domingo, 10 de agosto de 2025

Apenas 6% dos celulares furtados ou roubados no RN são recuperados pela polícia

 


Ícaro Carvalho
Repórter

Se há algumas décadas o aparelho celular era considerado um item de luxo e de difícil acesso para a população, nos dias atuais é praticamente impossível encontrar alguém que não tenha um smartphone. Contendo dados sensíveis, imagens privadas, senhas de bancos, entre outras itens considerados fundamentais, os celulares passaram a ser visados por criminosos e quadrilhas que ora revendem os aparelhos, ora desmontam em busca das peças, ora aplicam novos crimes e golpes se aproveitando das informações. Dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública apontam que o RN recuperou, em 2024, menos de 10% do total de ocorrências de celulares furtados/roubados. A cidade de Natal, inclusive, ficou em 14º entre as 20 cidades com as maiores taxas de aparelhos subtraídos por 100 mil habitantes.

Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Estado registrou 16.005 ocorrências de roubos e furtos de celulares em 2024, número 10% menor do que em 2023, quando 17.849 ocorrências foram registradas. Já quando se trata de recuperação de celulares, o Estado registrou 1.059 recuperações em 2024 contra 971 em 2023, aumento de 9%. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesed) informou que os números do Anuário estão desatualizados. Segundo a pasta, a recuperação de celulares, ano passado, atingiu 1.840 aparelhos. Até junho de 2025, 575 celulares já foram recuperados pelas polícias do RN.

Nacionalmente, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, cerca de 8% dos aparelhos celulares roubados conseguem ser recuperados pelas forças policiais e de segurança pública.

Na avaliação do professor universitário e especialista em segurança pública, Francisco Augusto da Cruz Araújo, a baixa taxa de recuperação está menos relacionada à ausência de atuação policial e mais à complexidade da cadeia criminosa, que envolve desde o roubo até a revenda rápida, muitas vezes para outros estados ou até fora do país.

O especialista cita, por exemplo, que do ponto de vista investigativo, esse crime enfrenta dificuldades específicas. Um desses pontos, por exemplo, são os entraves legais. Além disso, há entraves operacionais para que os investigadores acessem dados que poderiam ajudar nas investigações, como geolocalização e registros de IMEI, que nem sempre são prontamente fornecidos pelas operadoras.

“A primeira delas é o tempo de resposta, pois a revenda ou desmonte do aparelho costuma ocorrer em poucas horas, o que exige ações quase imediatas para que a recuperação seja possível. A segunda está na limitação de recursos humanos e tecnológicos para monitorar e rastrear em tempo real os aparelhos e suas redes de circulação”, explica.

Segundo informações publicadas pela Polícia Civil, delegacias do Estado têm apostado em operações de recuperação de celulares. As operações “Recupera”, “Reset” e a “Return”, em cidades como Natal, Parnamirim, Caicó e João Câmara, têm focado na devolução dos aparelhos aos respectivos donos. Em João Câmara, por exemplo, 20 celulares foram recuperados após furtos no São João. Na Operação Return, em Caicó, a 2ª fase promoveu a devolução de 50 celulares, tendo recuperado outros 80 na primeira fase. Durante as diligências, as equipes policiais conseguiram recuperar os celulares em diversos municípios do Rio Grande do Norte e também em outros estados, como Ceará, Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rondônia.

Na avaliação do delegado Marcos Vinícius dos Santos, diretor de Polícia Civil da Grande Natal, a dificuldade em se recuperar celulares deve-se muito à falta de dados.

“Tivemos um avanço do aplicativo do Governo Federal, mas aqui no Estado, acho que não chega a 10 mil cadastrados”, cita. “Para se trabalhar a recuperação de um celular você precisa dos dados dele. O IMEI, por exemplo. Muitas vezes a pessoa chega para fazer o registro, vindo de um evento, onde temos muitos furtos ou às vezes a perda, mas faltam os dados. Sem o IMEI já começa a complicar para rastrearmos e recuperarmos”, acrescenta.

O delegado Marcos Vinícius acrescenta ainda que as delegacias da PCRN têm trabalhado em operações para recuperação de celulares. “Praticamente toda semana tem celulares sendo recuperados”, diz.

A Polícia Civil orienta, ainda, que vítimas de furto ou roubo de celular adotem imediatamente as seguintes medidas: entrar em contato com instituições bancárias para trocar senhas associadas ao aparelho, registrar o boletim de ocorrência, presencialmente ou pela Delegacia Virtual (https://delegaciavirtual.sinesp.gov.br), e informar, sempre que possível, o número do IMEI do celular subtraído – dado que pode ser encontrado na caixa do aparelho, na nota fiscal ou digitando *#06# no próprio dispositivo.

