Um sonho de 20 anos destruído em poucos minutos. O
potiguar José Bernardo da Silva, 61 anos, viu sua ferramenta de trabalho ruir
com as ações dos ataques que aterrorizaram o RN nas últimas duas semanas. Seu
micro-ônibus, adquirido em 2014, foi queimado em Parnamirim, deixando o
motorista sem sua linha para transportar passageiros. O episódio triste na vida
do potiguar se juntou a situação da perda da esposa, em novembro passado,
que morreu em decorrência de um câncer. Para adquirir um novo veículo e seguir
com sua vida, o motorista está fazendo uma campanha para arrecadar fundos
para voltar a trabalhar.
De acordo com José Bernardo, ao saber dos
ataques que estavam ocorrendo no RN, o veículo chegou a ser guardado num galpão
de uma granja de um amigo em Parnamirim, evitando deixar o carro na rua para
não ser alvo dos criminosos. Mesmo assim, não adiantou: o veículo foi
incendiado justamente nos primeiros dias dos ataques, dia 15 de março. O
potiguar já está sendo representado pelo advogado Cyrus Benavides, que
acompanha a história nas redes sociais.
“Comprei esse carro “fiado”, fiquei ralando e paguei
tudo. Ele era quitado. Era meu carro para trabalhar. Minha fonte de renda é
essa, fiquei com as mãos amarradas. O intuito dessa campanha é conseguir
arrecadar um valor para tentar comprar outro. Passa muita coisa na nossa
cabeça, mas me vi desesperado na hora, com mais de 20 anos ficando para trás.
Eu juntei o dinheiro tos esses anos. Foi desesperador”, lamenta.
Além de estar lidando com a perda da esposa, Maria
das Graças, que o ajudava no cotidiano de manutenção do ônibus, a dor da perda
do veículo foi ainda maior porque José Bernardo havia feito um empréstimo de R$
24 mil para resolver problemas no motor e outros reparos, já que o veículo
estava parado desde dezembro e havia retornado a funcionar no carnaval deste
ano. O potiguar trabalha com transporte de passageiros desde 2000, tendo iniciado
suas atividades com uma Kombi e adquirido seu microonibus em 2014. O veículo já
era quitado.
“Perdi minha mãe em novembro do ano passado. Foram
anos de luta com meu pai, nesse transporte. Meu pai trabalhava no carro dele,
quando chegava em casa, ela ajudava a limpar, era cobradora, tudo para ajudar
na renda em casa. Esperamos arrecadar o máximo de recursos possíveis para
comprar um novo veículo. O que conseguirmos, será bem vindo”, comenta a filha,
Irene Duarte, 31 anos, que organiza a campanha de arrecadação nas redes
sociais.
Os interessados em ajudar José Bernardo com sua
campanha de arrecadação podem procurar as informações nas redes sociais do
filho no Instagram (@joilsonabensoado).
Ação pedirá indenização na justiça
Uma ação movida por dois permissionários de
Parnamirim que perderam seus veículos nos ataques de facções criminosas,
incluindo o de José Bernardo, pedirá indenizações ao Governo do Estado. A
ação será movida pelo advogado Cyrus Benavides, que representará os motoristas.
O jurista fez um vídeo nas redes sociais contando a história dos dois
motoristas.
“São duas medidas de reconstrução da vida dessas
duas pessoas: vamos entrar com uma ação de danos materiais, morais e lucros
cessantes contra o Estado contra a omissão na questão da segurança. Os lucros
cessantes são os dias que o carro vai ficar parado sem que ele possa colocar
outro na linha para fazer o transporte dos passageiros. Esse primeiro passo
levará, se for algo rápido, pelo menos uns oito anos, porque precisa-se ganhar a
ação, que leva recursos, e depois o dinheiro que forem condenados a pagar,
ainda entrará em precatório. Paralelo a isso, fiz um pequeno documentário
mostrando a dor e o choro da perda dessas pessoas, porque ali não foi embora só
o carro, foi a vida inteira, e que eles não têm como pagar contas básicas”,
explica.
Em entrevista publicada pela TRIBUNA DO NORTE no
último dia 26 de março, o advogado Diógenes da Cunha Lima já havia antecipado a
possibilidade de as pessoas que foram prejudicadas com os ataques moverem ações
judiciais.

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