domingo, 6 de julho de 2025

Programa de exportação conecta marcas potiguares com o exterior

 


Larissa Duarte
Repórer

Em meio aos desafios da pandemia, a empresária Sahonara Suzane transformou uma necessidade em oportunidade e criou a Cajumel, marca especializada em pastas de castanha. Com atuação inicialmente no delivery e produção artesanal, a empresa foi crescendo, abriu duas lojas físicas e agora se prepara para um novo salto: a internacionalização. Esse passo só será possível graças ao Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), iniciativa da ApexBrasil executada no Rio Grande do Norte sob a coordenação do Sistema Fecomércio, através do Senac RN. A Cajumel é uma das 73 empresas potiguares atendidas atualmente pelo programa.

“Eu já tenho consultoria na empresa desde o começo, mas vários amigos, inclusive que participaram, falaram: ‘Sahô, o seu produto tem alto potencial de exportação’. Foi aí quando nós abrimos os olhos, fomos conversar com a consultora da PEIEX, que começamos a capacitação”, lembra Sahonara. Ela explica que a adesão ao programa foi motivada pelo desejo de crescimento. “A gente já tem o comércio local e já distribui para o Brasil”.

A Cajumel, que atualmente produz cerca de 1.000 quilos de pasta de castanha por mês, possui capacidade instalada para dobrar a produção sem necessidade de novos investimentos. O plano de exportação está sendo traçado com apoio da equipe técnica do PEIEX, e a expectativa é iniciar as vendas internacionais após a participação da empresa em uma rodada de negócios, prevista para setembro, em Goiânia. Com duas lojas em funcionamento e a terceira prestes a ser inaugurada, Sahonara vê na internacionalização uma via para consolidar o modelo industrial da marca.

Diante dos avanços, a empresária reconhece o papel decisivo do PEIEX no amadurecimento do negócio para o mercado externo. “Nós somos uma pequena empresa, uma microempresa. Eu não conseguiria ter todas essas informações, eu não tenho o setor responsável por esse tipo de comércio exterior. Então, dá um norte do que realmente a gente precisa”, declara.

Atualmente, a empresa conta com cinco funcionários e três estagiários. Os produtos já abastecem uma rede de supermercado de grande porte no Rio Grande do Norte e têm um ticket médio mensal de R$ 92 por cliente, com cerca de 150 consumidores fixos mensais.
A estratégia de atuação local foi mantida como vitrine para a futura expansão internacional. Além da pasta de castanha, ela também incluiu no escopo de exportação a cajuína e o melaço de caju.

Apoiado pela ApexBrasil e executado pelo Senac-RN, o PEIEX oferece diagnóstico empresarial, capacitação híbrida em comércio exterior e planos personalizados para inserção em mercados internacionais. Os núcleos operacionais no estado estão localizados em Natal, Mossoró, Caicó e Guamaré, com atuação em um raio de até 100 quilômetros em cada região. A meta para o ciclo 2024-2026 é atingir 200 empresas potiguares. Os segmentos atendidos hoje abrangem Produtos Têxteis (29%), Moda (24%), Alimentos, Bebidas e Agronegócio (22%), Artesanato (21%) e Frutas (4%).

Marcelo Queiroz, presidente do Sistema Fecomércio RN, avalia o PEIEX como uma peça-chave nas estratégias de desenvolvimento econômico. Os principais desafios enfrentados nesse processo de qualificação envolvem, principalmente, a barreira cultural e a percepção das empresas em enxergar o potencial exportador. A experiência do Programa tem mostrado que micro, pequenas e médias empresas de diversos setores têm potencial real para acessar mercados internacionais, desde que devidamente preparadas.

“Estamos na liderança desse processo de disseminar a cultura da exportação, oferecendo ainda capacitações técnicas e gerenciais, além de diagnósticos personalizados, que ampliam a competitividade e a inovação empresarial. Essa atuação fortalece os pilares do comércio e dos serviços no estado, conectando o empresariado local às oportunidades globais e impulsionando cadeias produtivas com alto potencial de internacionalização”, afirma.

Além da capacitação técnica, o programa atua como articulador entre instituições públicas e privadas por meio do Comitê Consultivo do PEIEX RN, que reúne entidades como Fecomércio, Sebrae, FIERN, Correios, Banco do Brasil, UFRN e IFRN. Essa rede de apoio contribui para superar um dos principais desafios enfrentados pelas empresas: a percepção limitada de seu potencial exportador.

Adaptação para cada negócio

A capacitação oferecida pelo PEIEX tem duração média de 60 a 90 dias e culmina com a entrega de um plano de exportação personalizado ou mapa de valor. Os temas abordados vão desde diagnóstico interno e formação de preços até logística e aspectos regulatórios. Neste ciclo, o programa incorpora inovações conforme o perfil de cada empresa.

Para a empresária Raissa Barbosa, fundadora da marca de moda fitness Fils to Fitwear, a participação no PEIEX foi o primeiro passo para pensar além das fronteiras nacionais. A empresa, com quatro anos de atuação, foi selecionada para integrar a comitiva enviada a uma missão comercial nos EUA.

“É entender que é possível quando a gente analisa o potencial da empresa. Não é o porte dela, na realidade. Mesmo sendo pequena, é possível exportar”, explica. Ela participou da rodada de negócios em Miami e agora trabalha na adequação de produto e precificação. Apesar de ainda não exportar, a empresa já se prepara para explorar o mercado internacional.

Com três funcionários fixos e uma rede de prestadores de serviço, a Fils to Fitwear tem ticket médio de R$ 250 e público concentrado nas classes A e B. A produção ocorre em três coleções anuais com cerca de 200 peças cada. Raissa ressalta que o programa abriu um leque de possibilidades. “Você sai daqui, entra em Miami e vê que o mercado é um mundo, que você tem condições de levar o seu produto desde que você acredite. O PEIEX mostra isso”, afirma.

Para o presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Roberto Serquiz, o PEIEX é essencial para consolidar uma cultura exportadora no RN. “O programa aborda diversos aspectos fundamentais da exportação, como precificação, marketing internacional, escolha de mercados-alvo e questões tributárias. Como resultado, mais empresas potiguares incorporam a cultura exportadora em sua estratégia de negócios”, avalia Serquiz.

A FIERN atua como parceira institucional do PEIEX por meio do seu Centro Internacional de Negócios (CIN-RN).

Sobre o PEIEX Brasil

O Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) foi criado em 2004 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e passou a ser executado pela ApexBrasil a partir de 2008.

No ciclo entre 2021 e 2023, foram 5.334 empresas atendidas em todo o país. Destas, 827 já iniciaram exportações, totalizando US$ 3,16 bilhões exportados.

Principais produtos exportados:
•Produtos agropecuários (47,3%)
•Alimentos e bebidas (41,6%)
•Moda, higiene pessoal e cosméticos (5,3%)
•Produtos minerais não-metálicos (1,2%)
•Máquinas, equipamentos e materiais elétricos (1,17%)
•Madeira, móveis e outras manufaturas (0,7%)

Principais destinos:
Estados Unidos, Argentina, Chile, Portugal, Emirados Árabes Unidos, Alemanha e França.

 

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