RN adere a programa nacional de recuperação

O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do RN (Sesed), Coronel Francisco Araújo, atribui a baixa recuperação de celulares no Estado a uma série de problemas estruturais, como, por exemplo, a falta de Internet nas delegacias do Estado, problema que existia anteriormente e afetava o registro dos B.Os e consequentemente, as investigações. O secretário informou ainda que todas as delegacias do Estado contam com conexão. Ele acrescenta que o Estado implementou, desde o final de 2023, o PPE (Procedimento Policial Eletrônico), em convênio com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O PPE é onde a Polícia registra todos os boletins de ocorrência de crimes no Estado.

A adesão ao PPE possibilitou, segundo Araújo, assinar convênio com o MJSP para implementar um programa de recuperação de celulares roubados, o Celular Seguro. A iniciativa foi pioneira no Piauí e passou a ser replicada em outras unidades da federação.

“Esse número ainda não estava tabulado. As ações feitas hoje por todas as delegacias. Não é mais só a diretoria de inteligência da Polícia Civil que faz. Tivemos ações em Mossoró, Caicó, Pau dos Ferros, então está aumentando a quantidade de recuperações porque todas as delegacias estão tendo acesso a essa chave ao sistema e estão fazendo a recuperação e entregando ao cidadão”, disse.

Ainda segundo o secretário de Segurança, o número de registros de ocorrência, aliado ao fato de os cidadãos informarem o IMEI (International Mobile Equipment Identity), uma espécie de CPF do celular, tem auxiliado o trabalho da polícia na recuperação dos aparelhos. Na prática, segundo informações da Sesed, o software solta um disparo para a pessoa que está com o dispositivo, informando que o aparelho é fruto de ação criminosa, sendo necessário o comparecimento a uma delegacia para devolução.

“Por exemplo, o celular é furtado aqui em Caicó e é apreendido em João Pessoa. É um software que acompanha em qualquer local em que o aparelho for cadastrado novamente. A cada dia estamos aperfeiçoando mais. Acreditamos que nesse ano vamos ter um aumento do número de celulares recuperados, de objetos sendo entregues de volta ao cidadão. Acreditamos ainda que estamos reduzindo a quantidade de roubos. Se você olhar a estatística, reduzimos em relação ao que era, porque o sujeito está vendo que roubar e vender, o camarada que está com o celular pode responder como receptador”, acrescenta.

A Sesed apontou que os furtos e roubos de aparelhos celulares no Rio Grande do Norte caíram de 8.044 ocorrências no primeiro semestre de 2024 para 6.464 casos registrados nos primeiros seis meses de 2025. São 1.580 crimes a menos, o que representa uma diminuição de 19,64% no período. Em 2024, foram 15.708 registros no total contra 17.809 ocorrências em 2023. A queda é de 11%.

Roubos e furtos trazem danos psicológicos

Em alguns casos o uso da violência, em outros, uma rapidez silenciosa. Das duas formas, o roubo ou furto de celulares deixam danos materiais e psicológicos para vítimas ouvidas pela TRIBUNA DO NORTE. Um ponto em comum citado pelos alvos de criminosos é a “dor de cabeça” em ter que correr atrás de um novo aparelho e claro, bloquear redes sociais e contas bancárias.

É o caso de uma potiguar de 35 anos ouvida pela TN que preferiu não se identificar. Ela conta que foi furtada em outubro de 2023 durante uma festa de rua, em Natal. O criminoso tirou o celular de dentro de sua bolsa, que era presa ao seu corpo.

“Foi um grande susto perceber que não tinha mais o celular. No meio de uma multidão, minha bolsa foi aberta. É uma sensação de ter sido invadida. Ainda bem que agi rápido e bloqueei todas as contas bancárias, etc, então o prejuízo material foi o valor do celular. Porém, o prejuízo maior é de mudar senhas, proteger e recuperar informações pessoais e de trabalho. Registrei logo um boletim de ocorrência e cancelei o celular pela operadora. São medidas importantes a serem tomadas com rapidez”, disse.

Em outro caso, um operador de telemarketing de 40 anos conta que também foi furtado durante uma festa de rua no ano passado em Natal. “A ação foi muito rápida. É algo que você não percebe. E ao mesmo tempo é muito irritante, porque precisei comprar o celular e não estava previsto no orçamento. Além disso, a dor de cabeça de bloquear as contas, transferir para o novo celular, sem contar nas fotos e arquivos que eu tinha, é algo que incomoda bastante”, declarou.

“O furto ou roubo de um celular vai muito além da perda material. Ele representa uma ruptura imediata na vida pessoal, profissional e emocional da vítima. Hoje, o celular concentra informações bancárias, documentos, agendas, redes de contato, aplicativos de trabalho, registros médicos, senhas e muitas fotografias. O roubo ou furto podem causar bloqueio de atividades diárias, interrupção do trabalho, prejuízo financeiro direto, além de gerar medo, insegurança e sensação de vulnerabilidade”, finaliza Francisco Augusto Cruz.

 

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