quarta-feira, 25 de junho de 2025

Pesquisa da UFRN aponta indícios de fraudes no SUS relacionadas às emendas parlamentares e ao orçamento secreto

 


Uma dissertação de mestrado desenvolvida no Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) apontou indícios de fraudes no Sistema Único de Saúde (SUS) relacionadas ao uso de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares, incluindo as chamadas emendas de relator, conhecidas como “orçamento secreto”. O estudo foi conduzido pelo pesquisador Gleyson José Pinheiro Caldeira Silva e defendido nesta quinta-feira (12), no auditório da Secretaria de Educação a Distância da UFRN (SEDIS/UFRN).

  • A pesquisa, intitulada “Modelagem Computacional da Capacidade Produtiva e do Financiamento da Rede Assistencial do SUS: Uma Análise Baseada em Sistemas de Informação e Inteligência Artificial”, propõe o uso de tecnologias e inteligência artificial para rastrear a aplicação de verbas públicas e detectar irregularidades em procedimentos registrados por municípios.

Um dos pontos de partida do estudo foi a revelação, feita pela revista Piauí em 2022, de uma força-tarefa do Ministério Público para investigar a aplicação de recursos em cerca de 50 municípios do Maranhão. Neles, havia registros de atendimentos hospitalares e ambulatoriais em números muito superiores à capacidade das cidades e sem correspondência com pacientes identificáveis.

Caldeira contou que desenvolveu uma metodologia capaz de identificar supernotificações de procedimentos no SUS e sugeriu uma ferramenta de apoio à auditoria, com foco no combate a fraudes e inconsistências.

“A relevância do nosso estudo é reforçada pela elaboração de um relatório técnico para o Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte, que identificou inconsistências e teve ampla repercussão midiática, demonstrando a aplicabilidade e o impacto direto da nossa pesquisa na saúde pública brasileira”, afirmou.

O relatório técnico citado é fruto de uma cooperação entre o MPF, a UFRN e o Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DenaSUS), e revelou casos de municípios que registraram procedimentos em volume dezenas ou até centenas de vezes maior que o número de habitantes.

De acordo com o procurador da República Fernando Rocha, do MPF/RN, a pesquisa foi fundamental para subsidiar investigações envolvendo a aplicação de verbas da chamada RP9. “Sua expertise foi igualmente valiosa na explicação detalhada do funcionamento dos sistemas digitais do SUS, contribuindo para o entendimento do ecossistema de dados públicos em saúde e fortalecendo a capacidade institucional do MPF de promover o controle social e a responsabilização em políticas públicas”, disse o procurador.

O estudo também se conecta diretamente à atuação da plataforma Fiscaliza RN, criada durante a pandemia de covid-19, a partir de uma parceria entre o MPF/RN e o LAIS/UFRN. A ferramenta foi utilizada para fiscalizar a destinação de recursos federais à saúde e gerar dados para apoiar investigações.

Para Ricardo Valentim, diretor executivo do LAIS e orientador do estudo, a pesquisa é estratégica para fortalecer o controle público e os órgãos de fiscalização. “É um trabalho que contribui para o Sistema Nacional de Auditoria do SUS, para os órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União e os Tribunais de Contas estaduais, para os Ministérios Públicos e para o controle social”, destacou.

O auditor federal do TCU, Célio da Costa Barros, também destacou o papel da pesquisa no combate a fraudes. “A dissertação revela caminhos ao utilizar Inteligência Artificial a favor do controle, e comprova, por meio da arquitetura de Big Data, ser possível direcionar auditorias dentro de um universo de informações como o SUS para inconsistências, fraudes, irregularidades e discrepâncias”, afirmou.

A importância do relatório gerado pela pesquisa foi evidenciada ainda em uma reportagem publicada no portal G1, com base nos dados produzidos durante a dissertação. “A reportagem demonstra a repercussão midiática e a aplicabilidade prática dos nossos resultados sobre temas como o ‘mau uso de verbas federais na saúde’, que se alinham às discussões sobre o ‘Orçamento Secreto’ e as fraudes no SUS levantadas pela Revista Piauí”, finalizou Gleyson Caldeira.

Projeto FiscalizaSUS

A dissertação integra o projeto FiscalizaSUS, desenvolvido pelo LAIS/UFRN em parceria com o Núcleo Avançado de Inovação Tecnológica (NAVI/IFRN) e o Ministério da Saúde (via DenaSUS). O objetivo do projeto é criar ferramentas tecnológicas e promover pesquisas que aumentem a transparência e a fiscalização sobre os recursos investidos no SUS.

 Portal 96

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