segunda-feira, 16 de março de 2020

Elite do Congresso critica adesão de Bolsonaro a atos; aliado defende


Por Daniela Lima, CNN

A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de aderir e divulgar atos em defesa de seu governo em meio à pandemia de coronavírus foi pesadamente criticada por integrantes da cúpula do Congresso e defendido por aliado ouvidos pela CNN Brasil.

Neste domingo (15), Bolsonaro participou de carreata promovida por seus apoiadores em Brasília e, depois, furando o isolamento a que estava submetido após suspeita de infecção por coronavírus, cumprimentou eleitores na porta do Palácio do Planalto.

O vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (SP), que também é presidente do Republicanos, disse que Jair Bolsonaro, "em meio a uma pandemia e sendo o chefe da nação, não parece ter dado um bom exemplo".

O Republicanos, antigo PRB, é um dos partidos com maior interlocução entre os evangélicos.

O presidente do DEM, sigla que comanda a Câmara e o Senado, ACM Neto, também condenou o gesto de Bolsonaro.

"A atitude do presidente não é compatível com a seriedade e o foco que o momento atual exige", afirmou.

"O momento não é de fazer política, de levantar bandeira partidária. O momento exige união dos líderes e dos governantes, e a postura do presidente não contribui para isso", concluiu ACM. O DEM é o partido do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Estarrecido

O presidente do Progressistas, Ciro Nogueira, também falou sobre o assunto à CNN Brasil. Ele está, neste domingo (15) no interior do Piauí, seu estado, vistoriando unidades de atendimento hospitalar. 

"Estou estarrecido com o fato de que o presidente, que deveria estar comandando as soluções dessa crise, talvez a maior já enfrentada pela nossa geração, esteja no meio de manifestações que podem ajudar a propagar o coronavírus", afirmou.

O Progressistas é um dos maiores partidos do Congresso. Ciro Nogueira é senador (PP-PI).

Em privado, deputados e senadores ouvidos pela CNN Brasil fazem críticas ainda mais severas. Dizem que o presidente agiu como um "irresponsável" estimulando a aglomeração de pessoas, e que ele envia sinais trocados ao, primeiro, desestimular a ida aos atos e, depois, embarcar pessoalmente nas manifestações.

Esta foi a primeira vez que Jair Bolsonaro compareceu a protestos cuja maioria dos gritos eram contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal desde que assumiu a Presidência da República. 

'O povo é dono dele'

Já o deputado Marco Feliciano (sem partido-SP), amigo e aliado do presidente, defendeu a adesão de Bolsonaro aos atos.

"Como chefe de Estado ele fez o correto e pediu em rede nacional de rádio e TV que a população não saísse às ruas. Os movimentos organizados obedeceram e cancelaram os eventos. Contudo, a população simplesmente não obedeceu e foi em massa às ruas de mais de 260 cidades brasileiras", disse Feliciano. 

"A partir daí, não cabia outra posição ao presidente a não ser apoiar quem o está apoiando. Ele representa o povo, não é o dono do povo. Ao contrário: o povo é que é o dono dele!", continuou.

Mimimi

Feliciano chamou de "mimimi" o desestímulo a aglomerações em meio ao novo coronavírus. 

"Quarta-feira (11) mais de 60 mil pessoas assistiram Flamengo contra Barcelona de Guayaquil no Maracanã e ninguém falou nada. Todo dia metrô e trens de São Paulo e de outras capitais estão abarrotados de gente. (..) Ninguém diz nada. Agora vem esse mimimi por causa de manifestações debaixo de céu aberto e com ar corrente?", indagou.

O próprio Ministério da Saúde desaconselhou aglomerações. 

O próprio Feliciano foi às manifestações em São Paulo e postou mensagens nas redes sociais enaltecendo os atos. 

Os atos deste domingo foram marcados por ataques ao Congresso e ao Supremo. Apoiadores chegaram a pedir ao presidente a edição de um novo AI-5, ato da ditadura que fechou o Parlamento e ceifou direitos políticos.

Isolamento

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pela CNN Brasil neste domingo (15) interpretaram a adesão pessoal do presidente da República a atos que atacam o STF e o Congresso como sinal de que Jair Bolsonaro (sem partido) caminha para o isolamento.

Críticas

Adversário de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), condenou a decisão do presidente de estimular e participar de atos em defesa do governo dele neste domingo (15), em meio à pandemia do novo coronavírus.

À CNN Brasil, Haddad disse que Bolsonaro "é um homem, uma pessoa que causa sofrimento em qualquer circunstância". "É patológico."


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