Tribuna do Norte
O ministro da Justiça Flávio Dino se tornou alvo de
um grupo de 45 deputados da oposição que irão protocolar, na Câmara Federal,
mais um pedido de impeachment. A reação ocorre após duas visitas da “dama do
tráfico amazonense” em sua pasta. Luciane Barbosa Farias é esposa de Clemilson
dos Santos Farias, líder do Comando Vermelho mais conhecido como Tio Patinhas.
O caso foi inicialmente divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
Entre os parlamentares, há 12 filiados a partidos da
base do governo Lula (PT): União Brasil (5), PSD (1), Republicanos (3), PP (1)
e MDB (2) que, juntos, lideram dez ministérios. Apesar de serem de siglas da
base do governo, este grupo se identifica com a oposição e raramente vota com o
Planalto.
Os deputados afirmam que a visita de pessoas
associadas ao crime e ao tráfico em um órgão do governo federal é inadmissível.
Luciane Barbosa de Farias chegou a ser condenada a dez anos de prisão por ter
desempenhado, de acordo com o Ministério Público, um papel essencial na
ocultação de valores do tráfico. Enquanto o marido coordenava as negociações do
crime, Luciane é acusada de ter tido o papel de acobertar, o que fazia
adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando empresas laranjas.
Entre elas, a Associação Liberdade do Amazonas, que
foi fundada no ano passado com o intuito de defender os direitos dos presos.
Contudo, um inquérito sigiloso da Polícia Civil do Amazonas alega que a ONG
teria sido criada pelos criminosos para atender suas próprias necessidades e
que o papel real seria “perpetuar a existência da facção criminosa e obter
capital político para negociações com o Estado”.
Entre os 33 deputados que integram a oposição, a
maior parte (28) é do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Facção atua em 13 Estados e no DF
Não existe um lugar no Brasil em que não haja a
presença e a atuação de organizações criminosas. A afirmação é do Fórum
Brasileiro da Segurança Pública, que mapeou a presença de 53 grupos no País. É
este levantamento sobre a crise em que se transformou a Segurança Pública no
Brasil que mostra o tamanho da mais antiga e segunda maior organização
criminosa do País: o Comando Vermelho (CV).
A facção voltou a ganhar destaque no debate público nesta
semana, depois que o Estadão revelou que Luciane Barbosa, mulher de um dos
líderes do CV, foi recebida duas vezes Ministério da Justiça de Flávio Dino.
Mas a atuação da organização criminosa já tem mais de 40 anos. A história da
facção carioca é conhecida: nasceu no fim dos anos 1970 no antigo presídio da
Ilha Grande.
Hoje, de acordo com mapa traçado pelo Grupo de
Estudos de Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a
facção domina 24,2% dos bairros do Rio, ficando atrás do poder das milícias,
que controlam 25,5% dos bairros cariocas, enquanto o TCP detém o domínio de
8,1% e a ADA 1.9%.
Recentemente, o grupo se uniu a dissidentes das
milícias da zona oeste para expandir seu domínio por áreas como a comunidade
Gardênia Azul, sob o comando do traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o
Abelha, apontado como o principal líder da facção em liberdade.
Documentos contrariam versão do
Ministério
Como mostrou o Estadão, Luciane e sua equipe da
Liberdade do Amazonas estiveram em ao menos duas ocasiões no Ministério da
Justiça. No dia 19 de março, foi recebida por Elias Vaz; e no dia 02 de maio,
esteve com o titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) do
MJ, Rafael Velasco. Todas as ações do governo para a área prisional passam pela
secretaria de Velasco, que já trabalhava com este tema nos governos do ministro
da Justiça, Flávio Dino, no Maranhão. Na visita de maio, Luciane também se
reuniu com Paula Cristina da Silva Godoy, da Ouvidoria Nacional de Políticas
Penais (Onasp) e Sandro Abel Sousa Barradas, que é Diretor de Inteligência
Penitenciária da Senappen.
“Informo que, no dia 14 de março, recebi solicitação
de audiência por parte da Sra. Janira Rocha, ex-deputada estadual no Rio de
Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da
ANACRIM-RJ”, escreveu Vaz no X (antigo Twitter).
Explicação similar foi usada pelo Ministério da
Justiça; o pedido de audiência foi feito pela Anacrim, da qual Janira Rocha faz
parte. “A agenda na Senappen e da Anacrim aconteceu no dia 2 de maio, quando
foram apresentadas reivindicações da Anacrim”, diz a nota. Ainda segundo o
Ministério, era “impossível” ao Setor de Inteligência da Senappen saber a
“situação da acompanhante, pois a solicitante era uma entidade.

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