Pesquisadores da Universidade Federal Rural do
Semiárido (Ufersa), em Mossoró, no Oeste potiguar, estudam a viabilidade da
produção da fruta pitaya com água de tanques de piscicultura - criação de
peixes. Os primeiros resultados foram positivos.
Cerca de duzentos pés de pitaya foram plantados em
março de 2018 no pomar da universidade, a princípio, para avaliar se a planta
teria boa adaptação às condições climáticas e de solo da região.
“A gente aqui trabalha com algumas culturas que
chamamos de alternativas para o pequeno produtor. Tem várias culturas hoje no
estado, banana, mamão, goiaba, que são produzidas por grandes empresas. E os
pequenos produtores? Os médios? Qual seria a alternativa para essas pessoas?
Então, a gente está testando aqui na universidade, culturas que poderiam suprir
essa deficiência para os pequenos produtores e, mesmo com uma pequena área, ele
teria um bom retorno financeiro”, explicar o professor de fruticultura da
Ufersa e orientador da pesquisa, Vander Mendonça.
Já no primeiro ciclo, 11 meses após serem plantados,
os pés começaram a produzir frutos. Para o experimento foram utilizadas as duas
variedades de pitaya: a branca e a de polpa vermelha. Como a planta demonstrou
bom desenvolvimento, o estudo entrou em uma nova fase. Os pesquisadores
passaram a utilizar água reaproveitada de tanques de piscicultura para irrigar
os pés.
Durante o experimento as plantas foram irrigadas 3
vezes por semana e cada pé recebeu cerca de 5 litros de água. Para os testes
foram utilizados três tipos de água diferentes: a primeira, era água de um
tanque de piscicultura; a outra, uma água tradicional de abastecimento; e a
terceira foi a mistura dessas duas águas a 50%. Nos três casos, os resultados
observados foram positivos.
“A nossa região tem uma limitação hídrica, então eu
pensei em agregar outra atividade que seria a da piscicultura, isso dando mais
oportunidade para o produtor. O que nós observamos no primeiro ciclo: a
produção das plantas altíssima, a produtividade da área também. chegamos a ter
frutos com mais de meio kg”, Conta Luana Mende, doutoranda responsável pela
pesquisa.
Foi dela a ideia de usar água reaproveitada nos
testes. Além da boa produtividade, o cultivo da pitaya apresentou uma série de
vantagens para os pequenos agricultores. Uma delas foi o custo. De acordo com o
professor Vander Mendonça, o investimento inicial para uma área semelhante a
que foi implantada na universidade gira em torno de mil reais.
“É uma cultura muito fácil de ser conduzida. O
próprio produtor pode produzir as mudas. Se ele tiver uma estrutura de madeira
para conduzir as plantas na propriedade, isso ajuda demais a baixar os custos.
Ou seja, é uma cultura que tem um custo de implantação em comparação com as outras
culturas, muito baixo. Muito acessível aos pequenos produtores”, reforça o
professor de fruticultura.
As estacas de madeiras usadas para dar sustentação
às plantas medem cerca de 2 metros. Na pesquisa foram usados troncos de
eucalipto, mas o produtor pode optar por qualquer tipo de madeira nativa. Por
ser uma cactácea, necessita de pouca água. O processo mais complicado é a
polinização da planta, que precisa ser feita manualmente.
“Ela tem um hábito noturno onde as flores só abrem a
partir de mais ou menos de 23h até 00h. Então a gente vem à noite com um
pincelzinho pra fazer a polinização. colocar o pólen lá no tubo, porque o fruto
ele só vai formar depois que ocorre essa polinização”, explica Raíres Silva,
estudante de mestrado que também participou da pesquisa.
Em relação às pragas, as plantas chegaram a ser
atacadas pela abelha do tipo arapuá, sem ferrão. Mas ela foi combatida com
armadilhas feitas com garrafas pet. Nos testes iniciais realizados em
laboratório, o problema não afetou em nada a qualidade dos frutos.
“Nós chegamos a observar um teor brix, que é o
açúcar do fruto em torno de 16°. A nossa qualidade é semelhante e eu posso até
falar pra vocês, que superior quando a gente compara até mesmo com as frutas de
supermercado. As pessoas já degustaram e aprovaram”, diz.
A pitaya tem se mostrado uma alternativa cada vez
mais viável para os pequenos produtores da região. E as pesquisas na
universidade devem continuar. Os próximos testes serão com água de alto teor de
salinidade para irrigação.
“A gente não quer parar. Vamos continuar para trazer
mais respostas para facilitar e ajudar a produção”, afirma Raíres.
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