O Rio Grande do Norte registrou uma das piores taxas
de alfabetização entre os alunos do 2º ano do ensino fundamental no Brasil. De
acordo com os dados da avaliação amostral do Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) 2023, apenas 25,9% das crianças potiguares foram consideradas
alfabetizadas, com uma margem de erro de 5,8 pontos percentuais. O índice
coloca o estado como o segundo pior do país, à frente apenas do Tocantins
(24,3%). A média nacional é de 49,3%.
No recorte estadual, o levantamento aponta ainda que
o Rio Grande do Norte aplicou sua avaliação censitária com uma taxa de
participação de 78,55%, abaixo do mínimo considerado positivo pelo Inep, de
80%. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação do Rio Grande do Norte (Undime/RN) e a Secretaria de
Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC-RN) para esclarecer as razões
dos baixos índices.
A SEEC destacou, em nota, que a alfabetização de
crianças é uma prioridade, mas reforçou que a oferta do Ensino Fundamental –
Anos Iniciais é de responsabilidade majoritária dos municípios. De acordo com
os dados, 84,4% dos estudantes dessa etapa estão matriculados na rede
municipal, enquanto a rede estadual atende 15,5% e a federal, 0,1%. A Undime
não respondeu até o fechamento desta edição.
Gustavo dos Santos Fernandes, mestre em Educação e
especialista em Gestão Escolar, afirma que a posição crítica do estado está
diretamente ligada às desigualdades regionais. “A parte dos estados do Nordeste
vai cair com essa marca negativa. O Nordeste enfrenta desafios muito
significativos quando se trata da estrutura educacional, desde a formação dos
professores até o investimento público e a aprendizagem”, pontua. Ele destaca
ainda que o Rio Grande do Norte possui “péssima estrutura física”, o que,
segundo ele, impacta diretamente os resultados de avaliações como o Saeb.
A ausência de condições adequadas para o processo de
ensino-aprendizagem é também apontada como um fator determinante para o
resultado do Rio Grande do Norte. “Essa estrutura física, de maneira geral,
afeta muito esse resultado. Muitas escolas têm salas pequenas, que não
comportam a quantidade de alunos, e há uma grande dificuldade no suporte às
crianças com deficiência. A desnutrição também é um fator marcante, porque
afeta o desenvolvimento cognitivo. Muitas vezes, essas crianças chegam nas
escolas com fome”, relata.
De acordo com os dados da avaliação amostral do Saeb
2023, o Ceará lidera o ranking nacional de alfabetização na rede pública entre
os alunos do 2º ano do ensino fundamental, com 72,1% dos estudantes
considerados alfabetizados. Na sequência aparecem Espírito Santo (63,7%), Minas
Gerais (63,0%), Rio Grande do Sul (62,4%) e Santa Catarina (61,8%).
Com o contexto do RN ocupando a 2ª colocação,
Gustavo aponta que a valorização docente também é uma preocupação. “O professor
desmotivado, que não tem seu salário pago de forma adequada conforme a lei do
piso, não está motivado para preparar esse aluno. Quando o piso não é discutido
ou implantado, o que o professor faz é greve. E quando não tem aula, o aluno
não aprende”, enfatiza.
Para reverter os baixos índices de alfabetização
registrados no Rio Grande do Norte, o especialista destaca que é urgente
investir na formação continuada dos professores, especialmente para que
compreendam as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê a
alfabetização até o 2º ano do ensino fundamental. Além disso, ele ressalta a
importância de melhorias estruturais nas escolas.
Ao todo a pesquisa do Saeb 2023 tinha a previsão de 31.748 alunos no Rio Grande
do Norte, mas somente 24.937 participaram. Já na avaliação amostral, que trouxe
o resultado da 2ª menor taxa de alfabetização ao RN, abrangeu 27 escolas, 38
turmas e 674 alunos. Os dados, no entanto, não detalham quantas delas são
estaduais ou municipais.
Apesar da participação quantitativa menor, o Governo
do Estado afirmou que mantém iniciativas para garantir o direito à
alfabetização, como a Política Territorial de Alfabetização de Crianças do RN
(Pró-Alfa RN). O programa, alinhado ao Compromisso Nacional Criança
Alfabetizada (CNCA), do Governo Federal, foi construído em parceria com a União
dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-RN) e o Ministério da Educação
(MEC).
O Pró-Alfa RN tem como objetivo consolidar a
alfabetização até o 2º ano do Ensino Fundamental e recuperar defasagens até o
5º ano, por meio de colaboração entre Estado, municípios, escolas e famílias. A
SEEC ressaltou que o sucesso da política depende da atuação conjunta de todos
os entes e reafirmou seu compromisso para que “nenhuma criança potiguar fique
para trás”.
Polêmica dos dados
O debate sobre os números da alfabetização no Brasil ganhou repercussão
nacional após o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) ter adiado por oito meses a divulgação dos dados do 2º ano do
ensino fundamental no Saeb. O Inep justificou a demora alegando dificuldades na
definição de padrões de desempenho e limitações na amostra.
Enquanto isso, o Ministério da Educação (MEC)
celebrou, em maio de 2024, os resultados do programa Criança Alfabetizada, que
prometia garantir o direito à alfabetização das crianças brasileiras até o
final do 2º ano do ensino fundamental. Os dados apontaram 56% de alunos
alfabetizados. No entanto, o índice é incompatível com os 49% apontados pela
amostra nacional do Saeb.
A diferença entre os dois indicadores ficou evidente
em estados como o Maranhão, onde o Criança Alfabetizada apontou 56% de
alfabetizados, enquanto o Saeb mostrou apenas 31%, com margem de erro de 5,9
pontos percentuais. No Rio Grande do Norte, o Criança Alfabetizada apontava
também 56%.
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