A queda do Banco Master, colocado em liquidação
extrajudicial pelo Banco Central, e a prisão preventiva de seu controlador,
Daniel Vorcaro, escancaram um desconforto inédito dentro do STF. Entre 2022 e
2024, o banqueiro patrocinou — direta ou indiretamente — uma sequência de
fóruns nacionais e internacionais que reuniram alguns dos ministros mais
influentes da Corte, criando um ambiente de proximidade hoje visto como
problemático. Agora, os mesmos magistrados que participaram desses encontros
terão de analisar pedidos de habeas corpus e outros recursos apresentados pela
defesa do empresário.
Os eventos custeados pelo Banco Master ocorreram em
cidades como Nova York, Paris, Londres, Roma e Rio de Janeiro, sempre
acompanhados de autoridades do Judiciário. Em alguns casos, como o jantar de
gala realizado no Fasano de Nova York, o patrocínio não aparecia em listas
oficiais, mas era integralmente financiado por Vorcaro. Em outros, como os
fóruns organizados por Lide, Esfera Brasil e Grupo Voto, o banco figurou entre
os patrocinadores ao lado de gigantes como JBS, BTG e empresas do setor
energético. Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias
Toffoli e até Ricardo Lewandowski — quando ainda estava no STF — estiveram
presentes em diferentes edições.
A repetição de convidados, formatos e apoiadores
consolidou o que especialistas chamam de “circuito de influência”, no qual
grandes corporações financiam encontros luxuosos para aproximar-se de
autoridades responsáveis por decisões regulatórias e judiciais. Vorcaro, que
transformou o antigo Banco Máxima em um grupo de atuação agressiva no mercado,
buscava ampliar sua rede política enquanto o Master crescia em velocidade
considerada arriscada por agentes financeiros. Segundo o Banco Central, o banqueiro
cometeu crimes como gestão temerária e desvio de finalidade, elementos que
motivaram sua prisão e a intervenção na instituição.
Com esse histórico, qualquer posição futura do STF
sobre o caso tende a ser interpretada sob suspeita: conceder habeas corpus pode
soar como favorecimento; negar, como tentativa de blindar a própria imagem. A
Corte afirma que não comentará o tema, embora alguns ministros já tenham
defendido publicamente a legitimidade de participar de eventos privados. O
episódio, porém, reacende o debate sobre o limite ético entre financiamento
empresarial e agendas institucionais — e coloca em xeque a relação entre o
Judiciário e o circuito de eventos patrocinados por grupos com interesse direto
em decisões da Suprema Corte.
Com informações do Poder 360

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