Por Daniela Lima, CNN
A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de aderir e divulgar atos em defesa de seu governo em meio à pandemia de coronavírus foi pesadamente criticada por integrantes da cúpula do Congresso e defendido por aliado ouvidos pela CNN Brasil.
A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de aderir e divulgar atos em defesa de seu governo em meio à pandemia de coronavírus foi pesadamente criticada por integrantes da cúpula do Congresso e defendido por aliado ouvidos pela CNN Brasil.
Neste domingo (15), Bolsonaro participou de carreata
promovida por seus apoiadores em Brasília e, depois, furando o isolamento a que
estava submetido após suspeita de infecção por coronavírus, cumprimentou
eleitores na porta do Palácio do Planalto.
O vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira
(SP), que também é presidente do Republicanos, disse que Jair Bolsonaro,
"em meio a uma pandemia e sendo o chefe da nação, não parece ter dado um
bom exemplo".
O Republicanos, antigo PRB, é um dos partidos com
maior interlocução entre os evangélicos.
O presidente do DEM, sigla que comanda a Câmara e o
Senado, ACM Neto, também condenou o gesto de Bolsonaro.
"A atitude do presidente não é compatível com a
seriedade e o foco que o momento atual exige", afirmou.
"O momento não é de fazer política, de levantar
bandeira partidária. O momento exige união dos líderes e dos governantes, e a
postura do presidente não contribui para isso", concluiu ACM. O DEM é o
partido do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Estarrecido
O presidente do Progressistas, Ciro Nogueira, também
falou sobre o assunto à CNN Brasil. Ele está, neste domingo (15) no
interior do Piauí, seu estado, vistoriando unidades de atendimento
hospitalar.
"Estou estarrecido com o fato de que o
presidente, que deveria estar comandando as soluções dessa crise, talvez a
maior já enfrentada pela nossa geração, esteja no meio de manifestações que
podem ajudar a propagar o coronavírus", afirmou.
O Progressistas é um dos maiores partidos do
Congresso. Ciro Nogueira é senador (PP-PI).
Em privado, deputados e senadores ouvidos pela CNN
Brasil fazem críticas ainda mais severas. Dizem que o presidente agiu
como um "irresponsável" estimulando a aglomeração de pessoas, e que
ele envia sinais trocados ao, primeiro, desestimular a ida aos atos e, depois,
embarcar pessoalmente nas manifestações.
Esta foi a primeira vez que Jair Bolsonaro compareceu
a protestos cuja maioria dos gritos eram contra o Congresso e o Supremo
Tribunal Federal desde que assumiu a Presidência da República.
'O povo é dono dele'
Já o deputado Marco Feliciano (sem partido-SP), amigo
e aliado do presidente, defendeu a adesão de Bolsonaro aos atos.
"Como chefe de Estado ele fez o correto e pediu
em rede nacional de rádio e TV que a população não saísse às ruas. Os
movimentos organizados obedeceram e cancelaram os eventos. Contudo, a população
simplesmente não obedeceu e foi em massa às ruas de mais de 260 cidades
brasileiras", disse Feliciano.
"A partir daí, não cabia outra posição ao
presidente a não ser apoiar quem o está apoiando. Ele representa o povo, não é
o dono do povo. Ao contrário: o povo é que é o dono dele!", continuou.
Mimimi
Feliciano chamou de "mimimi" o desestímulo a
aglomerações em meio ao novo coronavírus.
"Quarta-feira (11) mais de 60 mil pessoas
assistiram Flamengo contra Barcelona de Guayaquil no Maracanã e ninguém falou
nada. Todo dia metrô e trens de São Paulo e de outras capitais estão
abarrotados de gente. (..) Ninguém diz nada. Agora vem esse mimimi por causa de
manifestações debaixo de céu aberto e com ar corrente?", indagou.
O próprio Ministério da Saúde desaconselhou
aglomerações.
O próprio Feliciano foi às manifestações em São Paulo
e postou mensagens nas redes sociais enaltecendo os atos.
Os atos deste domingo foram marcados por ataques ao
Congresso e ao Supremo. Apoiadores chegaram a pedir ao presidente a edição de
um novo AI-5, ato da ditadura que fechou o Parlamento e ceifou direitos
políticos.
Isolamento
Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos
pela CNN Brasil neste domingo (15) interpretaram a adesão
pessoal do presidente da República a atos que atacam o STF e o Congresso como
sinal de que Jair Bolsonaro (sem partido) caminha para o isolamento.
Críticas
Adversário de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, o
ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), condenou a decisão do presidente de
estimular e participar de atos em defesa do governo dele neste domingo (15), em
meio à pandemia do novo coronavírus.
À CNN Brasil, Haddad disse que Bolsonaro
"é um homem, uma pessoa que causa sofrimento em qualquer
circunstância". "É patológico."
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