Por Rodrigo Ferreira
Portal Agora RN
Uma notícia nada animadora para os produtores da
carne bovina fresca brasileira chegou ao país na última quinta-feira, dia 22.
Através de pronunciamento, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos,
Sonny Perdue, anunciou a suspensão da importação da carne tupiniquim para o
país americano. A justificativa utilizada pelo governo estadunidense foi a de
que o índice de qualidade do produto canarinho havia passado – e muito – da
média mundial, deixando os materiais impróprios para o consumo humano.
De acordo com os números apresentados por Perdue e
idealizados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, 11% dos
produtos de carne fresca brasileira que chegaram ao país estavam com nível de
qualidade baixo, o que representa um acréscimo de 10% na média de rejeição
(estipulada em 1%), que considera todos os demais produtos de carne bovina
importadas pelo país através de outras partes do mundo. Vale lembrar que os EUA
era um mercado novo da importância de carne brasileira (os repasses começaram a
ser feitos em julho/16).
Diante do fato, o Agora Jornal procurou ouvir
lideranças do Rio Grande do Norte para comentar o impacto que a suspensão da
importação americana trará aos produtores potiguares. Para o secretário
estadual de Agricultura Guilherme Saldanha, a medida tomada pelo governo
americano vai fazer com que as pessoas responsáveis pela produção percam dinheiro,
uma vez que o estoque de carne ficará sobrecarregado, com muitos produtos à
venda, e sem a quantidade de compradores desejada.
“Infelizmente quem mais vai sofrer com essa
suspensão serão os produtores. Quando há uma medida como essa sendo tomada por
um mercado importante da exportação brasileira, a produção de carne não
diminui. Isso vai gerar uma sobrecarga de material para ser vendido e os
produtores serão obrigados a repassarem por um valor mais baixo. Afinal, não é
interessante para eles manterem um animal pronto para abate pois isso vai
implicar em mais gastos com alimentação, etc.”, declarou o secretário.
Quem também abordou o tema e apresentou visão
parecida com a do secretário foi o presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado do Rio Grande do Norte (FAERN), José Vieira. Para ele, o
excesso de oferta e a baixa demanda, sem dúvida alguma, vai resultado no
decréscimo do valor do produto, o que resultará num efeito inverso: enquanto o
consumidor vai se sentir satisfeito, o produtor estará triste pela queda na
arrecadação da carne.
“É uma notícia que preocupa bastante o setor
pecuário brasileiro por que vai implicar numa queda no valor do produto podendo
ir até mesmo ao prejuízo. Vai haver um excesso de oferta muito grande. O setor
já vinha de um momento ruim em razão da denúncia da Operação Carne Fraca e
agora com essa medida tomada pelos Estados Unidos ficará ainda mais abalado.
Resta torcer para que seja uma situação passageira e que logo a carne
brasileira volte a ser exportada para lá”, completou.
JOGO DE INTERESSES?
Na avaliação do presidente da Faern, a decisão de
suspensão da importação da carne brasileira tomada pelo governo estadunidense
na semana passada se deu, antes de tudo, por uma questão econômica, e não
apenas pelo índice alto de má qualidade encontrado na análise feita. De acordo
com Vieira, os produtores americanos estavam insatisfeitos com a importação da
carne brasileira desde que o acordo foi firmado em julho do ano passado entre
as gestões federais.
Ainda segundo o pecuarista, pelo fato do produto
tupiniquim ser “melhor e mais barato”, isso gerou um processo ‘ciumento’ nos
produtores locais, que fizeram sucessivas investidas na tentativa de barrar a
chegada do produto canarinho em solo americano. “Acredito que foi uma decisão
muito mais econômica do que propriamente sanitária, como justificaram.
Historicamente, os EUA sempre foi o maior concorrente do Brasil na exportação
de carne e a chegada do nosso produto por lá não agradou aos produtores locais.
Penso desta forma”, concluiu o presidente.
Atualmente, o Rio Grande do Norte vem encontrando
dificuldades para exportar a carne produzida pelos potiguares. De acordo com
Guilherme Saldanha, o Estado tem, nos dias de hoje, apenas um abatedouro
legalizado em todo seu território e está sem novos investimentos no ramo há 10 anos.
O problema, no entanto, deverá ser solucionado até o final do ano, quando cinco
novos pontos serão instalados pelo Governo de Robinson Faria (PSD) em cidades
como Ceará-Mirim, Florânia, Acari, Pedro Avelino e Angicos.
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