Felipe Salustino
Repórter
O número de investidores potiguares – pessoas
físicas – na Bolsa de Valores do Brasil (B3) cresceu 109,05% em cinco anos,
saltando de 28.622 no final de 2020 para 59.836 neste mês de junho, de acordo
com dados da Garoa Wealth Management. No mesmo período, o valor total investido
passou de R$ 1,80 bilhão para R$ 2,80 bilhões, um aumento de 55,55%. Os números
foram compilados com base em informações da B3. Os dados apontam que no RN os
homens (46.714) investem mais do que as mulheres (13.122). Apesar do
crescimento dos últimos anos, o número total de investidores, de acordo com
Carlos Müller, sócio-fundador da Garoa, ainda é considerado tímido.
Atualmente o RN ocupa o sexto lugar no Nordeste e o
18º no Brasil entre os estados com maior quantidade de investidores. Esse dado
é considerado estratégico para a construção de planos de investimento alinhados
ao perfil de cada indivíduo, além da análise de portfólios para otimização da
relação risco-retorno. Para Müller, o conservadorismo é a principal
característica dos potiguares quando o assunto é investir de um modo geral,
seguindo uma tendência que é nacional. “O investidor conservador é aquele com
predileção por produtos de renda fixa e que, depois, passa para produtos como
CDBs”, aponta.
Rodrigo Paz, assessor de investimentos da Acqua Vero
Investimentos, avalia que os números da B3 indicam que a pandemia, aliada ao
crescimento de dispositivos digitais, impulsionou uma mudança de comportamento
que tornou os potiguares mais curiosos em relação ao tema. Ele confirma o
perfil predominantemente conservador dos potiguares, mas ressalva que o cenário
passa por um momento de transição. “Isso é visto pelo mercado como uma
oportunidade em meio a uma lacuna que é a falta de informação de qualidade para
gerar entendimento sobre diferentes possibilidades de perfis”, cita Paz.
De acordo com o assessor, 52% dos brasileiros não
possuem sequer uma reserva de emergência; 12% poupam dinheiro mas não aplicam,
enquanto apenas 17% investem. “Quando eu olho para o RN, a característica que
mais eu percebo é que o investidor quer migrar para o próximo passo, com mais
diversificação e entendimento, mas ainda falta informação de qualidade”, afirma
Rodrigo Paz.
Essa falta de informação, para Carlos Müller, forma,
junto com a falta de acesso à educação financeira, o principal gargalo para
aqueles que desejam fazer algum tipo de investimento. “Nos últimos anos, com o
advento do YouTube e das redes sociais que falam de investimentos, a gente
percebe um acréscimo de produtos mais arrojados e de pessoas aderindo a esses
produtos”, frisa Müller.
“Mas há questões culturais e de mercado que
influenciam, porque o histórico do Brasil sempre foi de juros altos, então,
entende-se que, até certo ponto, não há necessidade de correr riscos, uma vez
que existem retornos bastante interessantes em ativos conservadores. E a
educação financeira é um fator e um pilar importantes, porém ainda em
desenvolvimento. O resultado disso é uma presença muito baixa nas carteiras de
renda variável”, acrescenta Carlos Müller.
Investimentos crescem no Nordeste
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o número de
investidores em produtos da B3 no RN está aquém do potencial do Estado. O
cenário se dá, conforme apontado, pela falta de acesso a informações de
qualidade. Esta é a realidade de toda a região Nordeste, onde os dados
compilados pela Garoa junto à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados
Financeiro e de Capitais (Anbima), mostram que, no ano passado, os nordestinos
aplicaram R$ 663,5 bilhões em investimentos em geral (B3 e outros produtos], um
aumento de 13,2% em relação a 2023. Do total de 2024, no entanto, R$ 74,4
bilhões (11,2%) foram alocados somente em títulos privados corporativos,
excluindo CDBs. Apesar do crescimento, os dados mostram que o conservadorismo é
significativo na região, uma vez que os títulos privados representam
investimentos de renda fixa.
Para o ortodontista Felipe Thiago Dantas, de 41
anos, o equilíbrio entre renda fixa e variável foi a virada de chave que o
ajudou a dar uma guinada nos próprios investimentos. Há cerca de nove anos, ele
passou a estudar as possibilidades disponíveis no mercado para além do dinheiro
parado na poupança. Mas a falta de conhecimento e a busca por oportunidades
mirabolantes fizeram com que Dantas perdesse bastante dinheiro com a Bolsa de
Valores. O equilíbrio só foi alcançado a partir de 2018, com a divisão das
aplicações – parte em ativos mais conservadores, parte em produtos mais
agressivos.
