ESTADÃO CONTEÚDO
Agência
de Notícia
Partidos de centro-direita que ocupam ministérios e
outros cargos de destaque no primeiro escalão articulam uma estratégia para
deixar o governo Lula “sangrando” até as eleições. Empenhados em construir uma
candidatura única ao Palácio do Planalto, dirigentes do Centrão flertam com o
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e se movimentam
para montar um bloco de atuação no Congresso que sinalize para a disputa de
2026.
A iniciativa é liderada pelos presidentes do PP,
senador Ciro Nogueira (PI), e do União Brasil, Antônio Rueda. No fim de abril,
os dois partidos se uniram numa federação e, com o casamento, formaram uma
bancada de 109 deputados – a maior da Câmara – e 14 senadores.
Na segunda-feira, 16, mesmo dia em que o presidente
Lula sofreu uma derrota na Câmara ao ver aprovado o requerimento de urgência
contra decreto que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Ciro
procurou os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia
Rossi, para uma conversa reservada.
Ex-ministro da Casa Civil na gestão de Jair
Bolsonaro (PL), Ciro está costurando um acordo para que partidos da base do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) combinem os próximos passos como se
estivessem na oposição.
O movimento político capitaneado pelo Centrão é para
mostrar ao Planalto que o processo de divórcio litigioso está em curso e deve
ser assinado ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Na prática, o sinal de insatisfação dado pela Câmara
ao decidir acelerar a votação destinada a barrar o decreto de Lula que aumenta
alíquotas do IOF não foi apenas por causa do atraso na liberação das emendas
parlamentares.
Desde que pesquisas começaram a indicar a queda da
popularidade do presidente, deputados e senadores dizem que o café de Lula já
esfriou. Em outras palavras: para eles, o PT não representa mais uma
expectativa de poder.
A portas fechadas, Ciro Nogueira avalia que o PP, o
União Brasil, o Republicanos e o MDB também precisam se unir para formar uma
rede de proteção em torno do presidente da Câmara, Hugo Motta (PI). O deputado
é muito ligado ao senador.
Filiado ao Republicanos, a exemplo de Tarcísio,
Motta tem sido pressionado pelo Planalto a ajudar o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, nas articulações para aprovar medidas que aumentam a
arrecadação federal. Na outra ponta, seus pares do Centrão querem ver o governo
nas cordas para derrotar Lula, em 2026.
Após o recesso parlamentar de julho, a ordem é
também investir na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. A
abertura da CPMI, que teve o requerimento de criação lido na terça-feira, 17,
pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), significa mais um
revés para Lula.
O escândalo do desvio de recursos das aposentadorias
do INSS é, atualmente, um dos maiores fatores de desgaste do governo. A fraude
começou em 2019, na gestão de Bolsonaro, mas foi ampliada nos últimos anos.
Inelegível até 2030, Bolsonaro começa a dar sinais
de que pode apoiar uma candidatura de Tarcísio à sucessão de Lula, como mostrou
o Estadão. Nessa aliança, porém, o ex-presidente não abre mão de indicar a
maioria dos candidatos ao Senado.
Réu na ação penal que investiga a tentativa de golpe
no País, em 8 de janeiro de 2023, Bolsonaro sabe que será condenado e,
possivelmente, preso. Diante desse cenário, ele tem dito que só apoiará um
candidato disposto a lhe conceder indulto.
A estratégia de trabalhar também por um Senado com
maioria bolsonarista tem um motivo específico. Sob a acusação de liderar uma
organização criminosa para romper o estado democrático de direito, o ex-capitão
do Exército acha que só com o controle do Senado poderá enquadrar ministros do
STF e até aprovar impeachment de magistrados.
Ciro disse que a conversa com Marcos Pereira e
Baleia Rossi tratou das disputas de 2026. O Republicanos e o MDB avaliam a
possibilidade de formar uma federação e, se fecharem acordo, terão 88 deputados
e 15 senadores. O MDB, no entanto, tem um perfil mais governista.
“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques
estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta
no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos”,
afirmou Ciro.
O senador gostaria de ser vice numa chapa
presidencial. Nega, porém, que a candidatura de Tarcísio já esteja sendo construída
pelo grupo.
“O governador Tarcísio só vai ser candidato à
sucessão de Lula se tiver o apoio do presidente Bolsonaro lá na frente”,
argumentou. “Agora, eu defendo que os nossos partidos escolham o mesmo nome
para podermos estar juntos na campanha”.
Embora Ciro não confirme, as articulações políticas,
empresariais e da chamada “Faria Lima” para que o governador dispute o
Planalto, e não a reeleição, estão avançadas. Neste caso, o plano é que o
secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, concorra ao
governo paulista. Derrite deixou o PL no mês passado e se filiou ao PP.
Aliados de Bolsonaro aguardam, por sua vez, que
Tarcísio faça o movimento contrário: saia do Republicanos e entre no PL. Mas já
avisaram que não vão aceitar chapa pura de PL com PL ou, como diz Lula, “pão
com pão”.
Nas previsões mais otimistas do Centrão velho de
guerra, Michelle e Eduardo Bolsonaro (PL) ficarão mesmo com o Senado. Nada de
candidatura ao Planalto. E Jair, mesmo condenado, ganhará prisão domiciliar depois
de algum tempo.
Se depender desses aliados de ocasião, o prazo de
validade do governo Lula se esgota em seis meses, a partir das festas juninas.
Tudo será feito para que, quando 2026 chegar, o presidente não consiga aprovar
mais nada no Congresso. A não ser, é claro, que seja algum pagamento de fatura
política.
“Eu aprendi uma coisa nessa Casa: cada dia com sua
agonia”, resumiu o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Então,
não adianta pôr a carroça na frente dos bois.”
Enquanto isso, o Congresso vai derrubando vetos
presidenciais a projetos que cortam despesas e aumentando os gastos como se não
houvesse amanhã. Ao que tudo indica, a agonia vai ser grande no ano eleitoral.
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