Tiago Rebolo
Da Redação da 98 FM
Um entendimento fixado no fim do ano passado pelo
Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (TCE-RN), com base em
decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), deve gerar nos próximos meses uma
corrida por aposentadorias de servidores públicos, tanto do Estado quanto de
municípios potiguares que têm regime próprio de previdência.
Isso porque, em acórdão publicado no último dia 22
de dezembro, o TCE-RN estabeleceu que servidores contratados sem concurso
público antes da Constituição de 1988 (estáveis excepcionais) só podem se
aposentar pelos regimes próprios de previdência do Estado e dos municípios caso
se aposentem até 25 de abril de 2024.
A Secretaria Estadual de Administração (Sead)
manifesta preocupação com os efeitos da decisão do TCE. A pasta enfatiza que
o cumprimento do acórdão poderá levar 3.690 servidores a se aposentarem
até 25 de abril, o que vai desfalcar órgãos do Estado. “Isso impactará na
governabilidade de pelo menos 18 órgãos, os quais poderiam ter suas atividades
interrompidas ou prejudicadas por essa falta de servidores”, enfatiza a Sead.
O governo ressalta que não tem condições (nem legais
nem financeiras) de repor esse número de servidores aposentados. “Além disso,
mesmo que pudesse realizar um concurso público para suprir as vacâncias
decorrentes do Acórdão 733/2023, a partir de uma autorização extraordinária do
TCE-RN, aumentaria a despesa com pessoal em mais de R$ 13 milhões mensais”, diz
nota da secretaria.
Na última segunda-feira (22), o secretário Pedro
Lopes (Administração), o presidente do Instituto de Previdência dos Servidores
Estaduais (Ipern), Nereu Linhares, e procurador-geral adjunto do Estado, José
Duarte Santana, se reuniram com servidores para expor detalhes sobre o assunto.
Foi informado aos servidores que a Procuradoria-Geral
do Estado (PGE) deverá recorrer da decisão.
Em nota conjunta publicada no início da semana, nove
sindicatos de servidores e três centrais sindicais do Estado classificaram a
decisão do TCE como “arbitrária”. “Não estamos falando apenas de números. São
pessoas que dedicaram suas vidas na prestação e na manutenção desses serviços e
que agora estão sendo descartadas sem nenhum tipo de consideração. Não vamos
aceitar!”, enfatiza a nota.
Os sindicatos planejam, ainda, um protesto em frente
ao TCE-RN na próxima terça-feira (30) para cobrar que o órgão reveja a decisão.
O que diz o TCE
Em nota, o TCE informou que tomou a decisão após
consultas realizadas pelo Associação Norte-rio-grandense de Regimes Próprios de
Previdência (Anorprev) e por três institutos municipais de previdência (das
cidades de Patu, Riachuelo e São Gonçalo do Amarante).
Sobre o mérito, a Corte de Contas afirma que fixou o
entendimento com base em decisões recentes tomadas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF).
“A resposta emitida pelo TCE-RN adota entendimento
pacificado no STF que reafirmou, no dia 12 de julho de 2023, a tese de que
servidores admitidos sem concurso público até a promulgação da Constituição
Federal de 1988 devem se vincular ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS)
e não sob as regras dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). O STF
fixou tese de repercussão geral, levando todos os órgãos da administração
pública – incluindo a Justiça Estadual, Federal e os Tribunais de Contas – a
decidir de maneira uniforme, em consonância com o entendimento da Suprema
Corte”, afirmou o TCE, em nota.
A Corte enfatiza que a fixação do prazo foi uma
forma de prestigiar a “segurança jurídica”. “O TCE-RN modulou os efeitos da
decisão, fixando como prazo a data de 25/04/2024, de forma a preservar as
situações funcionais dos servidores que já possuem direito à aposentadoria, com
o consequente registro no RPPS, sem necessidade de vinculação ao Regime Geral.
A modulação utiliza parâmetro temporal já adotado pelo STF em caso semelhante”,
destaca.
“Desta forma, é inverídico afirmar que o TCE/RN
estaria ‘forçando’ servidores a pedir aposentadoria. O Acórdão 733/2023 não
determina aposentadoria obrigatória. Apenas garante a continuidade do registro
junto ao RPPS para aqueles servidores que já possuem direito à aposentadoria,
caso assim escolham. Também não é verdadeiro afirmar que o Tribunal de Contas
tomou uma decisão ‘arbitrária’, uma vez que o órgão foi provocado por meio de
consulta, um instrumento legítimo, e se manifestou conforme entendimento do
Supremo Tribunal Federal”, finalizou.

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