Felipe Salustino
Repórter
Informações do Anuário da Educação Básica 2025
revelam números alarmantes em relação à aprendizagem adequada de Língua
Portuguesa e Matemática nas escolas públicas do RN. O Estado tem taxa de 6,4%
(a terceira maior do Nordeste, atrás do Ceará, com 7,2%, e de Pernambuco, com
6,6%). Em outras palavras, de cada 100 estudantes potiguares, apenas 6,4
concluem o Ensino Médio com nível adequado. A média nacional é de 4,5%, e no
Nordeste, 4,3%. Os dados são de 2023.
O estudante Diego Guilherme, de 18 anos, confessa
que matemática não está entre as matérias que ele considera ter o melhor
desempenho. Aluno do Atheneu, em Natal, Guilherme revelou que as dificuldades
com cálculo fazem com que ele tenha menos estímulo para encarar a disciplina.
“Essa dificuldade acaba gerando um desinteresse. Imagino que isso pode me
afetar no futuro de alguma forma, como na participação de um concurso público,
por exemplo”, fala o estudante.
Maria Beatriz, de 18 anos, também está concluindo o
Ensino Médio. Ela comenta não ser fácil lidar com fórmulas e operações
matemáticas, questão que lhe acompanhou durante toda a trajetória escolar.
“Acho que não aprendi o suficiente. Creio que as mudanças que tiveram, com o
novo Ensino Médio, contribuíram para a falta de aprendizado adequado nesta
etapa, porque tudo ficou muito confuso”, relata.
Gustavo Fernandes, mestre em Educação e especialista
em Gestão Escolar, analisa que o baixo índice de aprendizagem na última fase da
Educação Básica está diretamente relacionado às primeiras etapas. Segundo o
anuário, nos anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), o índice de
aprendizagem de alunos de escolas públicas no RN em Língua Portuguesa e Matemática
ficou em 19,6%; nos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), a taxa
ficou em 6,6% nas escolas públicas do estado.
“Existem municípios onde mais de 50% dos alunos não
são alfabetizados no Ensino Fundamental. Então, esse aluno chega no Ensino
Médio e não consegue ter um bom aproveitamento por conta das lacunas
acumuladas. É também no Ensino Médio onde o problema se potencializa,
principalmente na área de exatas”, discorre Fernandes, que é secretário de
Educação no Município de Nísia Floresta, na Grande Natal.
Sobre o desempenho da rede estadual, a SEEC informou
que, para buscar reverter este e os demais dados disponibilizados pelo anuário,
vem executando um conjunto de iniciativas para fortalecer o ensino. “Entre as
iniciativas estão a reestruturação física das escolas, com um investimento
superior a R$ 420 milhões com obras de reforma, ampliação e modernização dos
espaços; a ampliação da conectividade, com instalação de internet de alta
velocidade em toda a rede e entrega de novos equipamentos de informática, com
investimento superior a R$ 77 milhões”, disse a pasta.
A Secretaria mencionou que tem implementado ações de
recomposição das aprendizagens voltadas à recuperação das habilidades
essenciais; além da intensificação da Busca Ativa Escolar, realizada em
parceria com os municípios para assegurar o retorno dos estudantes que se
encontram fora da sala de aula. “Somam-se a essas ações o fortalecimento das
iniciativas de formação docente e o desenvolvimento de políticas que integram
inovação, tecnologia e novas metodologias de ensino”, escreveu a SEEC em nota.
Sobre os baixos níveis de aprendizagem no Ensino
Fundamental, de responsabilidade majoritariamente dos municípios, a União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação no RN (Undime/RN), explicou que
o cenário é resultado de fatores como desigualdades sociais, lacunas históricas
de formação docente e ausência prolongada de políticas nacionais de
recomposição das aprendizagens.
“Para reverter esse quadro, a Undime defende a
continuidade e o fortalecimento de ações como expansão da educação integral,
formação de professores, recomposição das aprendizagens, avaliações
diagnósticas e gestão educacional estruturada. Os dados mostram que o estado
está avançando e que os municípios têm atuado de forma comprometida para
melhorar a qualidade da educação”, comentou a entidade.
Evasão e reprovação são frequentes
Mesmo com uma melhora de 5,4 pontos percentuais em
10 anos, o Rio Grande do Norte apresentou uma taxa de reprovação de 11,8% no
Ensino Médio em 2024, a mais alta entre todos os estados do Brasil e o DF e bem
acima das médias nacional (5,1%) e do Nordeste (4,4%). O RN também ficou na
lanterna do País no ranking que mede o abandono escolar nesta etapa, com taxa
de 6,8%, novamente acima dos índices nacional (3,2%) e do Nordeste (3,5%). Os
números de evasão e reprovação também incluem a rede federal e privada.
