Dados históricos das pesquisas opinião ajudam a
dimensionar o atual desafio da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) quando o assunto é popularidade. Se considerados os dois mandatos
anteriores, com base em levantamentos feitos na época pelo Ibope, e a avaliação
sobre o atual medida pela Genial/Quaest, o petista não via a desaprovação
superar numericamente o apoio à sua gestão desde dezembro de 2005, quando ainda
enfrentava os efeitos do escândalo do Mensalão.
O pontapé inicial do Mensalão ocorreu em junho
daquele ano, com a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB) sobre o
esquema, mas o caso cresceu ao longo dos meses. O ápice do reflexo do episódio
na avaliação do governo se deu em dezembro, com 42% dos entrevistados pelo
Ibope dizendo que aprovavam o Planalto, 20 pontos a menos do que em novembro do
ano anterior. No mesmo dezembro de 2005, 52% desaprovavam o trabalho de Lula.
— Isso nos conta que, se olhar para o passado, Lula
já mostrou capacidade de recuperação. É algo assegurado? Não. O problema que
Lula tinha em 2005 era o Mensalão, que era enorme, mas ele teve a favor uma
bonança na economia — diz o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda,
presidente de honra da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais
(Abrapel). — Agora os problemas dele surgem associados à economia. Não existe o
Mensalão ou a Lava-Jato, mas é um problema ligado a uma variável estrutural,
que é a economia.
A retomada de Lula pós-Mensalão foi expressiva. A
partir do início de 2006, ano em que se reelegeria, o presidente reconquistou a
avaliação positiva até alcançar o maior patamar da história nos meses finais do
segundo mandato, em 2010, quando a aprovação ao seu governo passou de 80%.
— Ele também não conta hoje com a flexibilidade do
eleitorado, que naquela época tinha mais plasticidade de opiniões. Hoje em dia
as bolhas são mais enrijecidas — avalia Lavareda. — Mas, quando vemos a
variação de uma pesquisa para outra da Quaest, o que teve de mais negativo foi
o caso do Pix. Como é uma coisa mais conjuntural, isso abre espaço para ele se
recuperar, por ter sido uma causa bem específica.
Na semana passada, a pesquisa Genial/Quaest mostrou
um placar de 49% a 47% para os que reprovam a gestão. Os dois grupos ficaram
empatados no limite da margem de erro, de um ponto percentual, mas houve
redução da percepção positiva na comparação com a pesquisa anterior.
Apesar dos números em queda, Lula ainda conta com
mais gente a favor do governo do que o percentual de brasileiros aptos a votar
que o escolheram em 2022. Isso é constatado quando se analisam não os votos
válidos, e sim quanto do total do eleitorado apertou o 13 nas urnas: 38,6%,
quase dez pontos a menos do que os 47% que dizem aprovar a gestão.
Na coletiva de imprensa que promoveu na semana
passada no Planalto, Lula abordou o recado das pesquisas. Ao relatar conversas
que tinha com o ex-ministro Paulo Pimenta, que saiu da Secom para dar lugar ao
publicitário Sidônio Palmeira, assumiu que o governo ainda não entregou à
população as promessas de campanha, o que mexe com o humor da opinião pública.
— No primeiro ano de governo,o povo tem muita
expectativa. No segundo ano, o povo começa a saber se as expectativas estão
sendo cumpridas. Eu dizia para o Pimenta: não se preocupe com pesquisa, porque
o povo tem razão. A gente não está entregando aquilo que a gente prometeu.
Então como é que o povo vai falar bem do governo? — questionou o presidente.
Lula, no entanto, afirmou que “ainda é muito cedo”
para projetar a eleição de 2026 e cravar se o governo é bom ou ruim.
— Tenho consciência do que estamos fazendo. Muita
consciência. Cada coisa que eu falar, nós vamos entregar — assegurou.
Neste mandato, a série histórica da Quaest tem como
melhor momento para Lula o mês de agosto de 2023, quando registrou 60% de
aprovação, ante 35% de reprovação. Em todas as 11 pesquisas anteriores à
divulgada na semana passada, o presidente manteve mais de 50% de aprovação.
Além da crise do Pix, que colocou o governo nas
cordas, outro dado que preocupa o Planalto é a inflação dos alimentos. Para 83%
dos entrevistados, o preço da comida piorou de dezembro para janeiro. O poder
de compra é considerado uma variável decisiva na hora do voto.
— Não tem sentido fazer um sacrifício enorme para
fazer políticas públicas, para o dinheiro chegar na conta, e depois esse
dinheiro ser comido pela inflação — reconheceu Lula à imprensa.
O Globo
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