Em 2020, o ortodontista passou a contar com
orientações de Rodrigo Paz, o que lhe permitiu aprimorar ainda mais os
investimentos. “Hoje eu tenho uma carteira extremamente diversificada, desde
renda fixa atrelada à inflação, passando por renda pré-fixada e tesouro, a
investimentos no setor privado como CRAs [Certificados de Recebíveis do
Agronegócio], CRIs [Certificado de Recebíveis Imobiliários] e debêntures, além
de continuar, em menor proporção, na Bolsa, com ativos como Petrobras, Banco do
Brasil, Vale e Previdência Privada – este, aliás, foi meu primeiro tipo de
investimento”, descreve Felipe Dantas.
Nos últimos dois anos, ele ampliou as aplicações
para o exterior, com a dolarização de algo em torno de 5% a 10% da própria
carteira em ativos nos Estados Unidos. O auxílio de um assessor financeiro,
segundo Dantas, é importante, já que é esse profissional quem irá buscar
investimentos de acordo com o perfil de cada indivíduo. Ele sublinha, no
entanto, que isso não deve tirar do investidor o interesse em buscar
informações confiáveis e de se qualificar sobre o mercado.
“Continuo estudando, analisando os cenários, vendo o
noticiário e tentando filtrar tudo de maneira isenta para buscar grandes
oportunidades. Hoje, estou satisfeito com meus investimentos, graças também à
assessoria que recebo”, pontua o ortodontista. “É preciso que o investidor
entenda alguns pontos cruciais – um deles é que, se não existe organização nas
contas de casa, não é possível olhar para o lado do investimento. É aí que
entra a necessidade de um profissional para assessorar perante o mercado”,
afirma Rodrigo Paz.
Alta taxa de juros: momento para
investir
Rodrigo Paz, assessor de investimentos da Acqua
Vero, avalia que o momento vivenciado pelo mercado financeiro permite
investimentos de forma muito segura, graças à taxa de juros atual, de 15% ao
ano. Papéis como tesouro, segundo ele, estão com taxas excelentes. A dica,
ensina, é que o investidor fique sempre de olho. “É preciso observar bem o
momento atual e o futuro. O investimento consiste em proteger capital ao longo
do tempo, enquanto se busca rentabilidade para aumentar o patrimônio”, orienta
Paz.
Carlos Müller, da Garoa Wealth Management, reforça
que as oportunidades dependem de cada perfil e da experiência do investidor,
mas ele garante que existem bons produtos tanto em renda fixa quanto em renda
variável. “Com a inflação em 7% ao ano, temos ativos em renda fixa com retornos
excepcionais. Mas a gente também tem, pensando pela ótica da Bolsa, resultados
crescentes, por mais que o índice esteja em máximas históricas. Portanto, para
quem tem um horizonte de investimento mais curto, há excelentes oportunidades
em renda fixa e não há por que correr riscos”, fala.
“Para a pessoa que já superou esse acúmulo de curtíssimo
prazo e está pensando em planejar uma aposentadoria, um investimento mais
longo, também há boas oportunidades em renda variável. O perfil da pessoa pode
ajudar a definir qual o tamanho do investimento na Bolsa”, completa Müller. Ter
clareza dos prazos, nesse aspecto, é crucial, segundo ele. “É preciso ter em
mente se a pessoa vai precisar do recurso investido daqui a um ano, por
exemplo. Se é assim, ela não deve entrar na Bolsa, sob o risco de patamares
muito baixos lá na frente”, ensina Carlos Müller.
Uma boa análise, segundo ele, pode ajudar a expandir
ainda mais o número de investidores potiguares na B3. “Esse crescimento de
pessoas do RN que estão na Bolsa de Valores em cinco anos é expressivo, mas
pode aumentar. Se a gente considerar que 1,2 milhão de potiguares estão em
idade economicamente ativa, esses quase 60 mil investidores representam apenas
0,5% do total de pessoas que podem incluir seus ativos na B3. O valor total
investido pelo RN soma apenas 0,48% de todo o capital aplicado no País. Então,
há um potencial enorme no Estado”, assinala Müller.
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