Em 2014, as taxas de reprovação e abandono escolar
no Ensino Médio potiguar eram de 17,2% e de 10%, respectivamente. No ano
passado, a segunda unidade federativa com maior índice do País em reprovação
nesta etapa foi o Rio de Janeiro (11,2%); quanto ao abandono, a Bahia foi o
segundo estado brasileiro com maior taxa (5,8%). Em nota, a Secretaria de
Estado da Educação (SEEC/RN) afirmou que os dados do anuário “refletem um
histórico de abandono e ausência de investimentos estruturantes que marcaram a
educação pública potiguar por muitos anos”.
Segundo a pasta, “desde o início da atual gestão, o
Governo implantou uma estratégia contínua de recuperação da rede estadual, com
foco na reestruturação das unidades escolares, na melhoria da infraestrutura e
na valorização das condições de ensino e aprendizagem”. A SEEC pontuou que os
resultados desse processo não são imediatos. “A superação das desigualdades
educacionais, bem como a elevação dos indicadores de aprendizagem, demanda
tempo, continuidade das políticas e ações sistemáticas em todas as regiões do
estado”.
Para Gustavo Fernandes, mestre em Educação e
especialista em Gestão Escolar, os índices de reprovação e abandono no Ensino
Médio potiguar são puxados por outro dado que coloca o estado na primeira
posição do ranking nacional e mostra o quanto o cenário local precisa de
políticas públicas para avançar: é a chamada distorção idade-série, ou seja, o
atraso na trajetória escolar, que registra taxa de 34% no RN, segundo o
anuário.
“Essa distorção ainda é muito alta”, aponta. O
especialista afirma ser necessário o que ele chama de “acompanhamento severo”
nas escolas da rede, especialmente naquelas mais afastadas dos grandes centros,
para mudar o quadro. Fernandes avalia que as razões dos variados problemas
estão todas interligadas e cita a falta de professores como uma das principais
causas dos gargalos na rede. “O abandono escolar e a baixa aprendizagem estão
diretamente relacionados à prática docente se nós considerarmos que a ausência
de professores em sala de aula é muito forte”, avalia.
“Sem aulas, os alunos encontram um ambiente escolar
pouco atrativo. É preciso pensar em uma escola que produza uma motivação maior
para garantir a permanência e o aprendizado do estudante. E isso se faz com um
acompanhamento eficaz que passa, de modo muito importante, pela presença dos
professores em sala.”, diz.
Ensino Fundamental em crise
Não é apenas no Ensino Médio que o RN apresenta os
dados mais elevados do Brasil quanto ao desempenho dos estudantes. De acordo
com o Anuário da Educação Básica, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o
índice de reprovação foi de 4,7% em 2024, o segundo maior do País (o Pará ocupa
a primeira posição, com taxa de 5%). Já nos anos finais do Ensino Fundamental
(do 6º ao 9º ano), a taxa de reprovação entre estudantes potiguares é de 13,8%
(o mais alto do Brasil, seguido por Sergipe, com 8,8%).
Para a Undime, apesar dos dados, os municípios têm
avançado de forma consistente. “Dados do MEC mostram que o RN criou 13.327
novas matrículas em 2023, ampliou em 8.484 o número de matrículas entre os
Censos de 2023 e 2024 e alcançou 21.811 matrículas declaradas, o que representa
199% de execução em relação ao pactuado com o Programa Escola em Tempo
Integral. Esse crescimento evidencia o esforço das redes municipais em
reorganizar infraestrutura, equipes e práticas”, assinalou.
Taxa de reprovação no Ensino Médio (ano
base 2024)
- RN:
11,8%
- RJ:
11,2%
- SC:
10,2%
- RS:
9,9%
- PB:
8,5%
- DF:
8,4%
- AC:
7,8%
- AP:
7,5%
- RR:
7,2%
- MG:
6,6%
- AM:
6,3%
- MS:
5,8%
- SE:
5,5%
- AL:
5,3%
- RO:
5,2%
- PR:
5,1%
- BA:
4,9%
- MA:
4,4%
- TO:
4,1%
- MT:
3,5%
- SP:
3,1%
- PE:
3%
- ES:
2,2%
- GO:
1,9%
- PI:
1,5%
- CE:
1,2%
- PA:
1,1%
Taxa de abandono no Ensino Médio (ano
base 2024)
- RN:
6,8%
- BA:
5,8%
- PB:
5,8%
- MG:
5,2%
- AC:
4,8%
- RS:
4,6%
- RJ:
4,5%
- SC:
4,1%
- AM:
4%
- RO:
4%
- AL:
3,7%
- RR:
3,6%
- AP:
3,5%
- MA:
3,3%
- MT:
2,9%
- DF:
2,7%
- SP:
2,1%
- MS:
2%
- TO:
2%
- PA:
1,9%
- CE:
1,8%
- SE:
1,6%
- PR:
1,3%
- GO:
1,2%
- ES:
1,1%
- PE:
0,7%
Fonte: Anuário da Educação Básica 2025

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