domingo, 29 de junho de 2025

Número de investidores do RN na B3 cresce 109% em cinco anos

 


Felipe Salustino
Repórter

O número de investidores potiguares – pessoas físicas – na Bolsa de Valores do Brasil (B3) cresceu 109,05% em cinco anos, saltando de 28.622 no final de 2020 para 59.836 neste mês de junho, de acordo com dados da Garoa Wealth Management. No mesmo período, o valor total investido passou de R$ 1,80 bilhão para R$ 2,80 bilhões, um aumento de 55,55%. Os números foram compilados com base em informações da B3. Os dados apontam que no RN os homens (46.714) investem mais do que as mulheres (13.122). Apesar do crescimento dos últimos anos, o número total de investidores, de acordo com Carlos Müller, sócio-fundador da Garoa, ainda é considerado tímido.

Atualmente o RN ocupa o sexto lugar no Nordeste e o 18º no Brasil entre os estados com maior quantidade de investidores. Esse dado é considerado estratégico para a construção de planos de investimento alinhados ao perfil de cada indivíduo, além da análise de portfólios para otimização da relação risco-retorno. Para Müller, o conservadorismo é a principal característica dos potiguares quando o assunto é investir de um modo geral, seguindo uma tendência que é nacional. “O investidor conservador é aquele com predileção por produtos de renda fixa e que, depois, passa para produtos como CDBs”, aponta.

Rodrigo Paz, assessor de investimentos da Acqua Vero Investimentos, avalia que os números da B3 indicam que a pandemia, aliada ao crescimento de dispositivos digitais, impulsionou uma mudança de comportamento que tornou os potiguares mais curiosos em relação ao tema. Ele confirma o perfil predominantemente conservador dos potiguares, mas ressalva que o cenário passa por um momento de transição. “Isso é visto pelo mercado como uma oportunidade em meio a uma lacuna que é a falta de informação de qualidade para gerar entendimento sobre diferentes possibilidades de perfis”, cita Paz.

De acordo com o assessor, 52% dos brasileiros não possuem sequer uma reserva de emergência; 12% poupam dinheiro mas não aplicam, enquanto apenas 17% investem. “Quando eu olho para o RN, a característica que mais eu percebo é que o investidor quer migrar para o próximo passo, com mais diversificação e entendimento, mas ainda falta informação de qualidade”, afirma Rodrigo Paz.

Essa falta de informação, para Carlos Müller, forma, junto com a falta de acesso à educação financeira, o principal gargalo para aqueles que desejam fazer algum tipo de investimento. “Nos últimos anos, com o advento do YouTube e das redes sociais que falam de investimentos, a gente percebe um acréscimo de produtos mais arrojados e de pessoas aderindo a esses produtos”, frisa Müller.

“Mas há questões culturais e de mercado que influenciam, porque o histórico do Brasil sempre foi de juros altos, então, entende-se que, até certo ponto, não há necessidade de correr riscos, uma vez que existem retornos bastante interessantes em ativos conservadores. E a educação financeira é um fator e um pilar importantes, porém ainda em desenvolvimento. O resultado disso é uma presença muito baixa nas carteiras de renda variável”, acrescenta Carlos Müller.

Investimentos crescem no Nordeste

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o número de investidores em produtos da B3 no RN está aquém do potencial do Estado. O cenário se dá, conforme apontado, pela falta de acesso a informações de qualidade. Esta é a realidade de toda a região Nordeste, onde os dados compilados pela Garoa junto à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostram que, no ano passado, os nordestinos aplicaram R$ 663,5 bilhões em investimentos em geral (B3 e outros produtos], um aumento de 13,2% em relação a 2023. Do total de 2024, no entanto, R$ 74,4 bilhões (11,2%) foram alocados somente em títulos privados corporativos, excluindo CDBs. Apesar do crescimento, os dados mostram que o conservadorismo é significativo na região, uma vez que os títulos privados representam investimentos de renda fixa.

Para o ortodontista Felipe Thiago Dantas, de 41 anos, o equilíbrio entre renda fixa e variável foi a virada de chave que o ajudou a dar uma guinada nos próprios investimentos. Há cerca de nove anos, ele passou a estudar as possibilidades disponíveis no mercado para além do dinheiro parado na poupança. Mas a falta de conhecimento e a busca por oportunidades mirabolantes fizeram com que Dantas perdesse bastante dinheiro com a Bolsa de Valores. O equilíbrio só foi alcançado a partir de 2018, com a divisão das aplicações – parte em ativos mais conservadores, parte em produtos mais agressivos.

