No momento em que tenta avançar com pautas
consideradas prioritárias no Congresso, o governo de Luiz Inácio Lula passou a
enfrentar um obstáculo extra, com rupturas públicas dos presidentes do Senado,
Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com dois
de seus principais articuladores no Legislativo. Para aliados, as rusgas dificultam
votações sensíveis ao Palácio do Planalto, como o projeto Antifacção e o que
prevê aumento na tributação de bets e fintechs, tratado como fundamental pela
equipe econômica para equilibrar as contas públicas.
No Senado, Alcolumbre selou o afastamento com o
líder do governo na Casa, senador Jaques Wagner (PT-BA), após a indicação do
advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Interlocutores do presidente da Casa afirmam que a crise não é relacionada
diretamente ao nome escolhido, mas à forma como o processo foi conduzido,
quando a preferência declarada de boa parte do Senado era por Rodrigo Pacheco
(PSD-MG). Segundo aliados, Alcolumbre descreve internamente um “ponto de
virada” na relação com o Planalto: haveria “um Davi antes e um Davi depois” da
escolha e que o rompimento com Jaques “é definitivo, pessoal e institucional”
Ele viu na demora, na exposição pública das
conversas e, sobretudo, na articulação capitaneada por Wagner um movimento que
atropelou o Senado e desrespeitou prerrogativas da Casa. O episódio decisivo
foi a noite em que Lula recebeu Rodrigo Pacheco no Planalto e sinalizou que
Messias era o preferido. A informação correu entre os senadores antes mesmo do
anúncio oficial, e cerca de uma dúzia deles, de perfis ideológicos distintos,
procurou Alcolumbre para cobrar uma reação. O grupo argumentou que o Senado não
poderia “aceitar” aquela condução e defendeu Pacheco como alternativa
institucionalmente mais sólida.
Alcolumbre tem avisado que não apoiará Messias, não
fará articulação por ele e, salvo reviravolta, não pretende dar aval à
indicação — é uma prerrogativa do presidente do Senado votar. O clima, nas
palavras de aliados do presidente do Senado, é “muito ruim”: há desgaste com
Lula, com Wagner e com a condução política do processo.
Ainda que Alcolumbre siga ajudando em votações de
interesse do governo, o recado de interlocutores é que ele não atuará mais como
fiador político no Senado. A mensagem transmitida nos bastidores é clara: se o
Executivo quiser aprovar seus projetos, terá de fazê-lo sem a intermediação do
presidente da Casa.
Motta x Lindbergh
Na Câmara, um movimento semelhante ganhou contornos
públicos nesta segunda-feira. O presidente da Casa, Hugo Motta
(Republicanos-PB), afirmou ter rompido com o líder do PT, deputado Lindbergh
Farias (PT-SP). A relação já vinha arranhada após episódios recentes, como a
tensão em torno do PL Antifacção, cuja relatoria Motta entregou à oposição.
Integrantes da Mesa Diretora relatam, porém, que a crise escalou nas últimas
semanas.
Segundo pessoas próximas ao presidente da Câmara,
Motta considera que o líder do PT na Câmara atua de forma errática, não entrega
votações prometidas e tenta atribuir à Presidência da Casa (leia-se, Motta)
responsabilidades que são da própria articulação do Planalto.
Os rompimentos da cúpula do Congresso com dois dos
principais articuladores do Planalto ocorrem em momento extremamente sensível
para o Executivo. O governo ainda não conseguiu votar a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) — etapa necessária para avançar no Orçamento de 2026 — e
terá de negociar simultaneamente outros projetos de impacto fiscal e político.
Com Alcolumbre e Motta distanciados dos líderes
governistas, a articulação passa a depender mais diretamente de ministros
políticos, do líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues
(PT-AP), que ainda mantém relações próximas com Alcolumbre, e de negociações
diretas com bancadas que, até aqui, vinham sendo administradas com o auxílio
dos presidentes das Casas.
Há ainda o líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), que é um político experiente e com trânsito em diversas alas
do Congresso, além do senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do governo no
Senado.
O Globo

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