O jornal inglês Financial
Times publicou nesta terça-feira (1º) uma reportagem afirmando que o julgamento
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado pode ser
um risco para o cenário político do Brasil. A reportagem faz um resumo do
processo que Bolsonaro enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) e diz ainda
que imagem da Suprema Corte brasileira foi “prejudicada por suas decisões
contenciosas”.
A publicação, que ocupou
uma página inteira na versão impressa do veículo, ouviu o ex-presidente sobre o
processo que ele enfrenta no STF. Jair Bolsonaro e outros sete acusados serão
julgados pela Primeira Turma do Corte por tentativa de golpe de Estado. O
veículo, contudo, ressalta que o julgamento do ex-presidente pode “elevar seu
perfil político — e até mesmo transformá-lo em um mártir”.
“A ameaça à democracia em
si se tornou uma bola de futebol política”, disse Christopher da Cunha Bueno
Garman, diretor administrativo para as Américas da consultoria de risco
político Eurasia Group, ao Financial Times. De acordo com o especialista, ainda
que Bolsonaro seja condenado, sua popularidade não será abalada. Ele também o
compara com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O veículo inglês ainda
descreve o ministro Alexandre de Moraes, do STF, como uma “figura odiada pelos
conservadores” devido às suas decisões durante a campanha eleitoral de 2022
para remover anúncios e postagens de mídia social de candidatos de direita, sob
a justificativa de que as informações eram falsas – situação que, segundo o
jornal, contribuiu para o discurso de perseguição adotado por Bolsonaro.
Além disso, o jornal
pontua que, ainda que existam especialistas que concordem que Bolsonaro deve
ser processado, alguns aspectos das ações do STF são vistos como
“desconfortáveis”. Ao Financial Times, o professor de direito penal da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro Davi Tangerino afirma que a conexão de
Bolsonaro com os atos do 8 de janeiro, em que dezenas de pessoas foram presas,
parecia “muito fraca” na denúncia.
Financial Times diz que
imagem do STF está “prejudicada”
Sobre a atuação do STF, o veículo diz que o Brasil é tido como uma exceção na
condução de processos no Judiciário. Isso porque os juízes da Suprema Corte
“podem iniciar e conduzir suas próprias investigações criminais se acreditarem
que há uma ameaça à própria instituição”.
Na última semana, durante
julgamento da Primeira Turma do STF para decidir se acataria ou não a denúncia
da Procuradoria Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e seus aliados, as
defesas dos acusados apresentaram questionamentos sobre a condução do processo.
Foi levado para votação a alegação de que Moraes não poderia julgar a denúncia
por ter sido um dos citados no suposto plano de golpe.
O questionamento foi
negado pelo colegiado e ficou decidido que Moraes segue na relatoria do caso.
Neste mesmo aspecto, o jornal também pontua a tentativa dos acusados de levarem
o julgamento para o plenário do STF, já que a Primeira Turma, onde o caso é
julgado, é tida como “tendenciosa” por Bolsonaro.
Além de ter Moraes como
parte envolvida na denúncia, ainda se somam às acusações de parcialidade o fato
de que o ex-advogado pessoal de Lula Cristiano Zanin e seu ex-ministro da
Justiça Flávio Dino integram o colegiado que julga os acusados de tentativa de
golpe de Estado.
O jornal pontua que todas
essas alegações contribuíram para prejudicar a imagem do STF em relação à
população brasileira. Entre as razões, o Financial Times também cita o caso da
cabeleireira Débora Rodrigues, para quem Moraes pediu uma pena de 14 anos de
prisão por ter feito pichações com um batom na estátua A Liberdade, em frente
ao prédio do STF, durante os atos de 8/1.
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