Em 2020, o ortodontista passou a contar com orientações de Rodrigo Paz, o que lhe permitiu aprimorar ainda mais os investimentos. “Hoje eu tenho uma carteira extremamente diversificada, desde renda fixa atrelada à inflação, passando por renda pré-fixada e tesouro, a investimentos no setor privado como CRAs [Certificados de Recebíveis do Agronegócio], CRIs [Certificado de Recebíveis Imobiliários] e debêntures, além de continuar, em menor proporção, na Bolsa, com ativos como Petrobras, Banco do Brasil, Vale e Previdência Privada – este, aliás, foi meu primeiro tipo de investimento”, descreve Felipe Dantas.

Nos últimos dois anos, ele ampliou as aplicações para o exterior, com a dolarização de algo em torno de 5% a 10% da própria carteira em ativos nos Estados Unidos. O auxílio de um assessor financeiro, segundo Dantas, é importante, já que é esse profissional quem irá buscar investimentos de acordo com o perfil de cada indivíduo. Ele sublinha, no entanto, que isso não deve tirar do investidor o interesse em buscar informações confiáveis e de se qualificar sobre o mercado.

“Continuo estudando, analisando os cenários, vendo o noticiário e tentando filtrar tudo de maneira isenta para buscar grandes oportunidades. Hoje, estou satisfeito com meus investimentos, graças também à assessoria que recebo”, pontua o ortodontista. “É preciso que o investidor entenda alguns pontos cruciais – um deles é que, se não existe organização nas contas de casa, não é possível olhar para o lado do investimento. É aí que entra a necessidade de um profissional para assessorar perante o mercado”, afirma Rodrigo Paz.

Alta taxa de juros: momento para investir

Rodrigo Paz, assessor de investimentos da Acqua Vero, avalia que o momento vivenciado pelo mercado financeiro permite investimentos de forma muito segura, graças à taxa de juros atual, de 15% ao ano. Papéis como tesouro, segundo ele, estão com taxas excelentes. A dica, ensina, é que o investidor fique sempre de olho. “É preciso observar bem o momento atual e o futuro. O investimento consiste em proteger capital ao longo do tempo, enquanto se busca rentabilidade para aumentar o patrimônio”, orienta Paz.

Carlos Müller, da Garoa Wealth Management, reforça que as oportunidades dependem de cada perfil e da experiência do investidor, mas ele garante que existem bons produtos tanto em renda fixa quanto em renda variável. “Com a inflação em 7% ao ano, temos ativos em renda fixa com retornos excepcionais. Mas a gente também tem, pensando pela ótica da Bolsa, resultados crescentes, por mais que o índice esteja em máximas históricas. Portanto, para quem tem um horizonte de investimento mais curto, há excelentes oportunidades em renda fixa e não há por que correr riscos”, fala.

“Para a pessoa que já superou esse acúmulo de curtíssimo prazo e está pensando em planejar uma aposentadoria, um investimento mais longo, também há boas oportunidades em renda variável. O perfil da pessoa pode ajudar a definir qual o tamanho do investimento na Bolsa”, completa Müller. Ter clareza dos prazos, nesse aspecto, é crucial, segundo ele. “É preciso ter em mente se a pessoa vai precisar do recurso investido daqui a um ano, por exemplo. Se é assim, ela não deve entrar na Bolsa, sob o risco de patamares muito baixos lá na frente”, ensina Carlos Müller.

Uma boa análise, segundo ele, pode ajudar a expandir ainda mais o número de investidores potiguares na B3. “Esse crescimento de pessoas do RN que estão na Bolsa de Valores em cinco anos é expressivo, mas pode aumentar. Se a gente considerar que 1,2 milhão de potiguares estão em idade economicamente ativa, esses quase 60 mil investidores representam apenas 0,5% do total de pessoas que podem incluir seus ativos na B3. O valor total investido pelo RN soma apenas 0,48% de todo o capital aplicado no País. Então, há um potencial enorme no Estado”, assinala Müller.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VÍDEO - Pressão aumenta contra Governo: Neilton divulga vídeo em apoio aos PMs e Bombeiros no retorno das promoções

  O deputado estadual Neilton Diógenes (PP) foi para as redes sociais destacar que está ao lado dos policiais e dos bombeiros militares na b...