Donald John Trump inicia hoje, aos 78 anos, seu
segundo e último mandato na Presidência dos Estados Unidos em uma cerimônia
mais seleta do que a norma, dentro do Capitólio, sem os tradicionais discurso
para a população no National Mall e parada pela Avenida Pensilvânia, abortados
pelo frio de -12°C que castiga a capital do país.
Após o juramento constitucional, no Salão Oval da
Casa Branca ou, como defendem lideranças trumpistas, em uma mesa especialmente
instalada no muito mais informal palco da Arena Capital One, no centro da
cidade, com capacidade para 20 mil pessoas, o republicano assinará uma série de
ordens executivas que darão forma à sua segunda temporada no comando da maior
potência global.
Entre eles, adiantou à militância ontem, na mesma
arena, em sua “festa da vitória”, um dia antes da posse, se destacará “o
esforço mais agressivo e abrangente para restaurar fronteiras que o mundo
jamais viu”, com o início da deportação em massa de imigrantes sem documentação
legal.
E também o fim do pente-fino sobre as big techs,
marco do governo de Joe Biden, agora alçadas à condição de “parceiras
estratégicas”. Além de seu antecessor, os ex-presidentes Barack Obama (sem a
ex-primeira-dama Michelle, que não informou motivo formal para a ausência),
George W. Bush e Bill Clinton estarão presentes, mas dividirão as atenções com
o grupo seleto que Biden classificou de “novos barões da oligarquia a ameaçar a
democracia americana”.
Terão lugar de destaque Elon Musk (SpaceX, Tesla,
X); Mark Zuckerberg (Meta); Jeff Bezos (Amazon); Tim Cook (Apple); Shou Zi Chew
(Tik Tok); Sundar Pichai (Google) e Sam Altman (Open AI).
Ontem, Trump convocou Musk para o palco da arena e
teceu-lhe elogios e agradeceu por sua dedicação à campanha, um investimento
milionário que já rende dividendos ao bilionário. Também celebrou que“o Tik Tok
está de volta”, em referência à sua movimentação para encontrar uma saída para
a rede social mais popular entre os jovens americanos seguir viva apesar da restrição
legal pelo fato de ter controle chinês.
— E, além disso tudo, vocês também ficarão muito
felizes quando ouvirem minha decisão sobre “os reféns” de 6 de janeiro —
afirmou Trump ontem, em comício com jeito de programa de entretenimento, ao
gosto do presidente eleito e de sua base fiel.
O republicano deve perdoar hoje centenas de
condenados pela invasão e destruição, em janeiro de 2021 — após sua incitação,
ao não reconhecer a derrota nas urnas para Biden — do mesmo prédio que hoje é
palco de seu retorno triunfal a Washington. A Associated Press (AP) revelou no
sábado que juízes federais em diversos estados já deram permissão, nos últimos
dias, para que pelo menos 20 pessoas processadas pela invasão do Capitólio
viajassem a Washington para celebrar a vitória de Trump. Um magistrado
justificou sua decisão alegando que “agora o evento é de comemoração, não de
protesto, sem risco de violência”.
—Nós vencemos! E iremos fazer nosso país melhor do
que jamais foi. Amanhã (hoje), ao meio-dia, a cortina se fechará sobre quatro
longos anos de declínio, e começaremos um novo dia, impulsionados pela força,
pela prosperidade e pelo orgulho americanos — afirmou Trump no comício de
ontem, a primeira vez em que discursou para a militância em Washington desde a
invasão do Capitólio.
De lá para cá, o republicano sofreu um impeachment
da Câmara dos Deputados, foi salvo de se tornar inelegível pelos republicanos
no Senado, abandonado por Wall Street, que o considerava “radioativo”, e se
tornou o primeiro ex-presidente condenado por um crime e agora o único a
retornar ao poder com a ficha suja.
De forma espetacular, Trump assumiu o controle total
do Partido Republicano, instalou em seu comando uma de suas noras, e encontrou
justamente nas investigações do Departamento de Justiça de Biden contra ações e
falas de cunho antidemocrático o combustível final para seu retorno. Desde as
primárias republicanas, apresentou-se como vítima da burocracia de Washington e
encontrou em Biden, há meio século nos corredores do poder, o adversário ideal.
Sobreviveu a dois atentados, o primeiro deles, às
vésperas da Convenção Republicana, que quase lhe tirou a vida, e conseguiu, com
alguma dificuldade, adaptar-se a uma nova adversária a 100 dias das eleições.
Uma de suas primeiras argumentações contra a vice-presidente Kamala Harris, não
por acaso, foi a de que ela, por não ter passado, pelas primárias partidárias,
não vinha, como ele, de um processo “verdadeiramente democrático”.
As ênfases no discurso de ontem de que ele venceu as
eleições “contra o interesse dos que tentaram de tudo para não me deixar
concorrer” e de que “vim para acabar com as medidas radicais de Biden” devem se
repetir nos próximos meses e dar fôlego para a transformação do país defendida
por um presidente seguro de seu apoio popular. E que repete aos aliados mais
próximos crer ter sido predestinado a este retorno após escapar dos atentados.
Em suas últimas 24 horas no poder, o atual
presidente foi quem esteve mais perto de Deus, em ato para celebrar Martin
Luther King Jr. em um templo na Carolina do Sul. De lá, avisou, aos 82 anos.
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