sábado, 8 de novembro de 2025

“Canetas emagrecedoras não são produtos estéticos”, alerta endocrinologista do RN

 


As chamadas “canetas emagrecedoras”, como Ozempic, Mounjaro e Wegovy, têm ganhado popularidade nos últimos anos, mas o uso sem orientação médica pode trazer sérios riscos à saúde. O alerta é da endocrinologista Liana Viana, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Rio Grande do Norte (SBEM-RN). “Caneta emagrecedora não é um produto estético, é medicação. Tem que ser sob prescrição médica”, enfatizou a especialista, em entrevista à TV Agora RN nesta sexta-feira 7.

Segundo Liana, essas medicações foram inicialmente desenvolvidas para o tratamento do diabetes, mas acabaram sendo liberadas também para o controle da obesidade. “São medicações excepcionais, representam uma divisão tanto no tratamento do diabetes como da obesidade”, afirmou. Ela destacou que, quando usadas de forma adequada, as canetas trazem resultados expressivos. “Tenho pacientes idosos que, anos atrás, não tinham perspectiva de tratamento para obesidade e hoje conseguem perder até 20% do peso, com melhora importante na qualidade de vida”, disse.

No entanto, a endocrinologista lamenta o uso indiscriminado e a “banalização” desses medicamentos. “A gente experimenta essa banalização com muita tristeza, porque isso acaba queimando o filme de um medicamento excelente”, afirmou. Ela alerta que a automedicação pode causar complicações graves: “Se uma pessoa tem refluxo e usa um medicamento desses, vai piorar muito. Pode vomitar, ter diarreia, desidratar. Quem tem tendência à pancreatite pode desenvolver a doença, que é gravíssima”.

Outro ponto de preocupação, segundo Liana, é o mercado ilegal. “Tem muita manipulação e contrabando. Já apreenderam canetas originais vazias sendo preenchidas com produtos de origem duvidosa. Isso é muito sério, porque são produtos estéreis que, se contaminados, podem causar infecções”, alertou.

Diabetes cresce com estilo de vida moderno, aponta Liana Viana

Liana Viana alertou que o diabetes é uma doença crônica e progressiva que tem crescido de forma preocupante no Brasil, especialmente devido às mudanças no estilo de vida da população. Segundo a médica, entre 9% e 11% dos brasileiros são diabéticos, o que representa cerca de uma em cada dez pessoas. “O diabetes é uma doença crônica, progressiva e realmente de uma incidência muito alta”, destacou. “A estimativa é que entre 9 a 11% da população brasileira seja diabética”.

A especialista explicou que o aumento dos casos está diretamente ligado a fatores comportamentais. “O diabetes está muito relacionado ao estilo de vida”, afirmou. “Na medida em que o nosso estilo de vida tem cada vez mais piorado – com aumento do sedentarismo, má alimentação e obesidade –, isso traz consigo um maior risco dessa doença”.

Liana lembrou que existem dois principais tipos da enfermidade. “Dez por cento dos pacientes diabéticos são do tipo 1”, disse. “O diabetes tipo 1 é aquele que acontece normalmente na infância e adolescência, apesar de poder acontecer também na idade adulta. É uma doença autoimune, em que o corpo começa a desenvolver anticorpos contra as células que produzem a insulina ou contra a própria insulina”.

Já o tipo 2, segundo ela, representa a grande maioria dos casos. “Noventa por cento de fato têm diabetes tipo 2, que é uma combinação genética com o ambiente”, explicou. “Quando eu falo em ambiente, falo nesses fatores de risco: sedentarismo, alimentação inadequada, sono ruim – até o sono ruim é fator de risco –, além do estresse”.

Outras condições também aumentam as chances de desenvolver o problema. “Quem tem hipertensão tem maior chance de ter diabetes”, pontuou. “Alterações de colesterol, doenças hepáticas e obesidade também são fatores associados”.

Sobre o tratamento, a endocrinologista destacou que, embora o diabetes não tenha cura, é possível alcançar a remissão em alguns casos, especialmente quando há perda de peso significativa. “A gente não fala em cura, mas fala em alguns casos de remissão, principalmente no diabetes tipo 2, quando ele está associado à obesidade”, explicou.

“Pacientes que fazem cirurgia bariátrica e perdem muito peso, dependendo do tempo e da intensidade do diabetes, podem remitir a doença e ficar com exames normais, sem necessidade de medicação”, afirmou.

Ela acrescentou que novas terapias têm ampliado as possibilidades de controle e melhora dos pacientes. “Hoje, com o advento de medicações mais assertivas, com melhores resultados para o controle do diabetes e para o tratamento da obesidade, a gente já está experimentando esse tipo de situação também”, disse. “Indivíduos que conseguem perder mais de 15% do peso às vezes remitem o diabetes. Eu não falo em cura, mas pode acontecer”.

Pré-diabetes é reversível

A endocrinologista alertou que o pré-diabetes é uma condição real e reversível, mas que precisa de tratamento. Segundo ela, o termo se refere a uma fase em que o organismo já apresenta alterações na glicose, mas ainda é possível impedir o avanço da doença.

“O diagnóstico de pré-diabetes não é uma condenação. Mas o tratamento é muito semelhante ao do diabetes”, disse. “Mesmo nessa condição de pré-diabetes, eu posso ter complicações, já posso ter neuropatia diabética, por exemplo. Por isso que precisa ser tratada”.

Para Liana Viana, a prevenção e o controle precoce do diabetes ainda são as melhores formas de evitar complicações. “Quanto mais precoce for o controle, mais chance temos de retardar as complicações vasculares, como neuropatia, retinopatia e doença renal”, explicou. Ela reforçou que o acompanhamento pode ser feito na atenção primária. “O diabetes é uma doença da atenção básica, e a maioria dos pacientes pode ser acompanhada por um clínico geral. O endocrinologista entra quando há complicações ou dificuldade no controle”, concluiu.

Ação

A médica também destacou o papel das campanhas de conscientização para combater a desinformação e promover o diagnóstico precoce do diabetes. “Nosso objetivo é informar o máximo possível, conscientizar e esclarecer a população”, afirmou. A SBEM-RN realizará, no dia 15 de novembro, uma ação gratuita no Partage Norte Shopping, das 14h30 às 17h30, com aferição de glicemia e pressão, avaliação nutricional e orientação médica.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MAIS UMA VEZ: Hospital Walfredo Gurgel fica sem tomógrafo pela 3ª vez em menos de três meses

  Os problemas com os tomógrafos no Hospital Walfredo Gurgel parecem intermináveis. Pela terceira vez em menos de três meses, a maior unidad...