor aguda afetando pés, tornozelos, joelhos, cotovelos, mãos, punhos -, associado com um exame físico detalhado (pesquisa de artrite, presença de tofos, etc.). Há também exames laboratoriais (dosagem dos níveis de ácido úrico no sangue) e de imagem (radiografias das articulações).

A gota é uma doença que não deve ser negligenciada ou cuidada apenas durante crises, enfatiza a reumatologista. “As complicações acontecem principalmente pelo efeito erosivo e destrutivo que o urato causa na articulação. Essa inflamação a longo prazo pode levar a limitações na deambulação (quando afeta pés e joelhos), perda da função de mãos e cotovelos, e até deformidades definitivas quando associadas com tofos mais exuberantes”, explica. A gota também costuma estar associada a quadros de diabetes e hipertensão arterial.

Tratamento

Quando se fala em gota, a “cura” tem a ver com restabelecimento da saúde. “Na fase aguda, o objetivo é o rápido controle da dor e da inflamação, com retorno da função articular com o mínimo de sequelas. Nessa fase, o uso de anti-inflamatórios, corticóides e colchicina, além de analgésicos, são a base terapêutica”, explica.

Após a fase aguda, segundo a médica, o objetivo principal será manter o ácido úrico em níveis normais – evitar a hiperuricemia ou níveis de ácido úrico acima do normal para prevenir novas crises. “As medidas dietéticas são da maior importância, e uma equipe com nutricionista será de muita ajuda. O paciente deve manter um peso adequado, evitar excesso de proteínas animais, evitar o uso de bebidas alcoólicas e de alimentos ricos em açúcar”, alerta.

“Na gota há várias medicações que ajudam tanto na fase aguda como na fase crônica, mas o sucesso do tratamento depende muito da adesão do paciente às modificações na dieta e estilo de vida”, ressalta a reumatologista. As mudanças de estilo de vida – alimentação, hidratação, atividade física, controle do peso -, associadas com o uso regular das medicações e um acompanhamento médico regular, são a base para uma boa evolução dos quadros de gota.

Sem crises

O cineasta Paulo Dumaresq foi surpreendido, há 10 anos, por uma repentina dor no pé direito. O dedo começou a inchar, e não havia um “trauma” que justificasse aquele sintoma. Ele mal conseguia pisar no chão. Paulo foi rapidamente ao médico, e o diagnóstico veio sem muito mistério: era uma crise de gota. Desde então ele precisou aprender a conviver com a doença da melhor forma.

“Já passei por vários médicos e fui aprendendo a lidar com minhas crises nesse processo. Nas crises mais intensas, as dores são muito fortes, a ponto de eu precisar segurar nos móveis para andar dentro de casa”, diz. Atualmente, ele está bem adaptado ao medicamento que baixa o ácido úrico no organismo.

A doença levou o cineasta a se cuidar mais. Ele faz exames de sangue regularmente para verificar e controlar a presença de ácido úrico – se estiver alto, é sinal de alerta. E também seguiu as mudanças na alimentação, de forma equilibrada. “Diminuí, mas não cortei totalmente o consumo de carne vermelha e bebidas alcoólicas, por exemplo. Como mais vegetais, bebo menos, mas não abri mão. Agora eu procuro um equilíbrio que me resguarde das crises, e tenho conseguido”, conclui.

 

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