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sábado, 11 de janeiro de 2025

TANGARAENSES - Editorial O Globo: Posse ilegítima de Maduro exige mais pressão do Brasil



Posse ilegítima de Maduro exige mais pressão do Brasil

Em conjunto com a comunidade internacional, país precisa reforçar a defesa da democracia no continente

A posse de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela nesta sexta-feira confirma seu desprezo pela vontade popular. Diante de derrota humilhante no pleito presidencial de julho do ano passado, escondeu os boletins de urnas, se declarou vencedor e assumiu, sem disfarces, ser um ditador. Não satisfeito em roubar as eleições, mandou a Justiça prender Edmundo González, o oposicionista consagrado pelo voto que acabou saindo do país. De lá para cá, a repressão sistemática se manteve intacta. Apoiado pelas Forças Armadas, Maduro desistiu de parecer legítimo.

Como lidar com um vizinho desse tipo é um dos maiores problemas da política externa. A embaixadora brasileira em Caracas, Glivânia Oliveira, esteve na cerimônia de posse na presença de diplomatas de México, Colômbia e representantes de ditaduras como Cuba, Rússia e Nicarágua. Estados Unidos e União Europeia não compareceram. Se a participação da embaixadora representar a volta da fracassada política de apaziguamento, o Itamaraty estará cometendo um erro enorme. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o convite, mas comitivas do PT viajaram para a Venezuela. Dois dias depois da defesa da democracia nos eventos do 8 de Janeiro, integrantes do partido festejaram a posse de um tirano.

O caminho a ser seguido pelo Itamaraty deve estar de acordo com os valores da sociedade brasileira. O governo precisa manter a posição de não reconhecer o resultado da farsa eleitoral e apoiar todas as medidas futuras para forçar Maduro a promover uma transição pacífica de poder. É possível que Donald Trump decida abrir mão dos contratos dados a petroleiras americanas na Venezuela para adotar postura mais dura. Caso seja essa a política adotada, a defesa da democracia pode ser uma das áreas de cooperação entre o novo governo americano e o brasileiro.

 Apesar da necessidade de aumentar a pressão sobre o regime ditatorial, o rompimento das relações não é desejável. Brasil e Venezuela dividem uma fronteira longa e porosa numa região com ação do crime e do garimpo. A preservação da floresta, a proteção de indígenas e o fluxo de refugiados dependem de canais de comunicação e cooperação mínima. Será desafiador equilibrar todos esses objetivos com um pária sem escrúpulo algum.

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Nas relações com Maduro, o presidente Lula passou por uma tortuosa curva de aprendizado. As tentativas de manter um bom relacionamento contaram com episódios constrangedores. Em 2023, o venezuelano foi recebido com honras em Brasília. Meses depois, Lula afirmou em entrevista que a Venezuela tinha mais eleições que o Brasil e chegou ao absurdo de tentar relativizar o conceito de democracia.

A mudança de tratamento foi tardia, mas aconteceu. Nas vésperas das eleições na Venezuela, o presidente se disse assustado com as declarações de Maduro de que, se perdesse o pleito, haveria “um banho de sangue”. Apesar de o PT ter descrito o roubo eleitoral escancarado como uma “jornada democrática e soberana”, Lula não chancelou a fraude. Junto com os governos da Colômbia e do México, tentou, sem sucesso, uma saída negociada. Maduro nem fingiu que daria ouvidos. É hora de redobrar a coação. Maduro parece temer a reimposição de sanções. No ano passado, a Venezuela aprovou uma lei que prevê 25 anos de prisão para quem defender tais medidas.

Editorial O Globo

 

 

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