A não incorporação de forma efetiva dos riscos das
mudanças climáticas na gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas do
semiárido brasileiro, torna essa região suscetível a ser mais impactada por
secas e escassez hídrica. Essa é a avaliação da pesquisa realizada por
Rylanneive Leonardo Pontes Teixeira, Eric Mateus Soares Dias e Flávia
Alessandra Souza de Andrade, pesquisadores integrantes do Laboratório
Interdisciplinar Sociedades, Ambientes e Territórios (LISAT/UFRN).
O estudo, que aborda a gestão de bacias
hidrográficas nas regiões semiáridas do Brasil, foi recentemente publicado no
dossiê Desastres e Adaptação, da revista Diálogos Socioambientais, produção do
Grupo de Acompanhamento e Estudos de Governança Ambiental (GovAmb) e do
Laboratório de Planejamento Territorial (LaPlan), vinculado a Universidade
Federal do ABC (UFABC).
Intitulado como A emergência da incorporação das
Mudanças Climáticas na gestão de bacias hidrográficas do Semiárido Nordestino,
o artigo expõe uma análise sobre a implantação de uma agenda voltada para a
adaptação climática no semiárido brasileiro. A observação é voltada, em
especial, às duas principais bacias hidrográficas interestaduais da região: Rio
Piancó-Piranhas-Açu e Rio São Francisco. O primeiro é responsável por banhar os
estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Já o Rio São Francisco,
considerado o mais importante da Região, se estende pelos estados de Minas
Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
A escassez hídrica é uma difícil realidade
enfrentada em todo o planeta. Em regiões em que existe uma baixa precipitação
pluviométrica, o problema se agrava de forma mais profunda, como é o caso do
semiárido, que ocupa mais de 85% da área nordestina, além de municípios de
Minas Gerais. A dificuldade enfrentada pelos habitantes das áreas fragilizadas
pela falta de planejamento hídrico é palpável, revelando-se através da
vulnerabilidade econômica, social e ambiental.
Mesmo com a urgência que o tema carrega, o artigo
expõe uma negligência quanto a efetividade da incorporação das mudanças
climáticas na gestão de recursos hídricos. Em uma análise dos Planos de
Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas do semiárido brasileiro, os
pesquisadores constataram que há pouca abordagem com relação às mudanças
climáticas. Apesar da citação nos planos analisados, a proposta não apresenta
meios efetivos de uma agenda de adaptação climática.
Os autores salientam que “a gestão nas bacias
avançou consideravelmente, possibilitando uma melhor convivência com o clima
semiárido, suas variabilidades e com as secas. Contudo, as mudanças climáticas
acrescentam novos riscos, portanto, a incorporação desses riscos e o
planejamento imediato de estratégias de adaptação às mudanças climáticas devem
ser um aspecto central desses planos e da gestão”.
A carência de uma estratégia administrativa que
possa agrupar o preparo para as mudanças climáticas afeta diretamente a
segurança hídrica, acarretando em uma maior probabilidade de desastres
naturais, com cada vez mais impactos nos períodos de seca intensificados. Além
disso, impacta imediatamente alguns grupos, como é o caso das populações
rurais.
“A escassez hídrica leva à perda de produção e
limita a capacidade de subsistência dessas comunidades, aumentando a
vulnerabilidade social e econômica”, acrescentam os pesquisadores ao falar
sobre agricultura familiar e pecuária.
Quanto às bacias Rio Piancó-Piranhas-Açu e Rio São
Francisco, a pesquisa expõe uma crescente necessidade de proteção ambiental que
assegure a sustentabilidade, como o desenvolvimento de ações de saneamento
básico, recuperação de áreas de mata ciliar e nascentes e a priorização de
estratégias para melhorar a qualidade da água e diminuir os impactos na zona
rural. “Se não houver uma resposta eficiente para minimizar esses riscos, a
escassez de água se tornará mais crítica, afetando diretamente a segurança
hídrica e a sustentabilidade ambiental das principais bacias”, afirmam os
pesquisadores.
Durante o desenvolvimento do estudo, os
pesquisadores Rylanneive Leonardo Pontes Teixeira, formado em Gestão de
Políticas Públicas (IPP/UFRN) e doutor em Estudos Urbanos e Regionais
(PPEUR/UFRN), Eric Mateus Soares Dias, aluno do doutorado no Programa de
Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais (PPEUR/UFRN) e Flávia Alessandra
Souza de Andrade, graduanda de Gestão de Políticas Públicas (IPP/UFRN),
receberam apoio do Laboratório Interdisciplinar Sociedades, Ambientes e
Territórios (LISAT), vinculado ao Instituto de Políticas Públicas (IPP) da
UFRN.
Portal da UFRN
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