Bruno Vital
Repórter
O Governo do RN terá 15 dias para apresentar
esclarecimentos ao Tribunal de Contas da União acerca da licitação para
construir o Hospital Metropolitano. A licitação foi suspensa pelo TCU, por
conta de indícios de direcionamento. O prazo começa a ser contado após a
notificação da decisão, o que até a tarde desta quinta-feira ainda não havia
acontecido. O Governo do RN afirma que a licitação foi conduzida sem qualquer
irregularidade e que confia na revogação da medida, após a apresentação dos
esclarecimentos. Além disso, o Governo afirma que o cronograma da obra está
mantido, com início marcado para o mês de julho.
O contrato com a empresa vencedora já havia sido
assinado, e aguardava a emissão da ordem de serviço para o início das obras,
mas agora todo o processo está paralisado. A construção do hospital é
considerada uma das principais prioridades da gestão estadual dentro do Novo
PAC. O empreendimento será erguido em Emaús, Parnamirim, na Grande Natal. Ao
todo, estão previstos investimentos de R$ 200,7 milhões, oriundos de recursos
federais. A nova unidade contará com 350 leitos, sendo 40 de UTI, 14 salas de
cirurgia, centro de diagnóstico por imagem e estrutura tecnológica de ponta,
além de heliponto e sistemas de sustentabilidade.
Apesar da paralisação, o Governo do Estado acredita
que o cronograma de execução do Hospital não será comprometido. A previsão é de
que a unidade esteja concluída em dois anos, com funcionamento previsto para
2027. O secretário de Infraestrutura Gustavo Coelho diz ter confiança de que os
esclarecimentos ao TCU serão suficientes para destravar o processo. “A
princípio, acreditamos que teremos aí uma solução breve para todo esse
imbróglio. É importante frisar que rechaçamos qualquer possibilidade de fraude,
essa palavra sequer é mencionada pelo TCU”, afirma.
Questionado sobre as suspeitas de favorecimento à
empresa vencedora, o secretário foi enfático ao rechaçar qualquer
irregularidade. “Não houve qualquer favorecimento, até pelo que eu expliquei,
todo o procedimento foi revestido de toda licitude, toda lisura, transparência,
inclusive nenhum ato ficou omisso, obscuro”, diz. “É só pegar o próprio
procedimento licitatório dentro do PNCP e se verifica que todos os atos foram
públicos e transparentes. Então não existe qualquer favorecimento, em hipótese
alguma”, reforça.
Apesar de ainda não ter sido formalmente notificado,
o Governo do Estado se mobiliza para responder aos questionamentos do TCU
dentro do prazo estabelecido, pontua o secretário. “A cautela determina 15 dias
para que a gente possa prestar os esclarecimentos, prestaremos, claro, todos os
esclarecimentos, até porque é interesse do Estado demonstrar o seu
comportamento inarredável com a lisura, com a licitude dos seus atos”, declara
Gustavo Coelho.
TCU vê risco de prejuízo
De acordo com o Acórdão nº 1376/2025, há indícios de
irregularidades no processo licitatório e risco de prejuízo de R$ 3,29 milhões
à administração pública. O TCU identificou possíveis irregularidades nas etapas
de habilitação técnica e documental das empresas concorrentes. A Corte
determinou a oitiva da Secretaria Estadual de Infraestrutura (SIN) e da empresa
vencedora, além do envio de documentos complementares. Entre os pontos que
devem ser esclarecidos, está a inabilitação da empresa melhor colocada, que teria
recebido apenas duas horas para reapresentar um conjunto extenso de documentos
considerados ilegíveis, sem que houvesse detalhamento prévio de quais arquivos
estavam com problemas de leitura.
Outro questionamento do TCU recai sobre a
desclassificação da empresa classificada em segundo, que apresentou atestados
técnicos de instalação de elevadores com cinco paradas, enquanto o edital
exigia experiência com elevadores de seis paradas. Para o TCU, a
desclassificação da segunda colocada no certame foi baseada em um “formalismo
excessivo”. A Corte avaliou que a exigência de atestado para instalação de
elevadores sem justificativa técnica robusta, pode ter eliminado a proposta
mais vantajosa. Segundo o acórdão, “tal exigência resultou na rejeição de uma
proposta aproximadamente R$ 3,29 milhões mais econômica, o que, por si só, já
constitui forte indício de violação ao princípio da economicidade”.
A terceira colocada também foi chamada a apresentar
documentação, mas, segundo o titular da SIN, não entregou os documentos
exigidos mesmo após prorrogação de prazo. “A terceira colocada tinha duas horas
também, em isonomia com as outras, para apresentar sua documentação, alegou que
precisava de mais tempo, solicitou prorrogação de prazo, nós concedemos a
prorrogação de prazo por 24 horas e ainda assim ela não apresentou sua
documentação”, relata. Com isso, a quarta colocada foi convocada e, conforme a
SIN, apresentou toda a documentação dentro do prazo e foi validada.
O TCU também pediu explicações sobre a proibição de subcontratação
prevista no edital, especialmente na etapa de instalação dos elevadores,
considerada atividade técnica normalmente realizada pelos fabricantes. Além
disso, a Corte quer saber se o agente de contratação responsável pela condução
do certame integra o quadro permanente da administração pública ou se há
justificativa para a designação em caráter excepcional. A Secretaria também
deve indicar formalmente um interlocutor para prestar novos esclarecimentos e
encaminhar toda a documentação relativa às diligências feitas.
Gustavo Coelho detalha que a seleção dos critérios
técnicos foi feita por uma comissão da própria secretaria, com base em
fundamentos que priorizam os itens mais relevantes tanto do ponto de vista
técnico quanto financeiro. “A escolha da parcela de maior relevância é feita
por uma comissão nossa aqui, isso é submetido, a gente discute bastante sobre
isso e a lei estabelece alguns critérios, dentre eles, os que estão na curva
ABC, isto é, os que têm peso no quesito custo, mas também na questão técnica”,
explica.
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