quarta-feira, 2 de julho de 2025

Governo tem que decidir pelo diálogo ou enfrentamento, avalia líder do União Brasil no Senado

 


Líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho defende que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa decidir pelo diálogo ou enfrentamento na relação com o parlamento. Em entrevista ao GLOBO, o senador, do partido da base da gestão petista, afirmou que o Congresso não dará espaço para a "gastança desenfreada para viabilizar projetos eleitoreiros" do Executivo.

O governo sofreu a maior derrota no Congresso com a derrubada do decreto que elevou o IOF. Essa crise vai aumentar ainda mais?

O que vi foi uma reação do Congresso tentando se posicionar. O Congresso não pode ser alvo preferencial do ministro da Fazenda (Fernando Haddad), se é o Congresso que dá sustentabilidade a esse governo, desde a PEC da Transição. Fica claro que o PT não tem uma base para chamar de sua nem condições de impor uma agenda, mas tenta fazer isso à força. Agora é a hora de o governo decidir se parte para o diálogo ou insiste no enfrentamento.

O Planalto vinha apostando em uma relação direta com os presidentes Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado). Esse modelo não gera muita dependência?

Isso não é causa, é consequência. O governo abdicou de lançar candidatos próprios às Casas por saber que não conseguiria impor a sua agenda. O resultado foi dois presidentes eleitos com apoios do governo e da oposição. Com isso, o centro ganhou força nessa eleição, pelo seu poder de aglutinar. O caminho que sobra ao governo é articular com dois presidentes empoderados depois dessas eleições.

O União Brasil tem ministérios e um pré-candidato de oposição. Como fica a posição em relação às eleições do ano que vem?

O União tem uma candidatura posta, que é a do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Ele tem resultados expressivos na segurança pública do seu estado e é um grande articulador político. Ele tem a missão de se viabilizar neste ano de 2025. Mas existe espaço para dialogar com a centro-direita sobre alianças. Ainda é algo prematuro de ser tomado agora, mas há essas possibilidades.

Qual seria um prazo razoável para a entrega dos ministérios da federação União-PP se isso acontecer?

Se o compromisso é governabilidade, o prazo é 2025. Em 2026, é impossível dissociar a agenda política da eleitoral.

O senhor foi eleito com apoio de Jair Bolsonaro. Com ele inelegível, o senhor acredita que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freiras, é a opção mais factível da direita hoje?

Tarcísio traz o eleitor bolsonarista e o de centro também. Isso é decisivo para vencer as eleições.

O União Brasil anunciou a federação com o PP, o que aumenta a força no Congresso. Há muitos nomes de oposição. Isso vai dificultar a relação com o governo?

Vai trazer mais independência nesse trato, o que significa mais autonomia. Não vai haver subserviência ou submissão da federação ao governo. PP e União avançam na identidade e com aspecto majoritário de centro-direita. São partidos que têm contribuído com a governabilidade, em temas econômicos, mas têm se preservado em relação a pautas de comportamento.

O senhor assumiu a presidência da Comissão de Orçamento do Congresso. Como garantir que o orçamento de 2026 será votado ainda neste ano?

O orçamento passou a fazer parte da agenda política do Brasil, não é mais uma peça meramente técnica. Começamos os trabalhos deste ano com atraso, mas vamos conseguir recuperar o tempo perdido. Em termos de cronograma, estamos construindo para votar até dezembro, apesar dos atrasos no orçamento deste ano. Precisamos trazer o sentimento de equilíbrio e responsabilidade fiscal. Não vamos dar espaço para gastança desenfreada para viabilizar projetos eleitoreiros em virtude das eleições. As agendas do ministro Haddad, com taxações e mudanças tributárias, avançaram muito nos últimos anos, mas já deu. Quem produz já está pagando muito imposto. Precisamos pensar nas despesas, eliminar desperdícios e custos desnecessários.

Em relação ao volume de emendas que será registrado, já temos uma ordem de grandeza? Como vê esse poder do Congresso?

Saímos do orçamento autorizativo, quando o governo autoriza as emendas, e fomos para o orçamento impositivo, que dá protagonismo ao Congresso em relação ao orçamento. A CMO (Comissão Mista de Orçamento) vai priorizar isso, não queremos voltar a um tempo do toma lá dá cá do governo impondo a sua agenda através do orçamento. Hoje, o governo precisa ter argumentos para impor as suas pautas. Essa discussão de emendas ganha notoriedade, mas quando se olha para o orçamento, 90% de gastos são obrigatórios, que é onde mora o grande drama fiscal.

O Senado aprovou nesta semana o aumento de cadeiras na Câmara, o que pode gerar um “efeito cascata” em relação a gastos, inclusive com emendas. Não é um discurso contraditório com a crítica à “gastança desenfreada”?

O Congresso aprovou, na verdade, a manutenção da irredutibilidade dos estados que perderiam cadeiras, o que seria injusto. O Congresso apenas fez justiça aos estados que perderiam cadeiras, verbas, peso no Parlamento. Isso seria muito injusto.

O líder do União na Câmara, Pedro Lucas, recusou o Ministério das Comunicações, o que não é usual. Logo em seguida, a bancada do PDT na Casa anunciou a saída da base. É um governo mais enfraquecido no Congresso?

Tem de ser levado em conta o contexto da negativa do Pedro Lucas. Ele havia acabado de assumir a liderança da bancada, foi uma situação interna da bancada. Em conversas conosco, o Pedro Lucas disse que gostaria de assumir o ministério em outro contexto. Eu vejo o governo sem maioria sólida, sem impor a sua agenda. O governo perdeu essa capacidade. A saída do PDT enfraquece ainda mais esta base vinculada às pautas tradicionais do PT.

A crise no INSS pode desgastar o governo a ponto de inviabilizar uma tentativa de reeleição de Lula?

Vai depender das investigações. Sabemos que houve desvios, o governo trabalha para fazer as devoluções. Mas as responsabilidades por esses contratos fraudulentos precisam ainda ser esclarecidas. Esse é um tema que dialoga com a vida das pessoas, com os trabalhadores e aposentados.

O que acha da paralisação do Senado, causada pela briga de Alcolumbre com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, por indicações de agências reguladoras? Não é ruim que a Casa fique à mercê dessa disputa?

Eu não acredito que esta desavença pessoal contamine o Senado, as pautas têm andado. Davi é alguém que se notabiliza por cumprir aquilo que diz, mas também exige reciprocidade. O governo precisa cumprir o que promete a ele.

O Globo

 

 

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