Desde que pesquisas começaram a indicar acentuada
queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Palácio do
Planalto busca um culpado para a crise. Lula reuniu o núcleo duro do governo no
domingo, na Granja do Torto. Na véspera, o ministro-chefe da Secretaria de
Comunicação Social, Sidônio Palmeira, teve uma conversa reservada com sua
equipe.
Na reunião do Torto, o diagnóstico indicou que os
principais problemas estavam relacionados à economia. Na lista apareceram a
divulgação da portaria sobre monitoramento do Pix sem combinar com os russos –
o que deu margem a notícias falsas sobre a medida, obrigando o governo a recuar
–, a taxação das blusinhas e até a inflação dos alimentos, pressionada pelo
aumento do dólar.
As críticas mais fortes partiram dos ministros da
Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Os dois
disputam os rumos do governo com o titular da Fazenda, Fernando Haddad, que não
estava presente por causa da viagem ao Oriente Médio. O vice-presidente Geraldo
Alckmin, escanteado no Planalto, não foi convidado.
Sidônio relatou que a queda na aprovação do governo
já era esperada e disse que a temporada de turbulência ainda pode demorar.
Traduzindo: o efeito das bondades anunciadas pelo governo, como Gás para Todos,
gratuidade de 100% dos medicamentos do Farmácia Popular e crédito consignado
mais acessível, leva tempo para ser percebido.
O ministro também vai mudar nomes de programas sem
qualquer apelo popular, como o “Mais Acesso a Especialistas”, do Ministério da
Saúde. Apesar das cobranças de Lula, o programa não consegue chegar a todas as
regiões do País e muito menos ser uma marca.
Nos bastidores, dirigentes do PT e ministros do
partido elogiam o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que fez
uma avaliação precisa sobre o terceiro mandato do presidente. Em carta enviada
a amigos, Kakay afirmou que “Lula está se esforçando muito para perder” a
reeleição, em 2026. Foi na casa do advogado, em Brasília, que o petista
comemorou a diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral (STE), em 12 de
dezembro de 2022.
Integrante do grupo Prerrogativas, que reúne
advogados ligados ao PT, Kakay disse em público o que todos falam em privado.
Existe um novo Lula na praça, isolado, que “não recebe mais os velhos amigos e
perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir,
de olhar a cena política.”
O receio é que Jair Bolsonaro (PL), mesmo denunciado
por tentativa de golpe, consiga unir a direita na próxima campanha. Virar esse
jogo, porém, depende do próprio Lula. Criticada, a primeira-dama Rosângela da
Silva, a Janja, não é culpada pelo isolamento do presidente nem por erros do
governo e muito menos pelo fato de Lula ter se cercado de políticos que só o
bajulam.
Dificuldade para demitir e fazer reforma ministerial
Lula sempre teve, mas antes contava com um time de conselheiros que apontava
para ele, com todas as letras, a necessidade da correção de rota.
Nem sempre um dos grilos falantes conseguia mudar a
opinião do chefe e os embates acabavam aparecendo. Certa vez, no primeiro
mandato de Lula, um poderoso ministro fez um desabafo durante reunião do PT:
“Todos nós sabemos o nome da crise. Só não podemos dizer qual é”. Qualquer
semelhança com a realidade atual não é mera coincidência.
Vera Rosa - Estadão
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