Larissa Duarte
Repórer
Em meio aos desafios da pandemia, a empresária
Sahonara Suzane transformou uma necessidade em oportunidade e criou a Cajumel,
marca especializada em pastas de castanha. Com atuação inicialmente no delivery
e produção artesanal, a empresa foi crescendo, abriu duas lojas físicas e agora
se prepara para um novo salto: a internacionalização. Esse passo só será
possível graças ao Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), iniciativa
da ApexBrasil executada no Rio Grande do Norte sob a coordenação do Sistema
Fecomércio, através do Senac RN. A Cajumel é uma das 73 empresas potiguares
atendidas atualmente pelo programa.
“Eu já tenho consultoria na empresa desde o começo,
mas vários amigos, inclusive que participaram, falaram: ‘Sahô, o seu produto
tem alto potencial de exportação’. Foi aí quando nós abrimos os olhos, fomos
conversar com a consultora da PEIEX, que começamos a capacitação”, lembra
Sahonara. Ela explica que a adesão ao programa foi motivada pelo desejo de
crescimento. “A gente já tem o comércio local e já distribui para o Brasil”.
A Cajumel, que atualmente produz cerca de 1.000
quilos de pasta de castanha por mês, possui capacidade instalada para dobrar a
produção sem necessidade de novos investimentos. O plano de exportação está
sendo traçado com apoio da equipe técnica do PEIEX, e a expectativa é iniciar
as vendas internacionais após a participação da empresa em uma rodada de
negócios, prevista para setembro, em Goiânia. Com duas lojas em funcionamento e
a terceira prestes a ser inaugurada, Sahonara vê na internacionalização uma via
para consolidar o modelo industrial da marca.
Diante dos avanços, a empresária reconhece o papel
decisivo do PEIEX no amadurecimento do negócio para o mercado externo. “Nós
somos uma pequena empresa, uma microempresa. Eu não conseguiria ter todas essas
informações, eu não tenho o setor responsável por esse tipo de comércio
exterior. Então, dá um norte do que realmente a gente precisa”, declara.
Atualmente, a empresa conta com cinco funcionários e
três estagiários. Os produtos já abastecem uma rede de supermercado de grande
porte no Rio Grande do Norte e têm um ticket médio mensal de R$ 92 por cliente,
com cerca de 150 consumidores fixos mensais.
A estratégia de atuação local foi mantida como vitrine para a futura expansão
internacional. Além da pasta de castanha, ela também incluiu no escopo de
exportação a cajuína e o melaço de caju.
Apoiado pela ApexBrasil e executado pelo Senac-RN, o
PEIEX oferece diagnóstico empresarial, capacitação híbrida em comércio exterior
e planos personalizados para inserção em mercados internacionais. Os núcleos
operacionais no estado estão localizados em Natal, Mossoró, Caicó e Guamaré,
com atuação em um raio de até 100 quilômetros em cada região. A meta para o
ciclo 2024-2026 é atingir 200 empresas potiguares. Os segmentos atendidos hoje
abrangem Produtos Têxteis (29%), Moda (24%), Alimentos, Bebidas e Agronegócio
(22%), Artesanato (21%) e Frutas (4%).
Marcelo Queiroz, presidente do Sistema Fecomércio
RN, avalia o PEIEX como uma peça-chave nas estratégias de desenvolvimento
econômico. Os principais desafios enfrentados nesse processo de qualificação
envolvem, principalmente, a barreira cultural e a percepção das empresas em
enxergar o potencial exportador. A experiência do Programa tem mostrado que
micro, pequenas e médias empresas de diversos setores têm potencial real para
acessar mercados internacionais, desde que devidamente preparadas.
“Estamos na liderança desse processo de disseminar a
cultura da exportação, oferecendo ainda capacitações técnicas e gerenciais,
além de diagnósticos personalizados, que ampliam a competitividade e a inovação
empresarial. Essa atuação fortalece os pilares do comércio e dos serviços no
estado, conectando o empresariado local às oportunidades globais e
impulsionando cadeias produtivas com alto potencial de internacionalização”,
afirma.
Além da capacitação técnica, o programa atua como
articulador entre instituições públicas e privadas por meio do Comitê
Consultivo do PEIEX RN, que reúne entidades como Fecomércio, Sebrae, FIERN,
Correios, Banco do Brasil, UFRN e IFRN. Essa rede de apoio contribui para
superar um dos principais desafios enfrentados pelas empresas: a percepção
limitada de seu potencial exportador.
Adaptação para cada negócio
A capacitação oferecida pelo PEIEX tem duração média
de 60 a 90 dias e culmina com a entrega de um plano de exportação personalizado
ou mapa de valor. Os temas abordados vão desde diagnóstico interno e formação
de preços até logística e aspectos regulatórios. Neste ciclo, o programa
incorpora inovações conforme o perfil de cada empresa.
Para a empresária Raissa Barbosa, fundadora da marca
de moda fitness Fils to Fitwear, a participação no PEIEX foi o primeiro passo
para pensar além das fronteiras nacionais. A empresa, com quatro anos de
atuação, foi selecionada para integrar a comitiva enviada a uma missão
comercial nos EUA.
“É entender que é possível quando a gente analisa o
potencial da empresa. Não é o porte dela, na realidade. Mesmo sendo pequena, é
possível exportar”, explica. Ela participou da rodada de negócios em Miami e
agora trabalha na adequação de produto e precificação. Apesar de ainda não
exportar, a empresa já se prepara para explorar o mercado internacional.
Com três funcionários fixos e uma rede de
prestadores de serviço, a Fils to Fitwear tem ticket médio de R$ 250 e público
concentrado nas classes A e B. A produção ocorre em três coleções anuais com
cerca de 200 peças cada. Raissa ressalta que o programa abriu um leque de
possibilidades. “Você sai daqui, entra em Miami e vê que o mercado é um mundo,
que você tem condições de levar o seu produto desde que você acredite. O PEIEX
mostra isso”, afirma.
Para o presidente da Federação das Indústrias do RN
(Fiern), Roberto Serquiz, o PEIEX é essencial para consolidar uma cultura
exportadora no RN. “O programa aborda diversos aspectos fundamentais da
exportação, como precificação, marketing internacional, escolha de
mercados-alvo e questões tributárias. Como resultado, mais empresas potiguares
incorporam a cultura exportadora em sua estratégia de negócios”, avalia
Serquiz.
A FIERN atua como parceira institucional do PEIEX
por meio do seu Centro Internacional de Negócios (CIN-RN).
Sobre o PEIEX Brasil
O Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX)
foi criado em 2004 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços (MDIC) e passou a ser executado pela ApexBrasil a partir de 2008.
No ciclo entre 2021 e 2023, foram 5.334 empresas
atendidas em todo o país. Destas, 827 já iniciaram exportações, totalizando US$
3,16 bilhões exportados.
Principais produtos exportados:
•Produtos
agropecuários (47,3%)
•Alimentos e bebidas (41,6%)
•Moda, higiene pessoal e cosméticos (5,3%)
•Produtos minerais não-metálicos (1,2%)
•Máquinas, equipamentos e materiais elétricos (1,17%)
•Madeira, móveis e outras manufaturas (0,7%)
Principais destinos:
Estados
Unidos, Argentina, Chile, Portugal, Emirados Árabes Unidos, Alemanha e França.
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