terça-feira, 25 de novembro de 2025

Dentistas podem prescrever Mounjaro? Entenda

 


A autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso do Mounjaro (tirzepatida) no tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS), em outubro, gerou dúvidas sobre os profissionais aptos a prescrever o medicamento. Como a condição também é acompanhada na odontologia, dentistas passaram a poder indicar o remédio.

O Conselho Federal de Odontologia (CFO), porém, faz ressalvas. A entidade reforça que a prescrição deve seguir os limites éticos da profissão e priorizar a segurança do paciente. Também destaca que os dentistas só podem prescrever a tirzepatida para aqueles cuja apneia esteja diretamente associada à obesidade — doença que requer acompanhamento médico.

“O dentista pode prescrever, mas somente para pacientes com apneia associada à obesidade e sempre garantindo que haja acompanhamento médico. A obesidade não é tratada pela odontologia”, diz a conselheira e cirurgiã-dentista Bianca Zambiasi.

Segundo ela, houve inicialmente um ruído que sugeria que qualquer caso de AOS poderia receber a indicação de Mounjaro, o que não está autorizado. “O medicamento é indicado para obesidade e melhora a apneia como consequência. Uma pessoa com apneia sem obesidade não tem benefício com a tirzepatida”, afirma.

Zambiasi enfatiza que o tratamento deve ocorrer em contexto multidisciplinar, com endocrinologista, nutrólogo, otorrinolaringologista e outros profissionais. Se o paciente não estiver sendo acompanhado para tratar a obesidade, o dentista não deve manter a prescrição, para evitar extrapolação de competência.

O ideal, afirma a conselheira, é que o dentista responsável pela prescrição tenha formação específica em sono. Caso haja prescrição fora das regras, o profissional pode sofrer sanções éticas. As denúncias podem ser feitas por qualquer pessoa nos canais dos Conselhos Regionais de Odontologia.

O que dizem os endocrinologistas

Em resposta ao Estadão, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) afirmou seguir as normas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e considerar que decisões de outros conselhos que possam representar invasão de área devem ser debatidas.

A entidade destaca que o dentista tem papel reconhecido no tratamento de doenças dentro de sua área de atuação. A AOS é um distúrbio respiratório marcado por episódios de obstrução parcial ou total das vias aéreas durante o sono, tendo como principais fatores de risco a obesidade e alterações anatômicas, como pescoço largo, amígdalas grandes, desvio de septo ou hipoplasia mandibular.

Na odontologia, o tratamento costuma envolver dispositivos intraorais ou procedimentos para avançar estruturas ósseas. “Porém cirurgiões-dentistas não podem realizar cirurgias de amígdalas, adenoides ou septoplastias. Do mesmo modo, não devem tratar o principal fator, que é a obesidade”, afirma a Sbem.

A sociedade considera que dentistas não deveriam prescrever medicamentos sistêmicos para apneia e vê com preocupação os riscos associados ao uso dessas drogas, especialmente quando há efeitos colaterais que não podem ser manejados pelo dentista.

Mounjaro e apneia

No Brasil, a tirzepatida, assim como outros agonistas de GLP-1, é indicada para o tratamento de diabetes e obesidade e passou a ser vendida apenas sob prescrição em junho deste ano.

Estudos recentes sugeriram que o medicamento também pode ajudar em casos de apneia obstrutiva do sono, o que levou a Anvisa a autorizar sua prescrição para o tratamento da condição moderada e grave para pessoas com obesidade.

Os resultados do estudo clínico de fase 3 SURMOUNT-OSA mostraram que o Mounjaro reduziu de forma significativa as interrupções respiratórias durante o sono. No início da pesquisa, os participantes apresentavam cerca de 50 interrupções por hora. Após um ano de tratamento, aqueles que utilizaram o Mounjaro e a terapia com pressão positiva nas vias aéreas (CPAP) apresentavam cerca de 29,3 eventos a menos, contra 5,5 com placebo, e o grupo que usou apenas Mounjaro apresentava uma média de 25,3 interrupções a menos, contra 5,3 com placebo.

Estadão

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Denúncia: Gustavo Carvalho diz que governo atrasa repasse do consignado a bancos

  O deputado Gustavo Carvalho usou a tribuna da Assembleia Legislativa, nesta terça-feira (25), para denunciar o atraso no repasse dos empré...